Leilão de rodovia de SP tem deságio de até 55%

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 30 de outubro de 2008

qui, 30/10/2008 - 11h08 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

O governo de São Paulo, mesmo diante de uma das maiores crises de crédito das últimas décadas, obteve sucesso no leilão de cinco lotes de rodovias paulistas, na retomada do processo de concessão rodoviária no Estado. Foram concedidos 1.700 quilômetros de rodovias pedagiadas e outros 900 quilômetros de vicinais.

Com isso, o Estado receberá, nos próximos 18 meses, R$ 3,4 bilhões em recursos oriundos do pagamento da outorga e viabilizará investimentos privados de R$ 8 bilhões ao longo dos 30 anos de concessão.

O número de participantes foi bem menor do que as 35 empresas que fizeram visitas técnicas aos corredores colocados em leilão. Apenas nove empresas entregaram formalmente propostas. A explicação para a desistência de uma parte expressiva de interessados foi a dificuldade de viabilizar a estrutura de financiamento num momento de brutal retração no sistema de crédito.

Mesmo alguns grupos que venceram o leilão anunciaram, durante o dia, que aguardam a melhoria do mercado de crédito para concluir as operações financeiras definitivas. É o caso da Odebrecht, que levou a D. Pedro 1º em disputa solitária.

Segundo os investidores, as perspectivas de retorno de longo prazo e as garantias jurídicas para os contratos de concessão superaram os problemas momentâneos para a estruturação dos projetos. “Há uma segurança regulatória importante em São Paulo que nos levou a fazer essa aposta”, disse Martus Tavares, presidente da BR Vias.

De acordo com os grupos que venceram as concorrências, quatro bancos privados (Itaú-BBA, Santander, Votorantim e Banco Espírito Santo) aceitaram fechar operações de empréstimo-ponte para o pagamento da outorga e a execução dos primeiros investimentos. Mas, por enquanto, são os bancos estatais e instituições multilaterais que sustentaram o leilão. Além do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), garantiram financiamentos para investimento o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a CAF (Cooperação Andina de Fomento) e o Banco do Nordeste.

Mesmo diante da crise no sistema de crédito, a disputa, ainda que com número menor de interessados, trouxe altos descontos. Os deságios sobre os preços-teto fixados no leilão variaram de 6,01% (o menor), para o corredor D. Pedro 1º, a 54,9% (o maior), ofertado pela concessão da rodovia Ayrton Senna/Carvalho Pinto, dado pelo grupo Triunfo. Outro desconto elevado foi oferecido pela BRVias, que arrematou o trecho oeste da Marechal Rondon depois de oferecer deságio de 40,6% -ou R$ 0,064099 por quilômetro.

O consórcio Brasinfra, formado pela Cibe (Bertin e Equipav), a portuguesa Ascendi e o grupo Leão & Leão, ganhou o trecho leste da Marechal Rondon com tarifa de R$ 0,093774 por quilômetro (desconto de 13,09%). O último lote arrematado foi a Raposo Tavares. O consórcio Invepar/OAS ofereceu deságio de 16,11% (preço de R$ 0,090525 por quilômetro).

Ayrton Senna

A maior disputa no leilão ocorreu na concessão da Ayrton Senna/Carvalho Pinto. Segundo Carlo Battorelli, presidente da Triunfo -único a apresentar proposta para todos os cinco lotes-, a tarifa para a rodovia será equivalente à cobrada na via Dutra.

“Achamos que os descontos que oferecemos serão compensados com o aumento do tráfego que deverá migrar da Dutra para a Ayrton Senna, uma estrada com melhores condições de tráfego”, avaliou. Segundo ele, a estratégia poderá elevar o fluxo em até 6.000 veículos por dia. O grupo fechou operação de crédito-ponte de R$ 200 milhões com o banco Votorantim.