Capital abriga o 1º Museu Aberto de Arte Urbana

Há interevenções de mais de 50 grafiteirosem 66 colunas na Avenida Cruzeiro do Sul, entre as estações Tietê e Santana do Metrô

sáb, 08/10/2011 - 20h00 | Do Portal do Governo

No lugar da tela, uma enorme coluna de mais de quatro metros; no lugar da cartela de cores, galões de tinta de parede e spray de tons variados; escadas substituem cavaletes; e pequenos desenhos rabiscados num papel amassado se transformam em imensas figuras grafitadas no muro: peixes, pássaros, skates, mico-leão, animais sem cabeça, menina segurando gato, garoto da periferia que sonha ser jogador de futebol, e até uma homenagem a Frida Khalo.

Dessa forma começou a surgir na última semana, um dia de sol escaldante em São Paulo, o 1º Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU), em plena zona norte da capital, considerada berço do grafite na cidade desde os anos 1980 e 1990.

O projeto é antigo, segundo os grafiteiros Binho e Chivitz, curadores do MAAU, há mais de vinte anos promovendo intervenções urbanas na cidade. Agora, vão transformar a movimentada Avenida Cruzeiro do Sul numa galeria a céu aberto, sob as colunas que sustentam o Metrô entre as estações Tietê e Santana.

Até o próximo domingo, 9, quem quiser pode conferir de perto o trabalho desses artistas, entre eles Chivitz, Binho Ribeiro, Akeni, Minhau, Larkone, Onesto, Zezão, Higraff, Presto e Anjo, quase todos moradores da zona norte.

Anjo e sonhos

Presto comenta que a região exerce certo fascínio sobre os grafiteiros, por muitas razões. “A nossa primeira vez foi aqui, a gente conhece tudo como a palma da mão”. Ele não levou esboço, nem nada, só ideias na cabeça. Imagina pintar quadros na parede, desenhos, fotos, televisão, como se fosse um ambiente familiar. “Centenas de pessoas vivem aqui, utilizam esse espaço como abrigo para dormir. É como se morassem dentro de uma casa, então penso reproduzir esse cantinho que pode ser um sonho deles ou um sonho meu”.

Anjo também segue pelo lado dos sonhos. Retrata um menino da periferia que sonha ser jogador de futebol e se tornar estrela. A cabeça do garoto forma uma bola estilizada, destaque para a palavra dreams (sonhos, em inglês) e, logo abaixo, várias estrelinhas no peito indicam a busca pelo sucesso. Do outro lado da coluna, o grafite pretende traduzir em imagens o ditado “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Tem a ver com a persistência e realização dos sonhos, diz o autor.

Não à violência

O grafiteiro e skatista Chivitz, casado com Minhau, uma das poucas representantes femininas no mundo do grafite, esboça um skate no papel, com muitas ladeiras de um lado e de outro. “A zona norte é referência nessa modalidade esportiva, inclusive o campeão mundial de skate, Sérgio Yuppie, nasceu aqui”.

A intenção, segundo Chivitz, é fazer, a cada ano, uma edição diferente, mesmo porque, explica, o grafite sofre com a ação do tempo, desbota e fica feio. “Daqui a um ano, e assim por diante, voltamos com novas ideias, damos outra demão de tinta e outros grafites surgirão”.

É tinta que não acaba mais para dar vida a 33 colunas, frente e verso. Binho quer imprimir ali grafite parecido com outro, de sua autoria, instalado no Sesc Santana, sobre peixes e pássaros. “Só não vale usar temas violentos”. Ao mesmo tempo faz as contas do material utilizado: três mil latas de spray especial, importado, e 40 latas de 18 litros de látex, o suficiente para 2 mil metros quadrados de área pintada.

Binho ressalta, com orgulho, que o projeto, na verdade, começou em abril quando ele e seu grupo foram detidos nesse mesmo local por não possuírem autorização legal para pintar as colunas do Metrô da Avenida Cruzeiro do Sul. “Resolvemos pintar por nossa conta e aí o bicho pegou. Na delegacia, amadurecemos a ideia, rascunhamos um projeto e apresentamos à Secretaria de Estado da Cultura, ao presidente do Metrô e à diretora da SP-Urbanismo. O Paço das Artes entrou na parceria e agora estamos oferecendo a São Paulo o 1º Museu Aberto de Arte Urbana, inédito no Brasil e no mundo”.

Da Agência Imprensa Oficial