Semana do Doador ajuda Fundação Pró-Sangue a repor estoques

Com estoques 60% abaixo da capacidade, instituição ligada à Secretaria da Saúde procura atrair mais doadores regulares

sáb, 25/11/2017 - 8h34 | Do Portal do Governo

Este sábado (25) é o último dia da Semana do Doador de Sangue 2017 (de 21 a 25/11), promovida pela Fundação Pró-Sangue, instituição ligada à Secretaria de Estado da Saúde. Mais do que um apelo para atrair doadores, a campanha que se encerra no Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue é de grande importância para o abastecimento dos estoques dos cinco hemocentros da fundação, quase sempre abaixo da capacidade normal.

A edição deste ano acontece no momento em que o Posto Clínicas, o maior da Fundação Pró-Sangue, apresenta uma queda de 60% nos estoques de sangue, em função da quantidade de fins de semana prolongados pelos feriados, dos últimos quinze dias, que prejudicou o movimento, sempre maior aos sábados, quando as pessoas têm mais tempo para se dedicar ao trabalho voluntário.

Nunca antes os estoques haviam chegado a esse nível, garante a diretora de Relações Exteriores e Intercâmbio da Fundação Pró-Sangue, Susana Lambert. “No máximo”, afirma, “eles chegaram a ficar 40% abaixo da capacidade normal”.

O nível crítico dos estoques provoca reflexos nos hospitais que necessitam de sangue. A cirurgias eletivas (agendadas) são as mais prejudicadas e chegam a ser adiadas em função dos baixos estoques dos hemocentros. As cirurgias de urgência não chegam a ser afetadas, pois quando os níveis estão críticos há uma mobilização dos homocentros que socorrem os demais em rede de intercâmbio que envolve todos os estados.

A Pro-Sangue é o maior hemocentro da América Latina e mantém cinco postos de coleta em São Paulo e municípios vizinhos, dos quais o maior é o Posto Clínicas, localizado no Complexo Hospitalar das Clínicas, no bairro de Cerqueira Cezar. A Fundação serve de referência nacional para os demais estados e recebe frequentemente visitas de outros hemocentros para períodos de treinamento.

A meta dos postos é de arrecadar 450 coletas diárias e 30 doações de plaquetas por dia. A despeito das iniciativas da Fundação é muito difícil alcançar esse nível. As necessidades são gigantescas, principalmente numa cidade como São Paulo.

A Pró-Sangue abastece 100 hospitais de alta complexidade da cidade, entre os quais o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), o Incor (Instituto do Coração), o Itaci (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil), o Hospital Brigadeiro e o Hospital dos Transplantes. Há 17 mil leitos de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo. É muito grande a demanda por sangue pelos hospitais.

Mobilização pela vida
Para atrair doações, a Pró-Sangue se apoia no trabalho de divulgação pelas redes sociais e imprensa, e em campanhas como a Semana do Doador e o Programa de Empresa em Parceria pela Vida, em que a Fundação combina com a empresa a ida e a volta dos funcionários aos hemocentros para coleta de sangue. O transporte fica a cargo da fundação.

Há ainda as campanhas junto aos times de futebol, a exemplo da atividade que será promovida nos dias 1 e 2 de dezembro próximo na Arena Corinthians. E também o apoio de artistas como a atriz Suzy Rêgo e da apresentadora Adriane Galisteu.

Um doador pode salvar até quatro pessoas. Isso porque a cada coleta é possível produzir quatro componentes: hemácias, plaquetas, plasmas e crio precipitado, que podem servir a quatro pacientes diferentes.

Irmãos de sangue
O espaço para doação de sangue do Posto Clínicas da Fundação Pró-Sangue estava praticamente lotado na última sexta-feira (24), penúltimo dia da Semana do Doador de Sangue. Cerca de uma dúzia de pessoas recolhiam sangue, enquanto outras aguardavam a vez de serem chamadas. Na sala de doação de plaquetas, mais sete pessoas faziam suas doações.

O doador de plaquetas, que são utilizadas em transplantes de medula para o tratamento de leucemias, por exemplo, e em outras cirurgias, é ainda mais difícil de ser atraído. A doação consiste em um procedimento denominado Aférese, com a retirada, separação das plaquetas e reposição do sangue ao doador. O procedimento pode durar em média mais de duas horas.

As doações de sangue são utilizadas nas transfusões e o excedente do plasma é empregado no uso industrial para os laboratórios que produzem medicamentos para o tratamento de hemofílicos, que apresentam dificuldades na coagulação do sangue.

A resistência das pessoas em doar sangue também reside em questões culturais. Raramente, as crianças são educadas nas escolas para ser tornarem adultos doadores no futuro. Na maioria das vezes, as pessoas passam a ser doadoras quando alguém da família necessita de uma transfusão, diferente da população de países que passaram por experiências traumáticas como guerras e conflitos.

O hábito de doar sangue pode vir do exemplo dos familiares. Mary Alexandre Aparecida Machado, 37 anos, costumar doar sangue com regularidade. Ela aprendeu com a mãe, também doadora, a importância de ajudar ao próximo.

Mary conta que morre de medo da agulha quando vai recolher amostras para exames laboratoriais, mas que no hemocentro esse sentimento desaparece. Ela vem ao Posto Clínicas de duas a três vezes ao ano e diz que acompanha pelo site da Fundação Pró-Centro os níveis do banco de sangue e os tipos sanguíneos que mais precisam de reposição. O hábito de doar vem se repetindo durante os últimos dois a três anos.

João Gabriel de Mello Brandão, 53 anos, está em outro nível de doadores. Ele faz parte do Clube Irmãos de Sangue, com mais de 5 mil doadores, que há anos vem colaborando para repor os estoques da Fundação Pró-Sangue. Podem reivindicar o ingresso no clube, as pessoas que fizeram a partir de dez doações voluntárias ao banco de sangue. Com direito a carteira de associado personalizada, os participantes do clube têm atendimento preferencial no cadastro e triagem de doadores (Para participar, ligue para o 0800 550300).

O doador Rubens Tiago, 61 anos, foi convidado e concordou em doar plaquetas e vem repetindo o gesto nos últimos sete anos. Ele faz doações de sangue há dez anos. “Ajudar ao próximo sempre foi importante para mim”. Rubens diz que está costumado a agir assim por influência do pai, que era enfermeiro. Outra motivação para ele são as crianças que necessitam de sangue. Há casos de criança que nasceram com deficiência cardíaca congênita que necessitam de transfusão de sangue, ainda bebês. Ele se sente gratificado de poder ajudá-las.

Outro doador, Silvio Alexandre Machado, 40 anos, já doou sangue três vezes, mas essa é a sua primeira doação de plaqueta. “Estou muito orgulhoso de ajudar ao próximo não importa a quem for. A humanidade hoje anda muito egoísta”, afirma. Na primeira vez em que dou sangue ele foi ao Hospital das Clínicas acompanhar a mãe que foi hospitalizada. “Vi uma placa da Fundação Pró-Sangue e perguntei se também podia doar sangue”. Não parou mais de doar.