Livro CD lançado pela Imprensa Oficial une música, literatura e gravura

Lançamento será feito no sábado, 8, na Pinacoteca do Estado, na capital

qui, 06/12/2007 - 16h12 | Do Portal do Governo

A leitura de três clássicos da literatura universal levou o compositor erudito Eduardo Seincman ao cabo de quase dez anos à composição de três trios para os contos e poema, respectivamente, de Machado de Assis, Jorge Luis Borges e Edgar Allan Poe, que deles tirou sua inspiração. A reunião dessas peças literárias acrescidas do CD gravado resultou no livro que veio sendo trabalhado pelo autor e seus editores durante dois anos. “Sonata do Absoluto – Trios para Borges, Poe e Machado” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Edusp), livro-CD idealizado inicialmente pelo compositor paulista, acabou sendo um livro com acordes de muitas mãos.

A Imprensa Oficial ao tomar conhecimento dos originais, de imediato se deu conta que a qualidade literária e musical do conjunto exigia imagens que tivessem o mesmo impacto da associação proposta por Seincman, surpreendendo tanto pelo clima que emanava dos textos, como por sua carga de silêncio e espanto. Sugeriu então ao co-editor e ao autor, a convocação do artista plástico Evandro Carlos Jardim, para que ilustrasse o livro com suas gravuras, águas-fortes, águas-tintas – de preferência noturnas, fundas, cósmicas – trazendo para suas páginas as sutilezas desses momentos insuspeitados para os quais a música e a literatura conduziriam o leitor.

Nessa regência, Evandro associou-se ao fotógrafo João Musa para juntos desenharem o projeto gráfico do livro, como quem desenha sua partitura.

Assim originou-se esse projeto, nos conta a coordenadora editorial da Imprensa Oficial, Cecília Scharlach.Em edição bilíngüe, o livro apresenta três obras literárias – o conto “O Milagre Secreto”, de Jorge Luis Borges, com tradução de Carlos Nejar; o poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, com tradução de Fernando Pessoa, e o conto “Trio em Lá Menor”, de Machado de Assis, cujos originais são provenientes da ABL (Academia Brasileira de Letras) – apoiados em seus respectivos trios de câmara de autoria de Seincman, gravados em CD encartado ao livro. Os trios são interpretados por Nahim Marun (piano), Luis A. Montanha (clarinete), Marcelo Jaffé (viola) e Robert Suetholz (violoncelo). O lançamento acontece no dia 8 de dezembro, sábado, na Pinacoteca do Estado, das 11 às 14 horas, com apresentação do quarteto musical às 13h00.

Os três relatos têm em comum o universo onírico, repleto de mistérios e imagens. Em “O Milagre Secreto”, escrito por Borges em 1949, os livros são o objeto central da trama e um condenado à morte pede mais um ano de vida para concluir sua obra. As ilustrações de Evandro captam à perfeição a metáfora da fração de segundos que leva uma gota d’água a cair, antes que a sentença do condenado se cumpra.

“O Corvo”, poema de 1845, é uma das mais conhecidas obras em língua inglesa, traduzida por Baudelaire e Mallarmé para o francês, por Machado de Assis e Fernando Pessoa para o português. Pessoa, no entanto, mantém a rima original, resultando uma das melhores traduções para a nossa língua, garantindo a musicalidade indispensável a esse poema que registra a inexorabilidade da morte.

O conto “Trio em Lá Menor”, de 1896, tem como personagem central uma mulher que toca sempre a mesma sonata ao piano e hesita entre dois pretendentes querendo fundi-los em uma única pessoa. Sonha que morre e sua alma é levada para uma estrela dupla, quando uma voz surge do abismo e lhe diz que sua pena é oscilar por toda a eternidade entre dois astros incompletos, ao som da sonata do absoluto. “Com esse desfecho, Machado coloca a indecisão da personagem na esfera do universal. O escritor deixa tudo patético, pois ultrapassa o mundo real”, afirma Seincman, que assinala as relações entre Poe e os dois escritores sul-americanos: “Machado traduziu Poe e Borges tinha o escritor norte-americano como referência importante”.

Cada obra literária tem um correspondente musical. O relato de Borges dialoga com um trio para piano, viola e violoncelo. “Os timbres escuros da viola e do violoncelo, a riqueza da tessitura e os contrastes da sonoridade desses dois instrumentos, recriam de alguma maneira a atmosfera do conto”, analisa o compositor. O Corvo também deu origem a uma música sombria, com piano, viola e violoncelo soando de modo mais compacto, como uma voz, a do homem angustiado do poema.

A narrativa de Machado de Assis tem no piano a voz da protagonista, no clarinete e na viola as vozes dos pretendentes. Os instrumentos apresentam a dramaticidade e a comicidade das três personagens principais do conto. Os três trios usam quatro instrumentos diferentes; a unidade é dada pelo piano, o único presente em todas as peças.

Satisfeito com o resultado editorial, que integrou três linguagens de expressão artística, Seincman prepara-se para levar a experiência aos palcos. Em fevereiro do próximo ano as peças serão interpretadas ao vivo, em um cenário formado por um palco dentro de um palco, com atores dirigidos por Débora Dubois. A perspectiva teatral já está presente na própria definição que o autor deu às peças: o trio para O Milagre Secreto é uma pantomima, a música para O Corvo é um solilóquio e a peça para o relato de Machado de Assis é uma farsa.

A música automaticamente aciona outros sentidos. Textos gerando músicas, e ambos propondo imagens, ecoam nas palavras e sons. Sonata do Absoluto traz à tona este universo de linguagens em constante diálogo.

SERVIÇO

Sonata do Absoluto – Trios para Borges, Poe e Machado

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Edusp

80 páginas

R$ 60,00

 

Da Imprensa Oficial do Estado

(I.P.)