“Os alunos aprendem pouco”

Jornal O Globo - Domingo, 26 de agosto de 2007

seg, 27/08/2007 - 16h23 | Do Portal do Governo

Jornal O Globo

• Considerada a criadora dos sistemas de avaliação, a socióloga Maria Helena Castro assumiu a Secretaria de Educação de São Paulo há um mês, para ajustar uma das principais bandeiras do PSDB para 2010.

O GLOBO – Que avaliação faz da educação no estado?

MARIA HELENA: A educação em São Paulo melhorou nos últimos dez anos. Todosos indicadores mostram isso. No Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), por exemplo, São Paulo está em primeiro lugar na 4ª série, em segundo lugar no 8ª série e no ensino médio também. São Paulo incluiu todas as crianças nas escolas: de 7 a14 anos temos 98,6%, que é a maior taxa de cobertura do país, e acima da média dos países ricos e desenvolvidos. E, de 15 a17 anos, no ensino médio, nossa taxa é de 90% na nacional e 80% líquidos.

O GLOBO – Por que tantos ajustes?

MARIA HELENA: Referem-se à aprendizagem, ao desempenho. A infra-estrutura tem falhas, como não dar acesso a deficientes, que serão corrigidas agora, mas ocorreram melhorias, como na capacidade de atendimento. Os laboratórios, as bibliotecas melhoraram. Mas o fato é que os alunos aprendem pouco.

O GLOBO – A avaliação é de que a estrutura está boa e o problema está no aprendizado?

MARIA HELENA: Sim. Já apresentamos melhoras, segundo o Saeb nacional. Entre 2003 e 2005, houve melhora em português e matemática na 4ª série, por exemplo. Na 8ª, melhorou em língua portuguesa e caiu um pouco em matemática. No entanto, como os resultados nacionais da qualidade de ensino são muito ruins, o estado está melhorando, mas ainda abaixo do desejável. E a queda do desempenho é maior no ensino médio.

O GLOBO – Qual o pano de fundo das mudanças?

MARIA HELENA: Temos problemas pontuais na estrutura, que serão resolvidos rapidamente. Temos ainda escolas de lata, faltam computadores, menos de 40% têm acesso à internet, falta acessibilidade para deficientes físicos. Tudo está contemplado no plano. Mas não é só isso que resolve a aprendizagem. O que falta? Um número maior de  coordenadores pedagógicos e várias mudanças. Porque o aluno reprovado larga e vai embora, desiste. Apesar de as taxas de cobertura serem muito altas perto das médias nacionais, inclusive no ensino superior, tem um contingente muito grande de alunos que estão abandonando a escola. A prioridade é ensinar a ler e escrever até os 8 anos, num projeto completo. Segundo, reorganizar a progressão continuada, inicialmente com dois ciclos de dois anos. E, independentemente do novo desenho dos ciclos, o sistema passará a ter, já no próximo ano, uma proposta curricular, contendo as expectavas de aprendizagem para cada série e cada disciplina. Cada escola receberá uma base curricular comum e deverá cumpri-la. A escola terá liberdade pedagógica, mas vai ter que levar em conta a base curricular comum. Está cada uma de um jeito. Descobrimos mais de 180 sistemas de avaliação. Agora teremos um boletim, com notas, na escala de zero a 10.