Herbário da Unicamp (UEC) une museu de ciência e acervo de plantas

Projeto de extensão “Diversidade Vegetal em Foco”, do Instituto de Biologia, conscientiza a sociedade sobre a crise da biodiversidade

qua, 01/08/2018 - 18h53 | Do Portal do Governo

O Herbário da Unicamp (UEC) é um museu que abriga a segunda maior coleção de plantas secas do Estado de São Paulo. Em sua primeira visita ao Instituto de Biologia (IB) da Universidade, os estudantes de ensino fundamental da Escola Municipal Darcy Ana Dêgelo Briski, de Vinhedo, e do Instituto de Ensino Platão (IEP), de São Bernardo do Campo (SP), ficam surpresos com o que encontram.

“Nossos monitores e eles ficaram encantados com a estrutura dos laboratórios. As crianças ainda não tinham passado por essa experiência dentro de um meio acadêmico, o que estimulou a pensar nos seus próprios projetos da escola como ‘coisas grandes’”, revela a monitora do IEP Jennifer Fernandes.

Com o objetivo de ampliar as visitas ao acervo e, a partir disso, conscientizar a sociedade sobre a crise da biodiversidade, as professoras Maria Fernanda Calió e Ingrid Koch tiveram a iniciativa de criar o projeto de extensão “Diversidade Vegetal em Foco” no Herbário UEC. “Nasceu numa compreensão da necessidade de conscientizar o público sobre a importância da universidade como centro de pesquisa e, ao mesmo tempo, sobre a biodiversidade vegetal. Queríamos o maior público possível da área externa, mas decidimos iniciar pela escola, porque permite uma comunicação mais fácil”, revela Fernanda.

A partir do projeto, é possível transmitir mensagens para valorização da conservação das plantas, mostrar a importância delas para garantir água, proteção do solo, diz Ingrid: “Se sensibilizarmos dois ou três, estamos plantando uma semente importante”. Se depender do aproveitamento de Lívia, estudante do IEP, o desejo da docente começa a ser atendido: “Gostei quando mostraram a terra seca e molhada.”

A cada troca de sala, as crianças associam a prática à teoria já visitada nas páginas de botânica do livro didático de ciências e garantem que o estudo do meio é um “passeio importante” para ampliar a bagagem: “Na escola, não aprendemos especificamente o que estamos vendo aqui. É bacana sair da escola para fazer estes passeios importantes”, fala Ágata, aluna da “Darcy Brinsk”.

Além de sensibilizar aprendizes, alunos de graduação e pós-graduação acreditam participar, a partir de uma linguagem acessível, e lúdica, do processo de formação das crianças e até desmistificar a botânica. “A botânica tem um pouco de má fama no ensino, então as visitas nos dão a oportunidade de perceber por que ela é mal-interpretada e perceber como a gente poderia atuar para desmistificar. O projeto de extensão faz com que eles vejam que a gente faz aqui não é tão distante do que estão aprendendo”, diz Ingrid.

Para os alunos do Instituto de Ensino Platão, de São Bernardo do Campo, em São Paulo, as informações somam-se ao projeto de biologia desenvolvido para a grade escolar. “Tenho um projeto e tenho bastante ajuda aqui; ficará bem melhor. Meu projeto é sobre plantas medicinais para a cura de diabetes”, diz a pequena Lívia. Vinte dias depois da visita ao Herbário, Jennifer afirma que os alunos ainda comentam sobre a experiência. “Eles fizeram relação do tema explicado pelos monitores com os projetos que estudam na escola. E disseram: ‘A Ciência é uma coisa só! Tudo está ligado!’” O interesse foi motivado na volta à escola, quando Jennifer falou sobre artes, biologia, matemática e geometria e diz que pretende voltar ao Herbário UEC com os alunos para estudar e desenhar as plantas do acervo.

Durante a visita os olhares se atentam para os ensinamentos sobre coleta vegetal e identificação de plantas; herborização e montagem das exsicatas; visita ao herbário com enfoque na importância das coleções de plantas; diversidade morfológica de flores, frutos e sementes; polinização e polinizadores; anatomia vegetal e sua importância nos estudos das plantas; fluxo de água, minerais e fotossíntese; plantas aromáticas; elaboração e uso de tintas naturais; compostagem; biossistemática e cromossomos; plantio de mudas em garrafas PET.

De forma didática, a biodiversidade vegetal começa a fazer parte da vida dos estudantes a partir do momento em que compreendem o funcionamento das plantas e seu papel no ecossistema. “Eu achei bacana aprender sobre a clorofila. Eu nem sabia que os animais conseguiam ver onde diretamente está o pólen na planta.” diz a aluna do IEP.

O “passeio” ao museu auxilia também o professor em sua prática pedagógica. Muitos, segundo Ingrid, levam para o cotidiano da escola a forma acessível de ensinar ciências. Para os alunos da Unicamp, monitores no projeto, a participação contribui para pensar na atuação como professor de ciências.

“A participação no projeto auxilia na minha formação, e é gratificante saber que minha pesquisa não ficará aqui dentro somente para quem é da área. Precisamos também transmitir essas informações para qualquer pessoa da sociedade, já que a gente está numa universidade pública e o conhecimento não é da instituição, mas pertence a toda a sociedade, então a gente precisa encontrar uma forma de falar sobre isso de forma mais simples”, reflete Lucirene Rodrigues, aluna de pós-graduação em biologia da Unicamp.

Pode ser que o número de professores especialistas aumente com projetos como o Diversidade Vegetal em Foco, mas no momento o que as coordenadoras do projeto querem é fazer com que mais pessoas se interessem por ciência e promover, a partir da extensão, a comunicação entre a Universidade e a sociedade.

“A gente espera sensibilizar as pessoas e fazer com que elas fiquem apaixonadas pela ciência. Realmente no cenário atual, professor não é muito valorizado em termos de salário, mas acho que existem iniciativas muito bacanas. A própria Unicamp tem programa de pós para professores de ciências. O que a gente quer é realmente poder levar para as escolas e não ficarmos isolados. Se a gente continuar jogando luz para essas pessoas, vamos ter sim mais cientistas,  talvez não na biologia, mas em outras áreas.”

O projeto “Diversidade em Foco” acontece há um ano e atende alunos de ensino fundamental e médio de instituições públicas e privadas de Campinas e região, mas alunos de ensino superior e de institutos de pesquisa também podem realizar visitas, que são quinzenais e têm limite de 40 pessoas. As atividades envolvem 20 pessoas e, além dos alunos e das docentes, envolvem funcionários e estagiários.

De acordo com Maria Fernanda, o retorno é positivo. Em 2017, a equipe do Herbário UEC ofereceu treinamento a profissionais do Jardim Botânico de Jundiaí para informatização, digitalização e inclusão de espécimes de interesse de preservação em seu acervo. As orientações sobre visitas estão disponíveis na página do Herbário UEC.