Microbacias II promove benefícios para comunidades quilombolas

Projeto conduzido pelo Governo do Estado valoriza tradições e estimula produção agrícola integrada ao meio ambiente

ter, 19/06/2018 - 11h04 | Do Portal do Governo

Em comemoração aos 51 anos de existência, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, realiza na próxima quarta-feira (20) o Encontro de Comunidades Quilombolas, na cidade de Campinas, no interior paulista.

Gratuita, a programação engloba um dia inteiro de depoimentos, apresentação de vídeos de resultados, debates, homenagens, apresentações culturais, exposição e comercialização de produtos das comunidades quilombolas.

Para valorizar as tradições e a memória cultural, estimular a integração da produção agrícola com o meio ambiente e fomentar o desenvolvimento segundo os valores comunitários, a Cati atendeu às salvaguardas sociais do Banco Mundial e inseriu, no ano de 2011, as comunidades remanescentes de quilombo no Projeto Microbacias II.

As ações completam sete anos e são realizadas em parceria com a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp). A estratégia é de construção participativa de Planos de Etnodesenvolvimento e de Projetos Comunitários, com 25 comunidades beneficiadas, a maior parte no Vale do Ribeira, além de mais R$ 9 milhões investidos.

Benefícios

No encontro, que integrará as festividades de aniversário, o objetivo da Cati e das entidades parceiras na execução do Microbacias II será mostrar ao público as ações realizadas nas comunidades envolvidas e os benefícios conquistados com os recursos investidos. Por essa razão, a programação contará com uma série de atividades que divulgam e auxiliam no desenvolvimento do programa.

Com os recursos disponibilizados pelo projeto, as comunidades quilombolas adquiriram equipamentos e máquinas diversos, veículos utilitários, que tanto são usados para escoamento da produção agrícola como para transporte de pessoas em áreas distantes, além de barcos e motores que são empregados nas áreas com acesso apenas por rio ou mar, entre outros.

Nilso Tavares da Costa, coordenador da Associação Remanescente de Quilombo da Poça, que congrega 61 famílias, no município de Eldorado, destaca a distribuição dessa receita via projeto. “Com esses recursos, adquirimos um veículo utilitário que tem sido muito útil a toda a comunidade, na área de produção e para o transporte de pessoas. Também compramos um trator com carreta e uma câmara de climatização para amadurecimento da banana, que estão mudando a nossa relação com o mercado”, ressalta.

“Além de não depender apenas dos atravessadores e de ter que pagar caro por hora/máquina, podemos assegurar a qualidade de nossa banana, principal exploração agrícola e fonte de renda da comunidade, que é comercializada principalmente para a merenda escolar. Esses benefícios têm mudado a vida na comunidade e incentivado os mais jovens a permanecer aqui, apontando para um futuro melhor”, acrescenta.

Balanço

O balanço das ações do projeto junto às comunidades pode ser medido não apenas pelos números, mas também por relatos de quem teve a esperança renovada, como a abertura de novas fronteiras para geração de renda e manutenção das novas gerações na comunidade, agregação de valor à produção e inclusão social.

As comunidades quilombolas têm avaliado positivamente o desenvolvimento do Microbacias II no desafio de desenvolver uma extensão rural voltada a elas, enfatizando a necessidade da organização das entidades, diversificação produtiva, visando à segurança alimentar e à geração de renda para esses grupos específicos de agricultores familiares, respeitando suas características culturais.

“O Microbacias II está nos proporcionando a concretização de um sonho, pois há muito desejávamos ter um local adequado para nossas reuniões, festejos e comunhão. Durante anos, tínhamos que subir o morro perto das casas, com madeiras e lonas, para montar um verdadeiro acampamento para nos encontrarmos como comunidade”, explica a presidente da Associação do Quilombo do Engenho, município de Eldorado, Vera Lúcia de Souza Rodrigues.

“Hoje, ao olharmos para toda a infraestrutura do nosso recém-construído centro comunitário, as lágrimas vêm aos olhos, mas agora de felicidade. Além disso, os recursos também foram investidos na renovação da canalização de água para as casas e para a produção agrícola”, completa Vera Lúcia de Souza Rodrigues.

Das 33 áreas quilombolas reconhecidas em terras paulistas, 26 estão no Vale do Ribeira. No caso da comunidade Peropava, localizada no município de Registro, o reconhecimento saiu em 2011, depois de seis anos de estudos coordenados pelo Itesp. De tudo o que eles produzem, a farinha de mandioca talvez seja o alimento mais antigo. “É o sustento da família. Sempre foi e tem que continuar sendo a farinha”, conta a quilombola Maria Regina da Silva Cabral.

Maria Regina e o marido, José Cabral, produzem cerca de 300 quilos de farinha por semana. Eles apontam as mudanças que vieram com a oficialização do quilombo. “A gente vivia com pouca renda, agora melhorou a renda. Nós não tínhamos ônibus, íamos a pé para a cidade. Agora tem ônibus todo dia”, diz Maria Regina. “Nós morávamos em casa de sapê. Agora a casa é de alvenaria. Hoje tem móveis, televisão, antena e cama”, revela José Cabral. Até pouco tempo, os produtos da comunidade eram trocados como no sistema de escambo.