Sinônimo de saúde brasileira

Diário de S. Paulo - Domingo, 25 de janeiro de 2004

sáb, 31/01/2004 - 16h22 | Do Portal do Governo

Apenas no complexo do Hospital das Clínicas, cerca de 10% dos pacientes vêm de outros estados para se tratar

REGIANE MONTEIRO

Quando o assunto é saúde, São Paulo virou o maior centro de referência do País. E não apenas pelo fato de que 5% da população brasileira vive por essas bandas, movimentando os serviços do setor. Mas porque, todos os dias, centenas de pessoas de outros estados e até países chegam aqui em busca de conhecimento médico, tecnologia de ponta e melhores tratamentos para seus males.

Só em 2002, por exemplo, 829 mil ultra-sonografias foram realizadas nos hospitais e ambulatórios da cidade que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre situações que incluem de um braço engessado a fisioterapia e quimioterapia foram 112 milhões de exames e procedimentos médicos, quase o triplo do verificado no Rio de Janeiro.

Nesse universo, o melhor exemplo da saúde paulistana é o Hospital das Clínicas. Maior complexo hospitalar da América Latina, o HC, assim como sua cidade, é cheio de grandiosidade. Nos seis institutos que formam o complexo circulam 35 mil pessoas por dia. São 60 mil internações e mais de dois milhões de exames por ano.

Programado para ser um hospital de atendimento terciário, ou seja, de casos mais complexos, o HC ainda não pôde assumir definitivamente essa função. ‘As pessoas procuram pelo hospital porque sabem que aqui serão atendidas. Saem de bairros distantes, outras cidades e até estados’, diz o cirurgião José Manuel Teixeira, superintendente do HC.

As estimativas são de que até 10% dos pacientes que estão internados ou procuram atendimento nos ambulatórios do hospital são de outras localidades ou nem moram no Estado.

‘Os índices podem até ser maiores porque muita gente passa pelo hospital dando endereço de parentes na Capital’, lembra Teixeira.

No Instituto do Coração (Incor), que faz parte do complexo, até 40% dos pacientes vêm de fora da cidade, procurando pela cirurgia cardíaca considerada a melhor do País. Não poderia ser diferente, já que os primeiros transplantes de coração brasileiros foram realizados no HC. ‘Acreditamos que o Incor será o local onde atenderemos cada vez mais pacientes graves’, diz José Antônio Ramires, presidente do Incor.

E no futuro… medicina à distância

São Paulo é um centro de referência e isso não deve mudar nos próximos anos. Mas um movimento aparentemente tímido está ganhando formato no Hospital das Clínicas para mostrar que daqui para a frente, a idéia é fazer da capital paulista um local de transferência de conhecimento. É através da inclusão digital que o maior complexo da América Latina pretende reduzir o número de pacientes de outros estados atendidos na unidade.

Segundo Chao Lung Wen, coordenador-geral da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, essa redução pode chegar a 60%. Mas não se trata de fazer cirurgias à distância com um médico em São Paulo controlando um robô, por exemplo.

Na medicina do futuro, os médicos do Hospital das Clínicas terão a capacidade de formar profissionais em áreas complexas e especializadas em outros Estados. Também poderão analisar prontuários e fotos, capazes de auxiliar um colega a quilômetros de distância a decidir pelo melhor diagnóstico. ‘A telemedicina também é uma forma de promover qualidade de vida’, diz Chao. ‘Vamos treinar professores da rede pública para que eles atuem na prevenção de doenças’, completa o especialista.

Se tudo der certo, a telemedicina vai ser uma revolução e tanto para a saúde da Capital. Em poucas horas ou dias será possível transferir conhecimento conquistado nos grandes centros daqui para milhares de profissionais no Brasil. Os primeiros avanços já são feitos. E partem dos computadores do Hospital das Clínicas.