Mais proteção à fauna paulista

Ibama transfere à Secretaria do Meio Ambiente a responsabilidade de cuidar de animais silvestres apreendidos ou resgatados no Estado

qui, 11/10/2012 - 10h32 | Do Portal do Governo

As ararinhas-azuis Blue e Jade, personagens do filme Rio, ilustram bem a problemática da fauna brasileira. Vítimas preferenciais do tráfico de animal silvestre, as aves lideram o ranking de contrabando (81% das apreensões) – as mais apreendidas são o trinca-ferro, coleirinho, pássaro-preto, canário, galo-da-campina e papagaio. Em seguida vêm répteis e mamíferos, especialmente pequenos primatas (macaco-prego, sagui e mico).

Muitas espécies deixaram de existir na natureza, como é o caso da ararinha-azul, por excesso de caça motivada pelo comércio ilegal. Por ano, a Polícia Ambiental do Estado de São Paulo apreende ou resgata 30 mil animais silvestres. O Brasil é o segundo país do mundo em número de espécie de aves (1.832), mas lidera em número de espécies ameaçadas (152).

O número de apreensão diária representa o plantel do Zoológico de São Paulo (3,4 mil animais), compara Vincent Kurt Lo, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ao traçar o panorama atual da gestão da fauna, durante o 1º Encontro Estadual de Destinação de Fauna Silvestre, ocorrido na sede da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, responsável pelo evento. Lembra que está na Constituição Federal a proteção da fauna brasileira.

O número de resgate chegará a 40 mil, informa o comandante da Polícia Militar Ambiental, o coronel Milton Nomura. “Com estrutura mais satisfatória e fôlego extra da Coordenadoria, o aumento é esperado”, diz. Refere-se ao fato de o Ibama ter repassado a São Paulo a atribuição de acolher esses animais e dar destinação adequada. Desde o dia 5 de outubro, o recém-criado Departamento de Fauna da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (DeFau/CBRN) assumiu o gerenciamento dos Centros de Triagem (Cetas), dos Centros de Reabilitação (Cras) e das Áreas de Soltura e Monitoramento (ASM), instituições responsáveis pela acolhida dos bichos, tratamento e destinação.

Abrir a gaiola

A decisão integra acordo de cooperação entre a União e o Estado para descentralizar a gestão da fauna silvestre paulista, informa a coordenadora da CBRN, Cristina Azevedo. A recuperação de espécies é um dos grandes desafios, comentam biólogos, veterinários e responsáveis pelas Cetas, Cras e ASM que estavam no encontro. O analista ambiental Lo cita exemplos bem-sucedidos de reintrodução de animais ao seu hábitat em vários locais do mundo. “Além de enriquecimento da fauna, há reequilíbrio ecológico como ocorreu na Escócia (lobo) e na Ilha de Galápagos (tartaruga gigante).

No Brasil, a experiência é nova. Há projeto-piloto de reintrodução do papagaio-de-peito-roxo, em Santa Catarina. O filme já citado mostra a dificuldade de recuperar a espécie. Recém-nascido, Blue é contrabandeado para os EUA onde vive em cativeiro doméstico. Jade cresce no Rio de Janeiro num centro de animal. A diferença pode dificultar o acasalamento. A situação se complica quando ambos são roubados antes da experiência.

Locais apropriados

O problema da perda da diversidade precisa ser enfrentado, frisa Paulo Bressan, diretor-presidente da Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Ele explica que ocorre por degradação de hábitat, bioinvasão e captura e coleta ilegal. “Muitos dos animais resgatados ficam condenados à morte pela falta de existência de locais adequados de destinação”, queixa-se Nomura. Após diagnóstico prévio da rede, a diretora do Centro de Destinação de Fauna Silvestre, Daniela Bueno, informa que pouco mais da metade das apreensões chega aos centros de acolhimento. “Não tem para onde levar”.

Daniel de Nogueira, responsável pelo Cetas de Lorena, em São Paulo, diz que a unidade recebe 2,5 mil animais por mês e tem dificuldade de destinação, mesmo após o tratamento do animal vítima de maus–tratos ou doença. Liliane Milanelo, coordenadora do Cras do Parque Ecológico do Tietê, fala da mesma dificuldade. “Ninguém quer macaco-prego, sagui e aves parcialmente mutiladas, mesmo depois de recuperadas”. Em nove anos, recebeu 50 mil animais. Poderia aumentar o número se houvesse destinação para outros locais.

A diretora da divisão de Fauna da Prefeitura de São Paulo, Vilma Clarice Gerald, ouve queixas sobre os custos de manutenção da unidade. “Muitos só se lembram de animal silvestre na cidade quando ouvem o canto de sabiá na madrugada ou sentem o cheiro de gambá”.

Da Agência Imprensa Oficial