Incor inova ao tratar infecções com proteína identificada em parasita

Na experiência, pesquisadores isolaram Trypanosoma cruzi, responsável pela doença de Chagas

sáb, 22/10/2011 - 17h00 | Do Portal do Governo

Um grupo de cientistas do Instituto do Coração (Incor-USP) observou que portadores de doença de Chagas dificilmente sofrem enfartes. Na experiência, isolaram uma proteína do Trypanosoma cruzi, parasita causador da moléstia e a introduziram em coelhos submetidos à dieta rica em colesterol ruim, conhecido pela sigla LDL. Depois de um tempo, compararam com outros coelhos sem a substância no organismo e concluíram que os níveis de LDL eram muito mais baixos nos primeiros.

A observação nos coelhos indicou ação protetora contra aterosclerose. Reproduzida em seres humanos, a experiência com a proteína chamada transialidase se mostrou eficaz para tratar feridas decorrentes da radioterapia. Outra descoberta: paciente de Chagas sofre aumento contínuo do volume do coração e pode morrer de insuficiência cardíaca. Porém, em muitas autópsias realizadas, os cientistas do Incor notaram que os vasos sanguíneos dos cadáveres estavam em ótimo estado, sem indícios de placas de colesterol.
Para sobreviver dentro do corpo humano, o Trypanosoma cruzi usa a transialidase para obter ácido siálico da membrana das células humanas – o parasita não é capaz de produzi-lo sozinho. Esta substância também é usada como um gancho molecular por bactérias para se prender à parede interna dos vasos. Os pesquisadores do Incor descobriram que as placas de LDL estão muitas vezes associadas às colônias de micoplasmas, gênero de bactérias que complica ainda mais o quadro do paciente.

Mais uso

O tratamento com a transialidase em coelhos que ingeriram dieta rica em colesterol preservou o sistema vascular dos animais e fez com que os danos regredissem nas artérias. Cientistas creem que a transialidase serviu para desprender as bactérias associadas à formação das placas.

Apesar dos resultados promissores na área de cardiologia, a transialidase foi testada nos humanos em outras situações. “Descobrimos que é anti-inflamatório e previne a morte celular”, aponta a pesquisadora Maria de Lourdes Higuchi, responsável pela pesquisa e diretora do Laboratório de Inflamação e Infecção do Incor. “Decidimos testar em feridas causadas por radioterapia”.

O cardiologista José Antonio Ramires, do Incor, um dos apoiadores do estudo, recorda que não há tratamentos eficazes disponíveis no mercado para tratar lesões que costumam acompanhar as radioterapias.

A oncologista clínica Silvia Graziani, do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, concorda. Ela tem testado a solução desenvolvida por Lourdes em pessoas que recebem radioterapia no instituto. “Resultados preliminares mostram que o tempo de cicatrização das feridas diminuiu de um mês até 15 dias”, afirma. As lesões obrigam muitos pacientes a abandonar o tratamento. A esperança é que o uso do medicamento – inclusive antes do surgimento da ferida – aumente a adesão e o sucesso do tratamento.

Da Agência Imprensa Oficial