No metrô, venda de 15 mil livros por mês

O Estado de S.Paulo - Sábado, 12 de maio de 2007

sáb, 12/05/2007 - 12h35 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Até abril do ano passado, as histórias de Sherlock Holmes – o famoso detetive criado pelo escritor inglês Arthur Conan Doyle – eram pouco familiares para Erick Paulino, de 19 anos, atendente técnico da Net. Foi quando seu irmão Vinícius lhe contou que havia comprado um livro do personagem em uma máquina na Estação Sé do metrô. “Nunca tinha me interessado em ver algum livro na estação. Comprei o primeiro e não parei mais. Virei fã do Sherlock”, disse Paulino.

E virou mesmo. A ponto de sair em busca de todos os 13 volumes da coleção vendida nas máquinas. Foi, inclusive, até a sede da 24×7 Cultural, empresa que opera os aparelhos, para completá-la. “Agora só falta um, que nem eles têm.”

Paulino é um exemplo do sucesso da idéia que o empresário Fábio Bueno Netto, de 47 anos, teve em 2001: vender livros a preço baixo em máquinas semelhantes às de refrigerantes e salgadinhos. A idéia era comercializar obras já sem custos de direitos autorais e comprar em grandes lotes para barganhar com as editoras. O alvo, é claro, eram os lugares de grande fluxo de pessoas. A negociação com o Metrô durou dois anos, até que, em março de 2003, Bueno Netto instalou a primeira máquina, na Estação São Joaquim. “Era um Frankenstein, cheia de problemas”, lembra ele, um dos sócios das 24×7.

O primeiro contrato com o Metrô tinha duração de apenas seis meses, e até hoje vem sendo prorrogado. “Deu tão certo que os passageiros nos procuram para saber quando vão instalar uma máquina na estação que eles utilizam”, disse Cristina Bastos, chefe do departamento de Novos Negócios do Metrô. Atualmente há 18 máquinas em estações, e a taxa de concessão do espaço é de R$ 550 para cada uma. Existem mais três no País – uma no Poupatempo Sé, uma na Estação Carioca do metrô do Rio e outra num shopping em Maringá (PR).

A campeã de vendas é, de longe, a Estação Sé, por onde circulam 700 mil pessoas por dia. As dez máquinas instaladas ali respondem por quase metade dos cerca de 15 mil livros vendidos todo mês.

O catálogo da “biblioteca do metrô” tem mais de 500 títulos. A maioria deles é vendida por R$ 4,99. A obra mais cara atualmente custa R$ 14,99 – preço do áudio-livro O Caçador de Pipas, hoje no topo de várias listas de mais vendidos. Mas se engana quem imagina que os best-sellers do metrô são os mesmos das livrarias comuns. Por dois anos, a obra mais procurada era o desconhecido Dicionário de Matemática. Hoje comandam as vendas o Código Civil e um manual do software Excel. “Tem muita gente que compra esses livros porque se sente desatualizada em informática”, afirmou Bueno Netto.

É o caso do aposentado João Martinho, de 70 anos, que mora na Liberdade e está fazendo um curso de iniciantes em computação. Por R$ 8,99, ele adquiriu ontem 500 Dicas de Excel, Access, Word e Power Point. “Essa maquininha é uma comodidade, sem contar o preço bom”, disse Martinho, que já comprou pelo menos cinco livros de máquina.

Além do reconhecimento dos passageiros do metrô, a iniciativa de Bueno Netto recebeu no ano passado o Prêmio Empreendedor do Novo Brasil, do Instituto Empreender Endeavor. O presidente da Associação de Leitura do Brasil (ALB) e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ezequiel Teodoro da Silva, considera a idéia das máquinas de livros “primorosa”. “Elas popularizam a leitura e estão diretamente relacionadas a uma tendência: o hábito de ler durante viagens interurbanas”, acredita o professor.