SP terá cursinho na rede estadual

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 30 de agosto de 2007

qui, 30/08/2007 - 13h30 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo finalizou um projeto para implementar, a partir do ano que vem, aulas preparatórias para ajudar alunos do 3º ano do ensino médio a entrar na faculdade. A proposta, nos moldes de um cursinho, será oferecida no segundo semestre para todos os 800 mil estudantes que cursam o último ano do ensino médio.

O programa, que ainda vai ser divulgado oficialmente, já foi apresentado dentro do governo e será aplicado em parceria com a Secretaria de Ensino Superior, que hoje mantém convênios com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) para oferecer cursinhos aos alunos da rede pública.

“No primeiro semestre, vamos oferecer um reforço da aprendizagem, uma reciclagem dos conteúdos para os estudantes com notas abaixo da média. No segundo semestre, vamos abrir o leque e começaremos com as aulas preparatórias, com foco nos conteúdos e nas competências, para ajudar os estudantes a ingressar no ensino superior, num curso técnico ou mesmo no mercado de trabalho”, explica a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro.

De acordo com ela, as aulas serão dadas em horários extras, fora da grade curricular obrigatória – poderão ser pela manhã, pela noite ou mesmo nos fins de semana. Além disso, será usado um material estruturado para orientar os educadores, que poderão ou não fazer parte da rede. A secretaria estuda parcerias, além do recrutamento de monitores e estagiários, como estudantes de licenciaturas.

Quanto à distribuição do curso, as aulas serão oferecidas em todas as regiões. “Se houver espaço na própria escola do aluno, e demanda suficiente naquela escola, poderá ser lá. Ou então, numa escola mais próxima no bairro. Onde não tivermos espaço, podemos fazer parcerias com alguma faculdade local, algum espaço da comunidade, e usar esse lugar”, explica Maria Helena. Ela não divulgou quanto custará o projeto.

Para alunos e coordenadores de cursinhos comunitários, que se dedicam a estudantes da rede pública, a iniciativa é válida e pode ajudar na preparação de estudantes que hoje resistem até mesmo a inscrever-se na Fuvest, responsável pelo vestibular da Universidade de São Paulo (USP). Prova disso é o fato de, do total de isenções da taxa de inscrição oferecidas para o próximo processo seletivo – 60 mil -, apenas 30 mil foram preenchidas.

“Qualquer esforço no sentido de qualificar mais o estudante da rede pública é louvável. Ele está em desigualdade e precisa de mais preparo para ingressar no ensino superior. Se as escolas particulares oferecem isso para seus alunos, por que na pública não podemos ter?”, afirma Eduardo Pereira Neto, coordenador dos 184 núcleos da Educafro que oferecem cursinhos comunitários no Estado. “Mas a secretaria pode fazer muito mais, pode investir na melhoria do ensino, prestar atenção na falta dos professores, criar o currículo básico, são ações importantes que ainda não foram feitas”, diz.

As aulas preparatórias, no entanto, pouco ajudarão o aluno, segundo o professor da Faculdade de Educação da USP, Nilson Machado. “Isso acaba sendo uma caricatura de um cursinho de verdade, e ainda não vai ser com a mesma qualidade. Aliás, o próprio cursinho é supervalorizado, é um apêndice. A gente tem de ver é como não precisar dele. O cursinho só existe porque temos uma educação básica precária e que precisa ser revista. A saída certamente não é por aí”, afirma.

REPERCUSSÃO

“Qualquer esforço no sentido de qualificar mais o estudante da rede pública é louvável. Ele está em desigualdade e precisa de preparo para o ensino superior”

Eduardo Pereira Neto Coordenador da Educafro

“Cursinho é supervalorizado. A questão é como não precisar dele. Ele só existe porque temos educação básica precária’

Nilson Machado Educador da USP