Osesp reafirma sua excelente qualificação

O Estado de São Paulo - Sexta-feira, dia 2 de junho de 2006

sex, 02/06/2006 - 10h59 | Do Portal do Governo

Grupo executou a mais satisfatória versão de Sete Últimas Palavras do Redentor na Cruz, de Haydn

Crítica: Lauro Machado Coelho

Se não forem animados por muita tensão interna, os sete adágios encadeados das Sete Últimas Palavras do Redentor na Cruz, de Haydn, correm o risco de soar muito planos e repetitivos. Essas peças de tom não narrativo – e, portanto, não teatral – são uma seqüência de reflexões de tom meditativo, nas quais predomina um tom lírico, introspectivo. Além disso, ao quarteto não incumbem brilhantes participações solistas: ele canta sempre em conjunto, entrelaçando suas vozes às do coro.

À regência precisa e enérgica de John Neschling, à homogeneidade do quarteto solista, à qualidade sempre reafirmada dos coralistas de Naomi Munakata atribua-se a qualidade da apresentação a que se assistiu na sexta-feira, na Sala São Paulo. Das quatro versões existentes das Sete Últimas Palavras – a original, para orquestra; as reduções para quarteto e piano; e a coral sinfônica, que Haydn retrabalhou a partir de uma adaptação feita por Joseph Friebert, mestre de capela em Passau – esta é a mais satisfatória, como o demonstrou a apresentação da Osesp.

Neschling extraiu efeitos muito matizados de trechos instrumentais como a Introdução, o Interlúdio para os sopros, entre os movimentos 4 e 5, e, principalmente, o Terremoto final, que se segue à morte do Redentor. O timbre muito rico de Lydia Teuscher – substituída na semana anterior, mas presente nesta – casou-se admiravelmente ao de Adriana Clis, extremamente caloroso, nas ocasiões em que elas cantaram em dueto. Também o tenor Marcos Liesenberg, muito expressivo em “Jesus Rufet: Ach Mich Dürstet”, e o baixo Sávio Sperandio integraram-se com muita felicidade ao quarteto.

Uma peça como esta, em que a participação do coro é fundamental, precisa do profissionalismo de um grupo como o da Osesp. Teria bastado a intensa vibração emotiva da seqüência “Es Ist Vollbracht-Vater, in Deine H‰nde” para justificar a qualificação de excelente dada a seu trabalho.