Pesquisador do Butantan analisa novas espécies de aranha-marrom

Animais foram coletados pelos bioespeleólogos do Laboratório de Estudos Subterrâneos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar)

dom, 03/03/2019 - 10h11 | Do Portal do Governo

Artigo publicado pelo pesquisador Rogério Bertani, do Laboratório Especial de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, identificou e descreveu novas espécies de aranhas encontradas em cavernas de Minas Gerais e Bahia.

As espécies foram coletadas pelos bioespeleólogos do Laboratório de Estudos Subterrâneos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) Maria Elina Bichuette, Diego M. von Schimonsky e Jonas E. Gallão. Entre as novas espécies catalogadas, estão: Loxosceles cardosoi, Loxosceles carinhanha, Loxosceles ericsoni e Loxosceles karstica.

Efeito

As descobertas contribuem para o conhecimento de aranhas de importância para a saúde pública, devido ao efeito de seu veneno em seres humanos. “Toda espécie de Loxosceles pode causar acidentes parecidos, o que também deve ocorrer com as novas espécies. Porém, pelo contato com as pessoas ser muito pequeno, por viverem principalmente em cavernas, os acidentes causados pelas novas espécies devem ser raros ou mesmo inexistentes”, explica Bertani.

“Contudo, à medida que novas regiões do Brasil com baixa densidade populacional começam a ser colonizadas e novas cidades surgem, a população começa a ter contato com esses animais, o que pode se tornar um problema no futuro. Mas não há forma de prever se irão se tornar um problema ou continuarão a viver sem serem notadas pelos habitantes da região”, completa o pesquisador.

As Loxosceles (nome científico da aranha-marrom) são aranhas encontradas sob rochas, debaixo de cascas e buracos de árvores, cavernas, bambuzais e fendas naturais em barrancos. São encontradas também dentro de residências, onde se abrigam atrás de móveis, quadros, portas, frestas nas paredes e lugares escuros, como pilhas de madeira, tijolos e telhas. O efeito de seu veneno varia entre uma leve dor no local, até necrose do tecido picado, feridas grandes e profundas, ou até vermelhidão pelo corpo, febre, mal-estar, náuseas e vômitos.

Com as novas espécies registradas, o Brasil passa a ter oficialmente 18 espécies de aranha-marrom existentes em seu território. Foram catalogadas, até o momento, 134 espécies em todo o mundo.

Antibiótico

O trabalho para decifrar os principais componentes da toxina da aranha-marrom começou em 1994. De acordo com a principal responsável pelo trabalho, a pesquisadora do IB, Denise Tambourgi, a pomada é feita à base de tetraciclina, substância que já é usada como antibiótico. Porém, ela é utilizada numa concentração abaixo.

Como cada Loxosceles produz muito pouco veneno – apenas cerca de 30 microgramas – seria muito difícil conseguir a quantidade necessária para os estudos. Então, os pesquisadores inseriram um gene dela na bactéria Escherichia coli, criando assim uma biofábrica da esfingomielinase D, passando a produzi-la em volume suficiente para as pesquisas.

Ao longo do trabalho, Denise e sua equipe descobriram que o veneno da aranha-marrom pode causar, além de efeitos já conhecidos, reações secundárias, que são desencadeadas principalmente pela proteína esfingomielinase D.

“Costumo dizer que o veneno só dá o ‘start’ e a proteína altera as células. Após o veneno, uma desregulação do organismo acontece, o que leva à produção de proteases – enzimas cuja função é quebrar as ligações químicas de outras proteínas, o que, por sua vez, causa a morte celular e a necrose. São essas proteases, portanto, que devem ser inibidas pela pomada,” afirma.