IAC aprimora produção de seringais paulistas

Correio Popular - Campinas - Domingo, 20 de fevereiro de 2005

seg, 21/02/2005 - 11h01 | Do Portal do Governo

Produtores da região Noroeste de São Paulo apostam na exploração de borracha natural; pesquisadores buscam maior produtividade

Angela Kuhlmann
Especial para a Agência Anhangüera

Quando se fala em seringueiras vem à mente imediatamente a Floresta Amazônica, berço mundial da espécie denominada Hevea brasilliensis, mola propulsora de um período próspero e glorioso daquela região no final do século 19 e início do 20, conhecido historicamente como Ciclo da Borracha cujos produtores enriqueceram e chegaram a requintes do mais alto luxo contrastante com a paisagem natural da região, e ainda deixaram como herança, monumentos e obras do período áureo do produto, entre eles o Teatro Amazonas, em Manaus que chegou a ser chamada de “Paris dos Trópicos”.

Mais de um século depois, muitos desconhecem o início de outro ciclo da borracha cuja produção brota, se expande e prospera a passos acelerados, mas bem longe da floresta: na região Noroeste do Estado de São Paulo, onde está 49% da produção nacional atual de borracha, espalhada em 80 mil hectares do planalto central paulista em conhecidos municípios como São José do Rio Preto, Barretos, General Salgado, Tupã, Votuporanga e Catanduva.

Apesar do crescimento anual ser registrado em vários estados brasileiros da área Centro-Sudeste, o plantio aumenta consideravelmente em São Paulo – aumento de 33% em 2004 comparado a 2003, quando passou de 60 mil hectares para 80 mil hectares. Apesar disso, a produção é insignificante e representa somente 1,3% da produção mundial, de 7,9 milhões de toneladas, concentrada em 78% em países asiáticos.

Em 2003 foram produzidas no Brasil, 105 mil toneladas e importadas 175 mil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), números que demonstram uma dependência externa de cerca de 66% do consumo que, em 2004, chegou a 280 mil toneladas.

De fato, os números brasileiros gritam se comparados aos da Ásia para onde as primeiras sementes foram pirateadas ainda no auge do Ciclo da Borracha, ação que acabou provocando o declínio da economia amazonense por décadas seguidas e transformando a Ásia na maior produtora mundial e também detentora de 58% do consumo do planeta, sendo que somente a China compra 19%, seguida pela União Européia, com 16%, e os Estados Unidos, com 15%.

Apesar da curva crescente de crescimento desde 1994, quando a produção mundial foi de 5,7 milhões de toneladas, as previsões para o futuro são sombrias. O International Rubber Study Group (IRSG) projeta para 2020 uma ligeira queda na produção mundial para 7 milhões de toneladas, mas um aumento de consumo de quase dois milhões de toneladas anuais, batendo na casa dos 9,7 milhões necessários para atender o mercado.

Vigor

De olho nessa possibilidade de falta do produto e na alta rentabilidade da cultura, muitos produtores do estado estão entrando para o “clube da borracha” com o apoio de pesquisadores da espécie que desenvolvem seus experimentos no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). E já estão aguardando os resultados das teses de mestrado de dois deles que entraram em campo na Fazenda Santa Elisa, do IAC, em busca de melhorias voltadas ao mercado produtor, sob orientação do pesquisador científico Paulo de Souza Gonçalves, especialista em herveicultura (cultura da seringueira).

Em focos distintos mas com o mesmo objetivo, o engenheiro agrônomo Átila Bento Beleti Cardinal desenvolve sua tese na área de enxertos a partir de clones das espécies exemplares e mais produtivas, cruzados com outros clones selecionados e já identificados, enquanto a pesquisadora agrícola Patrícia Helena Nogueira Turco dedica sua investigação ao aprimoramento das técnicas de sangria do tronco (de onde se extrai a borracha); ambos com a finalidade de aumentar a produtividade por árvore.

“O meu estudo consiste em combinar seis materiais de enxertos com outros seis materiais de porta-enxertos. Tenho 36 combinações de clones de várias origens e meu objetivo é chegar naquele por meio do qual se obtenha maior vigor da árvore, crescimento mais rápido e, portanto, maior produção”, explicou Cardinal.

Mais centrada na sangria (como é chamada a extração), Patrícia estuda a freqüência da retirada do produto do tronco da árvore. “Estudo períodos de sangria, que variam de dois em dois dias até a cada sete dias para tentar descobrir qual é o ideal para cada árvore e, com isso, tentar baratear o custo da mão-de-obra pois um sangrador tem um salário acima da média por ser um trabalho que exige conhecimento e habilidade para não danificar a árvore”, relatou a pesquisadora.

De acordo com ela, um bom sangrador percorre até 800 árvores por dia. O estudo feito por ela tem como finalidade tentar diminuir a freqüência das “visitas” dele a cada seringueira para assim aumentar a quantidade de árvores sangradas simultaneamente assim como a quantidade de borracha extraída de cada uma.

Cultura é uma das mais rentáveis do Estado

A introdução das seringueiras em solo paulista é de autoria do coronel Procópio Ferraz, amigo do Marechal Rondon que solicitou a ele, em 1942, o envio de sementes da espécie amazônica para plantio no município de Gavião Peixoto, próximo a Araraquara. “Após esse primeiro cultivo foi constatada uma excelente adaptação da planta ao clima do planalto central paulista mas com uma vantagem imbatível; as novas plantações estavam livres do fungo chamado de “mal das folhas” que persiste na Amazônia e impede atualmente o cultivo em larga escala naquela região, onde só sobrevivem as árvores nativas”, disse o pesquisador Paulo de Souza Gonçalves.

Segundo ele, a partir dessa comprovação a área cultivada no Estado de São Paulo foi se ampliando e hoje é uma das culturas mais rentáveis para os produtores da região com quase 2 mil quilos por hectare/ano ao preço de R$ 1,48 o quilo do coágulo (produto puro e ainda úmido) e R$ 4,00 o da borracha seca. Gonçalves explicou que os seringais paulistas estão entre os mais produtivos se comparados à média dos tradicionais países produtores. “Na Tailândia é de 1,1 mil quilos por hectare/ano; na Indonésia é de 750 quilos por hectare/ano, e na Malásia, 1 mil quilos por hectare/ano. Esses três países juntos contribuem com 63% da produção mundial e 85% dessa produção é originária da agricultura familiar.