Interior de SP abriga pólos especializados

O Estado de S.Paulo - Domingo, 11 de dezembro de 2005

seg, 12/12/2005 - 12h00 | Do Portal do Governo

Em Limeira, o forte são as bijuterias, Rio Preto dedica-se à fabricação de jóias e Santa Gertrudes se dedica à produção de cerâmica

José Maria Tomazela

Ex-cortador de cana, Francisco Edson de Castro, de 46 anos, trocou o duro trabalho na lavoura, sob chuva ou sol inclemente, pelo conforto de um galpão com temperatura controlada onde, em vez de manejar o facão, aperta botões e opera uma prensa hidráulica.

Além das condições de trabalho, o ganho médio mensal também melhorou, passando de R$ 490 para R$ 620 por mês. Ele é um dos 9 mil empregados do pólo de bijuterias e semijóias de Limeira, setor produtivo que já agrega 450 empresas formalizadas e gera outros 50 mil empregos indiretos.

Para a cidade, de 270 mil habitantes, a 150 km da capital paulista, a fabricação de bijuterias passou a ser um novo e importante negócio, atraindo a mão-de-obra excedente das tradicionais lavouras de laranja e cana-de-açúcar.

Desde que a primeira fábrica se instalou, em 1938, fundada por João Martins Cardoso, o pólo não pára de crescer. Em 1980, agregou o ramo de jóias folheadas. Estima-se que outras 200 pequenas empresas informais atuem no setor, absorvendo um número ainda maior de empregados sem registro. Aposentados e donas de casa engordam o orçamento fazendo a montagem das peças em casa.

De acordo com o Sindicato dos Fabricantes de Jóias (Sindjóias), Limeira produz 500 toneladas de peças por mês, o que representa 30% do faturamento nacional de jóias – ouro e prata, principalmente – e 90% do mercado interno de folheados – peças banhadas a ouro. A cidade é considerada a capital brasileira do folheado.

Segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais (IBGM), o Brasil exportou US$ 48 milhões em bijuterias e folheados em 2004 e, até outubro deste ano, US$ 59 milhões, o que já representa aumento de 22% nas exportações. O setor movimenta cerca de US$ 100 milhões por ano.

Segundo o vice-presidente da Associação Limeirense de Jóias (ALJ), Rodolfo Mereb, os números seriam ainda mais positivos não fossem a queda na cotação do dólar e os embargos à importação de matéria-prima por conta da gripe aviária. Um lote de correntes importado da Ásia aguarda liberação há mais de 30 dias no Porto de Santos por causa de barreiras sanitárias a pretexto de evitar a entrada da doença no País.

A força do segmento se reflete em dois importantes eventos do setor que se realizam anualmente na cidade. A feira de fabricantes Aljóias, realizada em agosto, é considerada a maior da cadeia produtiva na América Latina e recebeu, na última edição, compradores de 22 países, movimentando R$ 30 milhões. Já a Abril Fashion teve o lançamento em outubro e foi concebida para ser o elo entre o setor produtivo e o mundo da moda. O evento, de 4 a 7 de abril, já teve mais de 50% dos estandes vendidos.

PRECIOSIDADES
Em São José do Rio Preto, a 440 km da capital, são as jóias que fazem sucesso. O Pólo Joalheiro reúne 150 empresas, a maioria micro e pequenas, empregando 4 mil pessoas. A prefeitura, em parceria com o Sebrae e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), criou o Arranjo Produtivo Local de Jóias (APL) com o objetivo de melhorar a qualidade e aumentar a produtividade, visando à atuação em mercados internacionais.

Foram oferecidos cursos para lapidadores, ourives e designers. Atuando em qualidade, gestão, tecnologia e design, o APL já registrou aumento de 17% na produtividade e redução de custos de 15%. O próximo passo será a construção do Condomínio Industrial do APL de Jóias, em área já destinada pela prefeitura. Além das empresas, o condomínio contará com incubadora, centro de eventos, centro tecnológico, laboratório e ferramentaria.

PELÚCIA
A pequena Tabatinga, a 340 km de São Paulo, transformou-se num pólo produtor e exportador de bichinhos de pelúcia. Eles passaram a figurar até no brasão da cidade fundada em 1896 e conhecida, no passado, pela excelência do seu café.

As 33 fabricantes empregam 4 mil pessoas, mas há um número significativo prestando serviços ou trabalhando informalmente na atividade. Além das fábricas, são dezenas de pequenas confecções fazendo as roupinhas de ursinhos, coelhinhos e, também, de bebês.

Para isso, empregam costureiras, bordadeiras, desenhistas e outros profissionais. Estima-se que a grande maioria dos 13 mil moradores esteja ligada, direta ou indiretamente, à atividade. A produção, incluindo peças de grande porte, como ursos gigantes, chega a 150 mil peças por mês.

Uma única empresa, a Juna Baby, com 40 funcionários, produz mensalmente 20 mil bichos. Os bichinhos de pelúcia compõem uma importante linha de brinquedos destinados à primeira idade, que respondem por 64% do faturamento anual da indústria nacional de brinquedos, de cerca de R$ 1 bilhão. O Sebrae e a prefeitura trabalham para reduzir a informalidade.

CERÂMICAS
A cidade de Santa Gertrudes, no eixo da Rodovia Anhangüera, a 165 km de São Paulo, teve sua economia baseada na lavoura cafeeira. Na busca de novas opções, os moradores descobriram a boa qualidade e a facilidade de obtenção da rica argila existente no subsolo. As primeiras cerâmicas surgiram nas décadas de 20 e 30 do século passado para a produção de telhas e tijolos.

Na época, a preparação da argila era feita com tração animal e a produção era basicamente manual. Mais tarde, as unidades passaram a produzir pisos – os tradicionais lajotões cerâmicos. Hoje, Santa Gertrudes e as cidades de Rio Claro, Limeira, Cordeirópolis, Ipeúna, Piracicaba e Araras formam o maior pólo cerâmico das Américas. De acordo com a Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer), são 48 indústrias, responsáveis por 13 mil empregos diretos e 195 mil indiretos.

O pólo responde por um terço da produção nacional de pisos, azulejos e outros revestimentos cerâmicos. De acordo com o presidente da Aspacer, João Oscar Bergstron Neto, de janeiro a setembro deste ano a produção do Estado foi de 271,5 milhões de metros quadrados, 11% maior que o mesmo período de 2004.

O pólo de Santa Gertrudes foi responsável por 81% da produção – 221,1 milhões. As vendas no mercado interno apresentaram aumento de 5% no mesmo período. Ele observa que, embora as exportações do Estado tenham registrado queda de 6% – em 2004 foram exportados 34,3 milhões de metros quadrados ante 32,1 milhões deste ano -, as vendas externas das empresas do pólo tiveram acréscimo de 35%. ‘Vendemos mais fora este ano, e nossa participação nas exportações do Estado subiu para 80%.’

As principais exportadoras, em volume de material, são as cerâmicas Cecafi, Delta, Grupo Embramaco, Formigres, Incefra e Lef. Ao lado dessas indústrias de ponta, sobrevive a atividade artesanal. Cerca de 20 artesãos produzem peças em biscuit, mosaicos e cerâmicas decorativas, trabalhados em forno a lenha.

Outro pólo cerâmico, na região de Itu, especializou-se em cerâmica vermelha – telhas, blocos e lajes. São 70 empresas em 21 municípios, com 4,5 mil funcionários e cerca de 7,5 mil contratados indiretamente.