Um pioneiro pela junção das artes

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 7 de outubro de 2008

ter, 07/10/2008 - 11h38 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

A crítica, principalmente na década de 1960, reprovava na arte de Eliseu Visconti (1866-1944) a sua mudança de estilos, como diz o professor de arte e design da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, Rafael Cardoso. “Não havia em sua pesquisa uma idéia de evolução, ele não estava cumprindo um programa. Fazia o vai-e-volta pelo simbolismo, pelo impressionismo, porque acreditava em seu momento”, afirma Cardoso, curador da mostra Eliseu Visconti: Arte e Design, que acaba de ser inaugurada na Pinacoteca do Estado. Na exposição, que também foi apresentada, no ano passado, na Caixa Cultural do Rio, estão fotografias e quase 100 obras, entre cartazes, capas de revistas, vasos, moringas e objetos, desenhos para estamparias (para tecidos e vitrais) e marchetaria, além de suas criações decorativas para o Theatro Municipal do Rio. Enfim, um recorte da produção do artista no campo das artes gráficas, artes aplicadas e do design tão pouco vista pelo público.

Nascido em Salerno, na Itália – já no início da década de 1870 imigrou com sua família para o Rio de Janeiro -, Visconti é conhecido como pintor. Mas foi muito mais: de forma pioneira, no final do século 19 e início do 20, defendia que as artes não deveriam ser separadas por uma hierarquia de importância. Dessa maneira, a capa do catálogo de sua exposição individual de pintura e arte decorativa da Escola de Belas Artes, realizada em 1901 no Rio e dois anos depois em São Paulo e que contava com 60 quadros e 28 objetos, torna-se um marco desta atual mostra na Pinacoteca. “Ele foi um pioneiro ao reunir aqui no Brasil os dois ramos, tanto que no cartaz a pintura e arte decorativa estão em um mesmo tronco. A vida inteira ele fez as duas coisas, tinha uma idéia de integração da arte e do design, o que era um espírito inovador na época”, diz o curador. Completando ainda essa idéia, Cardoso afirma que Visconti não era formalmente um modernista, mas que “sua proposta era moderna” – de alguma maneira indo no sentido da “arte total” de integração com a arquitetura e com a indústria tal qual os preceitos posteriores da Bauhaus, escola alemã criada em 1919 em Weimar.

Formalmente, Visconti estava ligado às correntes figurativas do art nouveau e do arts and crafts (movimento, inglês, que teve como expoente William Morris). Graças a prêmio viagem, Visconti cursou em Paris, entre 1894 e 1898, desenho e arte decorativa com Eugène Grasset, pioneiro do art nouveau e um dos primeiros seguidores de Morris na França. Como vemos na mostra, o artista vai naturalmente e com autonomia de um gênero ao outro em suas criações. “Sou ?presentista?”, tão bem o próprio Visconti se definiu em 1926.

Já nos croquis para a realização da pintura do pano de boca do Theatro Municipal, inaugurado em 1909 – Visconti o pintou em Paris entre 1906 e 1907 -, grande destaque da mostra já que eles ficam na reserva técnica do Museu dos Teatros, vemos uma visão politizada do artista “republicano e popular” que mistura figuras históricas (como Carlos Gomes e d. Pedro II) com bailarinas e escravos.

Serviço Eliseu Visconti: Arte e Design. Pinacoteca. Praça da Luz, 2, 3324-1000. 3.ª a dom., 10 h/18 h. R$ 4 (sábado grátis). Até 7/1