Primeiro transplante de coração infantil no interior paulista é realizado em S. José do Rio Preto

Até então, procedimento que exige estrutura física e equipe médica especializada só era feito em grandes capitais

ter, 02/03/2010 - 14h00 | Do Portal do Governo

O Hospital de Base (HB) da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no noroeste paulista, salva a vida de um bebê com o primeiro transplante de coração de criança realizado numa cidade do interior do País. A operação que durou seis horas salvou a vida de Paulo Cezar Dutra Rocha, de um ano e oito meses e que pesa 11 quilos. A criança sofria de doença cardíaca congênita (chamada de miocárdio não compactado) que fazia o coração aumentar de tamanho e perder a força ao contrair e bombear o sangue.

Durante quatro meses, a criança ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cardiológica pediátrica do HB à espera de uma nova oportunidade de vida. O coração foi doado pela família de Gabrielly Pivante, de um ano e três meses, e dez quilos, vítima de atropelamento. Ela teve morte cerebral após uma semana de internação na UTI pediátrica.

O transplante ocorreu no dia 16 de fevereiro. Após uma semana da cirurgia e vários exames realizados, o chefe do serviço de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica do hospital, o médico Ulisses Alexandre Croti, informa que a criança passa bem, com ecocardiograma e demais exames normais: “Agora devemos nos preocupar em evitar a rejeição do novo coração. Para isso, é necessário controle rigoroso da medicação e acompanhamento do paciente de perto”.

Referência nacional 

O médico informa que até então todos os transplantes infantis de coração só eram feitos nas capitais e que agora surge nova opção de local para atendimento de crianças com esse tipo de necessidade. Ulisses é professor-doutor na área e trabalha há mais de 16 anos com cirurgia cardíaca, sendo 12 deles dedicados especialmente ao coração de crianças. Estagiou e trabalhou durante quatro anos no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor – FMUSP).

Ele observa que em grandes cidades do interior, como Campinas e Ribeirão Preto, também há importantes centros para tratamento cardíaco infantil, porém desconhece a realização de transplante em criança com pouca idade.

Em 2002, o professor foi convidado a criar e chefiar uma equipe de cardiologia e cirurgia cardíaca em crianças no Hospital de Base. De janeiro de 2002 a fevereiro de 2010, foram realizadas mais de duas mil operações em crianças com problemas no coração. Assim, a unidade tornou-se referência nacional e atualmente recebe pacientes de diversos Estados do Brasil. “Estou orgulhoso do nosso trabalho que agora é coroado com essa vitória. Temos estrutura física, equipamentos e equipe médica apropriados ao transplante cardíaco infantil”, festeja o médico.

Peso compatível

A solidariedade da família doadora permitiu o transplante e a chance de vida do pequeno Paulo. “É um gesto de nobreza num momento bastante difícil”, afirma o cirurgião. A mãe do bebê doador, Gabrielly, afirma que no início resistiu à doação, mas emocionou-se ao saber que o coração da filha continuaria vivo em outra criança.

Para que o HB realize outros transplantes cardíacos infantis, o médico pede que as famílias pensem sobre a importância do ato voluntário de doação em casos de morte cerebral de crianças por afogamento, atropelamento, entre outros acidentes. “Infelizmente, ainda hoje é raro os pais se manifestarem e aceitarem a doação de órgãos”.

Muitos fatores são analisados antes de realizar esse procedimento cirúrgico, entre eles compatibilidade sanguínea receptor/doador e peso (doador deve pesar até três vezes mais que o receptor). Essa exigência necessária também dificulta o transplante dos pequenos pacientes: “Se fosse fígado, por exemplo, uma criança poderia receber pequena porção do órgão até de um adulto”, afirma o médico Luiz Augusto.

Segundo a Central de Transplantes da Secretaria Estadual da Saúde, em qualquer lugar do Estado existe dificuldade de doação de coração infantil. O órgão é doado quando ocorre morte encefálica, principalmente por trauma craniano e acidente vascular cerebral, situações pouco frequentes entre crianças. “No Hospital de Rio Preto e no interior paulista, este é o primeiro caso realizado de transplante de coração infantil”, ressalta.

Na lista de espera da Central de Transplantes do dia 25 de fevereiro, Pereira relata que existe uma criança (entre um e cinco anos) aguardando o recebimento de coração e duas com idade de seis e dez anos. “A maioria desses pequenos pacientes é atendida no InCor. Outros hospitais do Estado especializados em transplante atendem basicamente adultos”, informa.

Da Agência Imprensa Oficial