Mulheres de assentamento transformam doceria em agroindústria

Procura pelos produtos é tão grande que produção de frutas local não tem sido suficiente para atender a demanda

sáb, 28/07/2007 - 14h20 | Do Portal do Governo

A fábrica de doces do Assentamento Reunidas, na cidade de Penápolis, interior de São Paulo, funciona há sete anos. Fez tanto sucesso que entrou em crise, mas uma crise feliz. A colheita de abóboras não é mais suficiente para produzir todo o doce encomendado. “É a primeira vez que falta esse fruto aqui no assentamento. Tivemos de comprar na região de Araraquara para entregar a tempo as encomendas de doces e geléias”, comemora Bernadete Silva Callegari, uma das idealizadoras do empreendimento.

Formavam um grupo de 24 mulheres resolutas quando, em 1998, arregaçaram as mangas para abrir nova fonte de renda para o assentamento. A idéia era aproveitar tudo da produção agrícola que não era vendido – acerola, mandioca, milho, abóbora – na fabricação de doces, conservas, geléias e pães caseiros, sem usar conservantes químicos. Agora são apenas quatro: Bernadete, Erenice, Mara e Clarinda, nomes dos quais foi tirada a logomarca que alçou a outrora acanhada doçaria doméstica a mais ambiciosa condição de agroindústria: Bemacla.

“No início, íamos de casa em casa vendendo nossos produtos. Depois entregávamos em feiras, padarias, açougues, em consignação. A procura foi crescendo. Tínhamos encomendas em Campinas, Penápolis e em outras cidades próximas. Participamos de vários eventos sobre reforma agrária, vendendo conservas em um boxe que a prefeitura de Promissão nos cedeu”, lembra Bernadete.

Em visita ao interior paulista, no mês passado, o diretor-executivo do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Gustavo Ungaro, elogiou o trabalho: “Constatei uma produção positiva dos assentados naquela região. Eles avançaram bastante, viabilizando espaço físico adequado, em dimensões significativas para ter boa produção de qualidade e higiene, com alguns requisitos que facilitam a comercialização. É uma iniciativa merecedora de apoio e reconhecimento”.

Higiene e água clorada – Bernadete e suas companheiras começaram a construir a fábrica com recursos próprios. Alguns anos depois, o espaço de apenas 32 metros quadrados foi ampliado, com o apoio da prefeitura, de empresas locais e do Itesp, que investiu R$ 80 mil em material de construção para a conclusão da obra e garantiu a assistência técnico-jurídica.

Bastaram cinco meses para a Bemacla entrar em condições de funcionamento verdadeiramente empresariais. A cozinha industrial está montada, os utensílios para a preparação e equipamentos de refrigeração estão disponíveis, a água do poço é clorada e tratada, a edificação dispõe de bom espaço. São 255 metros quadrados de área construída em 3 mil metros quadrados de terreno alambrado. Os produtos são acoplados em embalagens seguras, com rótulos ostentado prazos de validade, tudo conforme a legislação vigente. O processo de orientação sobre laticínios e análise da água é inspecionado pelo Serviço de Inspeção Federal, registrado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. 

De doceiras a empresárias  – A partir de então, as quatro doceiras se tornaram definitivamente empresárias. Com financiamento da Nossa Caixa, compraram equipamento de laboratório para análise do leite e foram assumindo compromissos. Ninguém leva dinheiro para casa. O lucro da produção e comercialização é investido na própria indústria, para pagamento de dívidas, taxas da Cetesb e encargos variados.

Toda matéria-prima não cultivada no Reunidas é comprada em outros assentamentos. A comunicação com indústrias interessadas em adquirir os produtos é feita diretamente por elas. A equipe mantém contrato com uma usina de açúcar e álcool para entrega mensal de 2,6 mil unidades de doce de abóbora, servido como sobremesa aos empregados. Um frigorífico encomendou 1,2 mil quilos de doces em pasta, de morango, ameixa, goiaba e banana, para servir a 5 mil empregados. “É a primeira vez que conseguimos reembolsar alguns reais, com a quitação da dívida do depósito”, contenta-se Bernadete.

Os produtos também são vendidos em feiras realizadas em todo o Estado. O próximo passo da agroindústria Bemacla é comercializar doces para a merenda das creches municipais. Em agosto, 1,7 mil crianças estarão se deliciando com essas gostosuras. 

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Eleta Maciel

Da Imprensa Oficial