Teatro de SP abre espaço temático para acervo de Adoniran Barbosa

Folha de S. Paulo - São Paulo - Quarta-feira, 2 de março de 2005

qui, 03/03/2005 - 8h55 | Do Portal do Governo

Objetos pessoais serão doados pela filha do compositor

Janaína Fidalgo
Da Redação

Não é na casa do Nicola nem fica na rua Major Diogo, como cantou Adoniran Barbosa em ‘Um Samba no Bexiga’ (1956). O acervo do compositor ‘muda-se’ em abril para um endereço bem próximo: o teatro Sérgio Cardoso.

As fotos, documentos, partituras, discos e objetos pessoais de João Rubinato, nome civil de Adoniran, coletados ao longo de 40 anos por sua companheira, Mathilde de Lutiis, estavam desde 1983 sob a guarda do governo estadual. Agora, todo material será doado formalmente pela filha do compositor, a tradutora Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, 67, e por seu neto, o jornalista Alfredo Rubinato Rodrigues de Sousa, 33.

‘Quando meu pai morreu, a Mathilde conseguiu realizar seu maior desejo: expor aquilo que para ela era um tesouro’, conta.

À época, o espaço oferecido para receber o acervo do ‘poeta do Bexiga’ foi o cofre do antigo Banco de São Paulo, na praça Antonio Prado, onde fica a secretaria de Juventude, Esportes e Lazer. Durante esses mais de 20 anos houve, segundo a filha, duas mostras.

‘O cofre é lindo, mas quase que inexpugnável, como convém a um cofre… E nunca teve uma divulgação apropriada’, diz. ‘Nossa expectativa é presentear a cidade de São Paulo, grande paixão de meu pai, divulgar que o acervo existe e permitir que todas as pessoas interessadas em sua obra possam ter o acesso facilitado.’

Agora, além de uma ‘residência fixa’ -o mezanino do teatro-, o acervo de Adoniran deve ganhar um tratamento cenográfico. A intenção é reproduzir o ambiente de um bar, numa alusão aos freqüentados pelo compositor no bairro do Bexiga. Essa etapa do projeto será financiada pela Ambev, empresa cuja uma das marcas teve, em 1972, Adoniran como garoto-propaganda.

Como boa parte dos objetos precisam ser restaurados, apenas algumas peças serão exibidas na abertura da mostra. ‘A idéia é inaugurar na primeira semana de abril com aquilo que não está avariado. Ainda não vai ser uma exposição de tudo que se tem’, adianta a secretária de Estado da Cultura, Claudia Costin.

Parte do acervo deve ser restaurado na oficina do Arquivo do Estado. Contudo, não há recursos técnicos para recuperar todas as peças. ‘Vamos usar inicialmente o dinheiro do Orçamento. O Estado tem obrigação de expor seu acervo’, garante Costin.

Os brinquedos figuram entre as surpresas do acervo, que conta ainda com troféus e roupas. Segundo Maria Helena, a construção de brinquedos era o hobby de seu pai. ”Roubei’ duas bicicletinhas do acervo antes de fazer a doação: uma para guardar em casa e outra para um amigo’, diz.

O ‘xis’ da questão é onde guardar as peças que não estiverem expostas. Segundo a diretora técnica do Departamento de Museus e Arquivos, Silvia Antibas, uma reserva técnica, que também servirá como centro de pesquisa, deve ser construída no terceiro andar do teatro até o outro semestre.