O metrô debaixo do rio

Jornal da Tarde - Sexta-feira, dia 25 de agosto de 2006

sex, 25/08/2006 - 10h29 | Do Portal do Governo

Túnel está sendo cavado 15 m abaixo do Pinheiros

ARYANE CARARO, aryane.cararo@grupoestado.com.br

Até hoje, a mulher do maranhense Antônio Francisco, 22 anos, não acredita que ele tenha cruzado o Rio Pinheiros, 15 metros abaixo do leito, sem ter sido contaminado por nenhum respingo de água. “Ela pergunta: mas isso não vai despencar na sua cabeça, não? Você não tem medo de morrer?”, conta o rapaz.

Medo, o maranhense até teve no começo, mas logo percebeu que esse negócio de engenharia do Metrô era seguro mesmo. Há dez dias, ele e outros 119 operários, que se revezam dia e noite em três turnos na equipe Valdemar Ferreira, finalizaram a travessia subterrânea dos 76 metros de leito do Rio Pinheiros.

É a primeira vez no Brasil que um túnel de metrô, nesse caso a Linha 4-Amarela (Vila Sônia-Luz), passa sob um rio. “A gente até brincava que ia colocar bóias e que se o rio caísse aqui dentro teríamos de tratá-lo inteiro”, diverte-se o engenheiro supervisor de obras Jelson Siqueira.

Brincadeiras à parte, a equipe de engenharia do metrô estava tranqüila devido às inúmeras prospecções geológicas feitas. Mas como foi possível passar por baixo do rio sem que a água invadisse o túnel?

“O túnel tem que ter uma cobertura de pelo menos uma vez o diâmetro dele, que é de 9 metros”, explica Siqueira. Os 15 metros que separam o fundo do leito do rio do topo do túnel, então, seriam suficientes para garantir a estabilidade. Além disso, diz o engenheiro, essa camada é de rocha, impermeável, o que impede que as águas do Pinheiros avancem para o fundo. Muito embora isso não impeça as inúmeras goteiras do lençol freático.

Para certificar-se, porém, que nada de errado acontecerá, até prospecções geológicas no eixo do Pinheiros foram feitas. Como esse trecho é de rocha, o Metrô está tendo de abrir espaço no subsolo com explosivos. A cada 1,20 m que se avança por dia, em média, são usados 48 quilos de explosivos.

Do túnel de ventilação até agora, os operários já escavaram 415 metros em direção à Estação Pinheiros, a uma profundidade de 39 metros, em média, abaixo do nível do solo. Faltam mais 42 metros para chegar ao corpo da estação, que está sendo escavado por outra equipe. Isso deve levar cerca de 40 dias. Siqueira explica que o túnel ainda receberá uma manta de impermeabilização, para impedir goteiras, e concreto moldado in loco. “Só não deu para fazer de vidro”, brinca Siqueira. De fato, a vista das garrafas pet boiando não seria agradável.