Número de cursos tecnológicos cresce 600% em dez anos

Folha de São Paulo - Terça-feira, dia 6 de junho de 2006

ter, 06/06/2006 - 10h55 | Do Portal do Governo

Graduação é mais curta e fica voltada para a prática

SIMONE HARNIK

DA REPORTAGEM LOCAL

A oferta de cursos tecnológicos no país passou por um boom nos últimos anos. O crescimento de 1994 a 2004, segundo o Ministério da Educação, alcançou os vultosos 591,19%. Já o conjunto dos cursos superiores aumentou 234% no mesmo período. E a expansão da oferta tende a continuar.

De acordo com os dados de cadastro de 2006 do MEC, o crescimento de 2004 até hoje foi de 96,67% (o número de cursos passou de 1.804 para 3.548). Esse tipo de graduação mais curta e voltada para a prática, cada vez mais, se firma como uma opção dos estudantes.

É o caso de Thiago Alexandre Alves Assumpção, 21, que cursa materiais, processos e componentes eletrônicos na Fatec. “Pensei em prestar engenharia da computação e física. Mas vi no currículo do curso que tinha muito do que eu queria estudar. Principalmente na parte de hardware dos computadores”, conta. Hoje, ele já faz planos para o fim do curso. “Pretendo fazer um mestrado na USP.”

No Estado de São Paulo, a própria Fatec passou por um aumento expressivo. De 1996 até 2001, as Fatecs ofereciam 1.570 vagas, em 16 cursos de nove unidades. Atualmente, são 3.780 vagas distribuídas em 29 cursos de 26 unidades.

“Precisava haver esse crescimento, porque o Brasil tinha um número de tecnólogos muito aquém do que é apresentado fora”, diz o assessor de educação superior do Centro Paula Souza, João Mongelli Netto.

Algumas dúvidas em relação ao tecnológico ainda permanecem. A principal está relacionada com o nome do curso. “Tem gente que ainda confunde curso tecnológico com técnico”, diz Mongelli Netto.

A indecisão de Denis Kenzo Caneshiro, 19, é um pouco diferente. Ele vai ter de decidir entre duas paixões: bacharelado em biologia ou tecnológico em gastronomia. “Desde criança gosto do mar, dos peixes. E agora tenho amigos que fazem gastronomia. Até trabalhei como sushiman e gostei bastante.”E o mercado?

De acordo com o reitor do Centro Universitário Senac, Rogério Massaro Suriani, as graduações tecnológicas são destinadas a quem quer ir para o mercado mais rapidamente. “Os tecnólogos ocupam as chefias e as gerências operacionais, e a inserção no mercado tem sido de até 70%”, explica.

E, segundo o último levantamento do Centro Paula Souza, realizado em 2005, 95% dos alunos que concluíram a Fatec em 2002 e em 2003 estavam empregados.

“O mercado de trabalho tem boa receptividade. Mas os conselhos profissionais ainda estabelecem restrições”, afirma Décio Moreira, presidente do Sindicato dos Tecnólogos. Um exemplo é o tecnólogo de edifícios, que não pode assinar projetos como os engenheiros. “Consegui uma liminar para garantir esse direito”, diz.

Uma medida para reafirmar a identidade do tecnólogo foi a criação de um catálogo de cursos pelo MEC. Agora, nomes criativos demais, que restringiam a habilitação ou expandiam muito, foram eliminados.

“Mas esse catálogo não vai ser estático, porque as tecnologias mudam”, afirma a coordenadora-geral de avaliação da educação profissional e tecnológica do MEC, Andréa de Faria Barros Andrade.