Paulista antecipa lei antifumo

Jornal da Tarde

qui, 23/07/2009 - 8h11 | Do Portal do Governo

Conjunto Nacional, por onde passam 15 mil pessoas por dia, já vetou o tabaco

O Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, antecipou em 16 dias a lei antifumo. Embora as restrições só comecem a valer no Estado a partir de 7 de agosto, desde ontem as 15 mil pessoas que circulam por entre as empresas, lojas, restaurantes e teatros do condomínio foram avisadas sobre a proibição de se fumar ali. Os 28 cinzeiros do prédio foram recolhidos, o fumódromo, eliminado e os fumantes, obrigados a procurar as calçadas.

“Antecipamos as normas de restrição porque além das pessoas que trabalham aqui (são mais de 10 mil cadastrados), ainda temos de dar conta dos visitantes e dos turistas”, afirma a administradora do Conjunto Nacional, Vilma Peramezza. “Se não começássemos com uma campanha de conscientização antecipada, quando as multas passassem a ser aplicadas, não daríamos conta e poderíamos ser punidos.”

Ela teme o rigor da lei, que pune os proprietários dos estabelecimentos quando o fumante infringe a regra. As sanções vão de R$ 792,50 a R$ 1.585, valor que dobra na reincidência. No caso dos condomínios, o entendimento é que os síndicos precisam “tomar conta” dos recintos para ficarem livres das multas.

Em outros prédios residenciais de São Paulo, informa o Sindicato da Habitação e as administradoras, já começou até o treinamento com funcionários. Os fiscais das secretarias estaduais da Justiça e Saúde, responsáveis pela aplicação das multas, estarão de olho não apenas em fumantes, mas qualquer indício de fumaça, como os cinzeiros e até bitucas.

Cigarrão 

As 15 mil bitucas recolhidas pelos funcionários do Conjunto Nacional durante sete dias viraram uma escultura em forma de cigarro, que exalava cheiro de fumaça. Bem ao lado do “cigarrão”, o Hospital do Coração (HCor) montou um estande para alertar sobre os males do fumo passivo, bandeira levantada por todos que defendem a aplicação da lei antifumo.

“Fazemos as medições com o monoxímetro (aparelho que mede a concentração de CO no organismo, substância mais nociva do fumo) e percebemos o quanto os não-fumantes são afetados pela fumaça alheia”, afirmou a responsável pelo programa de tabagismo do HCor, Silvia Cury Ismael. “Hoje (ontem) mesmo fizemos a medição em um homem que parou de fumar há 20 anos, convive com a mulher fumante e o índice dele no monoxímetro foi de quem fuma entre 4 e 5 cigarros por dia”, completou. No total, foram feitas 300 medições ontem em pessoas que circulavam pelo local e também funcionários do Conjunto.

O operador de telemarketing Gil Lopes, de 25 anos, adorou as novas regras. A empresa onde trabalha fica bem ao lado do fumódromo extinto ontem. “Será ótimo não ficar com o cabelo com cheiro de fumaça ao passar aqui”, disse ele, apontado para o jardim de inverno, que estava bem vazio ontem. “Antes, não tinha lugar para sentar, de tanto fumante que tinha aqui. Agora, está esse marasmo”, disse Carla Vicente, de 19 anos, fumante desde os 12.

A operadora de telemarketing onde Gil e Carla trabalham concentra o maior número dos fumantes do Conjunto Nacional. Vão precisar mudar a rotina. Se antes era só dar dois passos para acender o cigarro, agora é preciso tirar o uniforme, descer três andares e ir para rua. “Estou perdida”, previa Carla.

Medida reduz trabalho e cigarros de chefe da limpeza 

Aos 40 anos, fumante desde os 16, Zilda Pereira dos Santos consumia até anteontem oito cigarros por dia. “Agora, com todas essas mudanças aqui no trabalho, vou ter que diminuir o número.”

Zilda é supervisora da equipe de limpeza do Conjunto Nacional e, por ironia, o cigarro é o que dá mais trabalho para o seu grupo. Era muito trabalho com os cinzeiros que precisavam ser trocados, o chão do fumódromo varrido constantemente e os olhos sempre atentos a alguma bituca “esquecida” nos corredores da galeria. Por isso, ontem a sensação foi de menos serviço. 

O dia passou e o café foi evitado, “tudo para não lembrar do hábito de fumar”. Só por três vezes ela bebericou o cafezinho. Foi quando, mesmo usando a camiseta escrito “ambiente 100% livre de tabaco”, uma espécie de novo uniforme dos funcionários, precisou ir até a calçada da Avenida Paulista para fumar um cigarro.

Ao fim do dia de trabalho, já no caminho de volta para casa, no Jaçanã, na zona norte, Zilda concluiu: “Fumei a metade do que costumo fumar. O serviço melhorou, então acho que é positivo.”

Iniciativa de banir cigarro no prédio é de funcionários 

Vilma faz parte da “juventude 1968”, quando fumar era até incentivado. “Então, para não dizer nunca, confesso que até tentei fumar uns cigarros, mas nunca gostei. Me dava uma dor de cabeça”, lembra Vilma Peramezza, administradora do Conjunto Nacional há 24 anos.

Ontem foi o dia que, de forma inédita na história dos 54 anos do condomínio, o fumódromo e o cigarro foram banidos. Embora o dia tenha sido atarefado, Vilma diz que era recompensada toda vez que caminhava até seu escritório, no terceiro andar. “Necessariamente tenho que passar por onde ficava o fumódromo. Além de o cheiro estar bem diferente, foi ótimo ver casais de namorados, pessoas lanchando e batendo papo, ao invés de fumantes. 

Como defensora da media antifumo, Vilma não poderia deixar de fazer um balanço positivo sobre a estreia. E tem convicção de que a medida vai pegar. “Aqui mesmo no Conjunto Nacional, a antecipação foi uma iniciativa dos funcionários. Vai dar certo, sim”, diz. Ela ressalta que, apesar de não ser fumante, nunca foi “chatas com quem fuma”.