“Trem da meia-noite”: aprovado

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 20 de agosto de 2007

seg, 20/08/2007 - 11h34 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O universitário Luiz Henrique Martins, de 22 anos, estava em casa sábado à noite, em Santana, zona norte, quando decidiu visitar a namorada, que mora na região dos Jardins, próximo à Avenida Paulista. Se arrumou correndo, pegou a mochila e chegou ao ponto de ônibus por volta da meia-noite. Tarde demais. Não havia mais ônibus circulando. Ligou para a namorada, contando as más notícias. Nesse meio tempo, uma mulher disse a ele que o metrô ficaria aberto até 1 hora. Sem saber se era verdade, arriscou. E conseguiu chegar à casa da namorada.

Martins foi uma das cerca de 2,7 mil pessoas que utilizaram o “Trem da meia-noite”, como foi apelidado o serviço: aos sábados, as estações do metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) ficam abertas até 1 hora, em vez de meia-noite. Quem consegue entrar até esse horário garante transferências para todas as linhas.

Outra pessoa que só conseguiu sair com o namorado graças ao novo horário foi a estudante Deise Sanches, de 21 anos. “Aceitei o convite de última hora.” Moradora de Guarulhos, na Grande São Paulo, ela pegou o metrô na Estação Armênia, na Linha 1 (Azul) e desceu na Consolação pouco depois da 1 hora para encontrar o namorado na Rua Augusta.

Quem utilizou o serviço aprovou. “Foi uma idéia excelente”, disse o engenheiro Swame Menezes, de 40 anos, na Estação Consolação, na Linha 2 (Verde). Ele voltava de um jantar e desceria na Estação Paraíso. Se o metrô não estivesse funcionando, iria pagar cerca de R$ 12 pelo táxi. “Tenho carro e o dinheiro gasto no táxi não é problema. Mas o metrô é mais cômodo.”

Enquanto Menezes ia embora, o farmacêutico Luciano Pinheiro, de 26 anos, chegava à Estação Consolação. Ele voltava do trabalho, próximo à Estação Conceição, na Linha 1 (Azul). “Saio sempre meia-noite e tenho de correr para pegar o metrô”, disse o farmacêutico, de óculos e jaleco branco. “Ficou mais fácil.”

Ao lado, a atriz Beatriz Ferreira Souza, de 21 anos, aguardava os amigos para irem juntos à balada. “Eu não dirijo e dependo do metrô. Tinha de sair mais cedo de casa para não ficar sem transporte.”

Mas, como não podia deixar de acontecer, agora o coro dos usuários é por mais tempo de funcionamento do metrô. “Poderia ir até as 3 horas”, pediu Deise. Menezes sugeriu a ampliação do horário de atendimento às sextas-feiras. Pinheiro, todos os dias. “Funcionar até mais tarde somente nos sábados favorece apenas quem sai para balada”, disse. “Para quem trabalha, pouco muda.” E a universitária Carla Ferraro, de 21 anos, quer o metrô 24 horas, sem interrupções.

Até o governador José Serra (PSDB), que sambou ao som de um grupo de pagode na festa de inauguração do “Trem da meia-noite”, quer ver o metrô funcionando até mais tarde. Tanto que pediu ao secretário estadual de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, que estudasse o pedido. Portella, porém, bateu o pé. “Metrô 24 horas é impossível.” Entre a meia-noite e as 4h30 é feita a limpeza e a manutenção dos trens, das linhas e das estações. “Blocos de segurança são examinados, trilhos são trocados, trens são limpos… Não dá para ficar sem manutenção.” Ele disse que, dependendo da demanda, pode ampliar o horário aos sábados até 2 horas. “Por enquanto, só dá para aumentar mais no sábado”, afirmou. “Às sextas, por enquanto, não é possível. Talvez, mais para a frente, possamos aumentar em meia hora.”