Todo o peso da realeza de Versalhes

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 15 de maio de 2007

ter, 15/05/2007 - 11h55 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Em Imagens do Soberano, obras apresentam transformações e mensagens políticas contidas nos retratos dos reis da França

A obra em destaque já bem no início da mostra Imagens do Soberano – Acervo do Palácio de Versalhes, que será inaugurada hoje para convidados na Pinacoteca do Estado, é o quadro Luís XIV em Traje Real, datado de 1702 e atribuído ao ateliê do artista Hyacinthe Rigaud. ‘É o retrato mais famoso já feito sobre um rei. Na época, todos os outros reis da Europa queriam posar para retratos iguais a esse’, diz o curador francês Xavier Salmon. Da entrada da exposição uma fresta se abre para que a obra seja a primeira visão do que se vai encontrar ao longo das sete salas do museu: como diz o título, uma seqüência de imagens sobre como a realeza era representada nas telas, como queria ficar para o imaginário do povo e para a História. ‘É uma exposição para mostrar como a imagem do rei e da rainha foram mudando ao longo dos tempos’, continua Salmon – porque a exposição perpassa os reinados de Luís XIV (1638-1715), Luís XV (1710-1774) e Luís XVI (1754-1793), o último representante da monarquia na França.

Luís XIV, que dá início à mostra, é o ‘soberano absoluto’. O Rei Sol, como era chamado, preocupou-se e muito com sua imagem política – sim, ‘no século 17, todas as mensagens eram políticas’, como reforça Salmon – e, por meio das obras de arte, queria mostrar quem era aquele rei: o responsável pela construção do grandioso Palácio de Versalhes, entre 1661 e 1668, para sua morada e para a corte. ‘Sua vida era pública, assim como sua imagem’, afirma o curador – até mesmo o momento em que o rei ia dormir, por exemplo, se transformava numa cerimônia. ‘Os outros reis, Luís XV e Luís XVI pediram mais privacidade, principalmente este último’, continua o curador.

Luís XIV está naquele retrato em traje real, mas é curioso ver que o ‘soberano absoluto’, numa pintura que o retrata com então 7 anos, não é apenas uma criança, mas alguém pintado como um imperador romano. Em outra sala ao lado o rei está representado em situações políticas, ‘em ação’. Numa tapeçaria grandiosa, Luís XIV está a cavalo em A Tomada de Doesburg; em outra obra, como ‘o rei da justiça e temperança’ numa reunião com seus ministros; e, em outro belo quadro, recebendo uma comitiva de embaixadores persas.

Em outra sala, dedicada às obras relacionadas à transformação de Versalhes na casa de Luís XIV, fica claro que na decoração do palácio ele seria a figura principal. Há uma passagem curiosa, como conta Salmon: no fim da década de 1670, o rei pediu a Charles Le Brun que fizesse toda a decoração do teto do palácio e então o artista fez uma série de desenhos colocando o soberano como Hércules, o deus forte. ‘Mas, mais velho, Luís XIV não queria ser uma figura mitológica, preferia uma imagem mais alegórica e, por isso, pediu que Le Brun fizesse outro projeto’, diz o curador. O artista, então, o retratou como um imperador romano e, este, sim, foi aceito para a Galeria de Espelhos.

Essa transposição da figura do rei para algo mitológico ou alegórico também pode ser visto nas obras dedicadas a Luís XV. Além de retratado em traje real, ele também aparece em outras obras como um herói guerreiro, militar. Mas em Luís XV já é possível ver uma mudança. Em um quadro feito com o rei, então com 63 anos, ele aparece como homem comum – e essa também era a vontade de sua mulher, a polonesa Maria Leszynska. Como curiosidade, em outro espaço estão as conhecidas quatro pinturas de Jean-Marc Nattier, pertencentes ao Masp. São retratos sobre os quatro elementos (ar, fogo, terra e água), feitos para o quarto do Delfim, o filho de Luís XV e tendo como modelos suas irmãs – foram compradas pelo Masp em 1952, assim como outras obras que pertenciam a Versalhes foram vendidas depois da Revolução Francesa. Por fim, está a sala dedicada a Luís XVI, a menor da mostra.

A Famosa Maria Antonieta

No fim da exposição está a sala dedicada a Luís XVI, o rei que mais queria privacidade – na mostra, um destaque é o desenho de seu rosto feito por Callet. Mas, apesar de sua introversão, foi casado com a controversa e famosa Maria Antonieta, que inevitavelmente se transforma na figura principal de sua pequena sala – ainda mais depois do polêmico filme de Sofia Coppola. Segundo o curador, especialista na rainha (fará uma palestra sobre Maria Antonieta amanhã, às 18 h, na Pinacoteca), Maria Antonieta, apenas ‘queria ser retratada como era’. Está na mostra o retrato de 1778 feito por Elisabeth-Louise Vigée Le Brun, o preferido da rainha. ‘Desde então, essa artista se transformou em sua pintora oficial.’ Mas ela também gostava de chamar pintores desconhecidos para retratá-la em cenas comuns. Tanto que numa das obras está montada a cavalo e vestida como homem, sem o ‘peso da realeza’.

(SERVIÇO)

Imagens do Soberano – Acervo do Palácio de Versalhes. Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, telefone 3229-9844, metrô Luz. 3.ª a dom., 10 h às 18 h. R$ 4 (sábado, grátis). Até 5/8