Rio Pinheiros terá teste de limpeza

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 15 de agosto de 2007

qua, 15/08/2007 - 12h18 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O governador José Serra anunciou ontem a retomada do projeto de limpeza do Rio Pinheiros, na zona sul de São Paulo, por meio da técnica da flotação. Impedida há dez anos na Justiça por causa de um procedimento do Ministério Público Estadual (MPE), a flotação permite retirar impurezas da água sem torná-la potável após o processo. Dia 31, começam os testes.

A flotação consiste na introdução de polímeros na água do rio, nos quais a sujeira adere. O resultado desse processo sobe à superfície rapidamente, o que facilita a retirada das impurezas. O principal argumento usado por ambientalistas para condenar a técnica era a ausência de testes em larga escala. Eles temiam que, ao limpar o rio, o governo voltasse a bombear a água do Pinheiros para a Represa Billings sem saber ao certo qual é a qualidade dessa água.

O Piscinão de Ramos, no Rio, e o Córrego do Sapateiro, que forma o lago do Parque do Ibirapuera, utilizam da flotação para limpar suas águas. Porém, no primeiro caso, a sujeira não é formada por esgoto doméstico e industrial. Já o lago do Ibirapuera é decorativo, apesar de abrigar vários peixes.

‘Houve um acordo entre o governo e o MPE’, adiantou Serra, na entrevista coletiva concedida após a vistoria na Estação Elevatória de Esgoto Pomar, na Marginal do Pinheiros. Com custo de R$ 20 milhões, a obra será concluída no fim do mês e permitirá levar o esgoto da zona sul de São Paulo para ser tratada na Estação de Barueri, na região metropolitana. ‘Quando o sistema estiver pronto, o percentual de dejetos tratados na Grande São Paulo subirá de 63 para 70.’

Presente à vistoria, a secretária de Saneamento e Energia, Dilma Seli Pena, explicou que a flotação foi resgatada graças ao fato de o governo ter atendido a todas as exigências feitas pelo MPE. ‘Primeiramente, faremos os testes. Caso a gente consiga provar que o impacto ambiental da técnica é mínimo e os ganhos, muitos, e tenho certeza de que conseguiremos, poderemos prosseguir’, explicou.

Segundo a secretária, a prioridade de Serra é a despoluição do rio, mas, como efeito colateral, a limpeza do Pinheiros aumentará a capacidade hídrica do Estado e influi diretamente na produção da usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, litoral sul. ‘É uma das mais importantes de São Paulo, mas está subaproveitada. Isso porque a vazão do rio, que deveria ser de 50 m3 de água é de 50 m3 de esgoto’, destacou Dilma.

EXAMES INÉDITOS

Os testes para a flotação do Pinheiros serão feitos nos cinco quilômetros finais do rio, no extremo sul da capital. Corresponde a um quinto da sua capacidade hídrica. Durante e após o período de testes serão feitos diversos exames e um EIA-Rima (estudo de impacto ambiental) específico para a flotação.

‘Na verdade, alguns exames talvez nem sejam feitos no Brasil. Até o momento, por causa da exigência desses exames, a aplicação dessa técnica ficou inviável do ponto de vista econômico. Mas o processo foi se modernizando e chegamos hoje a essa possibilidade’, afirma o promotor do Meio Ambiente, José Eduardo Lutti.

Segundo Lutti, a negociação entre governo e MPE nunca parou, mas andou ‘a passos vagarosos’. ‘Foram exigidos e atendidos exames na água que nunca foram feitos em São Paulo.’

Potável ou não, a água do Pinheiros será realmente bombada para a Represa Billings, e, desta, para a Guarapiranga, de onde é purificada e distribuída para uma parte da região metropolitana. Porém, da época em que se cogitou a técnica para hoje, a água da represa também piorou. ‘Na verdade, não se sabe profundamente nem da situação da Billings, cuja água é de categoria 2, portanto não pronta para consumo, nem do próprio Pinheiros’, explica.

Por isso, de acordo com Lutti, pela primeira vez, serão divulgados exames sobre a oxigenação, a concentração de coliformes fecais e de outros itens, das águas do Pinheiros, antes da flotação e depois, do Rio Tietê, da Billings e de dois pontos diferentes da Guarapiranga. ‘E, a qualquer momento, a flotação pode ser parada caso seja constatado algum perigo’, afirma.

Março de 2004 foi a última vez em que o governo conseguiu derrubar na Justiça o impedimento à flotação, técnica que permite melhorar a aparência da água e eliminar o cheiro de esgoto. Na época, ambientalistas afirmaram se preocupar com o fato de os polímeros conseguirem retirar apenas 65% do material orgânico e de não conseguir dar conta de substâncias como amônia, metais pesados em estado solúvel e pesticidas organoclorados. Outros especialistas alertaram que o aspecto de limpeza da água poderá induzir a população a banhar-se no Pinheiros, como o fazem na Billings e na Guarapiranga, o que é um risco.