Unicamp: entram mais alunos de escolas públicas

Jornal da Tarde - Segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

seg, 21/02/2005 - 8h36 | Do Portal do Governo

Com sistema de pontos para estudantes de escola pública e negros, cresceu em 40% o número desses alunos aprovados neste ano

RENATA CAFARDO

Sem cotas, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conseguiu neste ano aumentar em cerca de 40% o número de alunos de escolas públicas, negros e índios entre os aprovados no seu vestibular. A instituição criou um sistema de ação afirmativa próprio, em que esses estudantes recebem previamente pontos adicionais na prova. O maior efeito ocorreu no curso de medicina, o mais concorrido e conceituado deles: serão em 2005 300% jovens a mais vindos do ensino médio estadual.

O grande diferencial no sistema da Unicamp são as pesquisas que acabaram motivando a invenção desse sistema. O reitor Carlos Henrique de Brito Cruz explica que estudos de sete gerações com alunos da instituição mostraram que a capacidade de desenvolvimento intelectual e acadêmico do estudante de escola pública é maior que a de seu colega da particular, numa situação em que os dois ingressam na Unicamp com notas semelhantes no vestibular. ‘Não há ainda uma explicação para isso, mas supomos que seja o fato de estudantes de escola pública enfrentarem mais dificuldades’, diz. Entre negros e índios, o efeito é menor, mas também existe.

Em busca dessas pessoas que, em virtude da concorrência acirrada, muitas vezes não são aprovadas por uma diferença mínima na nota, chegou-se à idéia de dar mais pontos a elas

Estudantes de escola pública receberam 30 pontos a mais na segunda fase – ou seja, depois de ter passado pelo funil maior da primeira etapa. Os negros, pardos e índios ganharam ainda outros 10 pontos. ‘Como isso representa apenas 5% da nota média obtida por quem passa no vestibular, continuamos sinalizando que é preciso estudar para entrar na Unicamp’, diz Brito Cruz.

Helbert Manduca Palmiero, de 20 anos, ganhou os seus pontinhos e garantiu um lugar em medicina. ‘Não tiramos as vagas de ninguém, a Unicamp preza pelo conhecimento do aluno’, diz.

O futuro colega de turma Ricardo Glaiser Bazoti, estudante de escola pública em Rio Claro, passou este ano no vestibular depois de cinco anos de cursinho. ‘Tive que começar do zero, não tinha aprendido nada na minha escola.’

Em 2004, ingressaram sete alunos em medicina vindos de escolas públicas; neste ano, foram 29. Os resultados mais expressivos foram nos cursos mais concorridos. Além de medicina, farmácia aumentou em 200% o número de estudantes de escolas pública e em 300% de pardos, pretos e índios.