Petrobras e governo de SP acertam agenda

Valor Econômico - São Paulo - Quinta-feira, 3 de março de 2005

qui, 03/03/2005 - 8h42 | Do Portal do Governo

Companhia e Estado tentam destravar projetos de investimentos nas áreas ligadas a refino de petróleo

Leila Coimbra e André Vieira
De São Paulo

Uma dúzia de executivos da Petrobras se reuniu ontem com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e seus secretários na tentativa de destravar investimentos da estatal no Estado. O governo paulista cobrou a aceleração do projeto que prevê a exploração do gás na bacia de Santos e uma definição de uma política de preços para o gás boliviano. Cobrou ainda o aporte da estatal no convênio que amplia a geração de energia da usina Henry Borden.

Do lado da Petrobras, a estatal exigiu garantias de licenciamento ambiental e a eliminação de entraves para o investimento no Estado, particularmente na área petroquímica. Ao fim de uma reunião de três horas, no Palácio dos Bandeirantes, a Petrobras e o governo decidiram criar uma força-tarefa para costurar uma agenda comum de investimentos.

O planejamento estratégico da estatal prevê investimentos superiores a US$ 3 bilhões em São Paulo até 2009, a maior parcela destinada à área de refino. As quatro refinarias do Estado, que representam cerca de 40% da produção brasileira, receberão investimentos de modernização, com o propósito de reduzir o teor de enxofre nos combustíveis.

Um dos pontos negociados na reunião foi a construção de dutos para o transporte de álcool até o porto de São Sebastião, visando a exportação. As obras consumirão aproximadamente US$ 315 milhões, segundo projeção da Petrobras, e deverão ser tocadas pela sua subsidiária Transpetro.

O governador Geraldo Alckmin disse que estudos do governo apontam a viabilidade de se construir um novo duto no município de Conchas que seria ligado ao de Paulínia, interligando a rede de dutos à hidrovia Tietê-Paraná. ‘Com isso, se pode trazer o álcool por hidrovia da região Oeste de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, até o porto de São Sebastião’, disse.

Outra hipótese seria a construção de um ‘álcoolduto’ interligando Sertãozinho a Paulínia. Os ‘álcooldutos’, segundo Alckmin, teriam capacidade de transporte de 4 bilhões de litros, duplicando o volume atualmente transportado. São Paulo já conta com um ‘álcoolduto’, que sai de Paulínia e vai até o Rio de Janeiro. O principal comprador, segundo o governador, seria o Japão, que já aprovou uma lei para adicionar 3% de álcool na gasolina.

Na questão do gás natural, o governo paulista tem o interesse em trazer para as três concessionárias de gás canalizado de São Paulo (Comgás, Gas Brasiliano e Gas Natural) a produção da super-reserva recém-descoberta na bacia de Santos. O gás nacional serviria para baratear o preço atual do consumo, importado da Bolívia e comercializado em moeda estrangeira e com altos custos de transporte.

Segundo o secretário estadual de Energia, Mauro Arce, o Conselho Nacional de Política Energética recomendou em dezembro à Petrobras que antecipasse o prazo de comercialização do gás nacional, previsto para oito anos a partir da descoberta.

O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou que o assunto será discutido em breve pelo conselho de administração da estatal. Para construir uma rede de gasodutos que levariam a produção da bacia de Santos ao Estado de São Paulo seriam necessários US$ 2 bilhões. Costa disse que parte deste investimento poderá ser antecipado. Segundo justificativa do governo paulista, a antecipação seria necessária porque a capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil está esgotada e insuficiente para abastecer todas as usinas termelétricas do país.

Outro pedido feito pelo governo paulista à Petrobras é relativo à retomada do projeto de limpeza do rio Pinheiros, que envolve o aumento de geração da hidrelétrica Henry Borden. Alckmin aproveitou a reunião para encaminhar um pleito ao presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra (ausente do encontro), para que a estatal faça o aporte financeiro de recursos do convênio com a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), permitindo que a água do rio Pinheiros volte a ser bombeada para a represa Billings, gerando energia à usina. Com isso, o Estado conseguiria financiar o tratamento por flotação do de esgoto do rio. A usina Henry Borden tem capacidade para gerar 870 megawatts mas gera hoje menos de 37 megawatts. Mauro Arce disse que são necessários R$ 15 milhões para iniciar os testes de retomada de geração em Henry Borden.

A Petrobras disse que tem intenção de ampliar ainda mais o pólo petroquímico da região do ABC paulista, mas deseja ter garantia nos futuros investimentos. Em parceria com a Petroquímica União (PQU), a Petrobras está investindo US$ 160 milhões para ampliar a capacidade de produção de 500 mil toneladas de eteno para 700 mil toneladas, usando o gás das refinarias de São José dos Campos (Revap) e de Capuava (Recap).

‘Para chegar a mais de 1 milhão de toneladas de eteno, o que daria ao pólo um porte de escala mundial, é preciso resolver alguns problemas’, disse o presidente da Petroquisa, Kuniyuki Terabe. Ele explicou que existe gás disponível nas refinarias paulistas e a estatal se oferece a investir na construção dos dutos para o fornecimento adicional de matéria-prima à PQU.