Fábrica de Cultura vai ampliar cidadania e reduzir violência

O Estado de São Paulo - Suplemento Estadão Leste - Sexta-feira, 11 de março de 2005

sex, 11/03/2005 - 10h47 | Do Portal do Governo

Iniciativa estadual criará complexo com 4 andares de atividades artísticas, incluindo cinemas, teatro e biblioteca

Rita de Cássia Loiola
De Sapopemba

Segundo maior distrito da capital, com quase 300 mil habitantes, Sapopemba também é um dos dez bairros mais violentos da cidade. Sem teatro, cinema, centro cultural e ou espaço artístico. Cruzando essas informações, moradores e poder público perceberam que, no bairro, o vazio cultural encontra eco na criminalidade. E decidiram reverter esse quadro até março de 2006.

Nessa data, o bairro ganhará uma Fábrica de Cultura, em um programa audacioso da Secretaria de Estado da Cultura que beneficiará mais oito distritos. O projeto de construção foi apresentado no mês passado. Agora, só falta o aval do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), um dos financiadores, para dar início aos dois prédios de quatro andares que terão até 20 salas para atividades artísticas e culturais, cinemas (externo e interno), teatro para 250 pessoas, centro de documentação e biblioteca circulante com mil títulos, além de espaços para gravação de vídeos e salas de exposições.

Haverá cerca de 2.600 metros quadrados de área construída. O início das obras está previsto para abril. Entre as oficinas culturais, haverá fotografia, dança, teatro, videoarte, artes plásticas, desenho, gravura, música, rádio e produção de textos. O BID vai investir US$ 20 milhões na construção das nove unidades (Jardim São Luís, Capão Redondo, Brasilândia, Vila Nova Cachoeirinha, Jaçanã, Itaim Paulista, Vila Curuçá, Cidade Tiradentes e Sapopemba) e o governo do Estado, outros US$ 10 milhões.

Pesquisa

As áreas destinadas aos empreendimentos já estão definidas. Em Sapopemba, será um terreno da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) de cerca de 4 mil metros quadrados. Ao redor, há 1.800 unidades da CDHU, onde moram quase 20 mil pessoas.

Grande parte nunca foi a um teatro. “Em 2002, uma pesquisa da Fundação Seade nos mostrou as áreas de São Paulo com maior vulnerabilidade juvenil”, explica Wagner Antônio dos Santos, coordenador do Programa Fábricas. O índice retrata onde estão os adolescentes em situação de risco ou exclusão social na capital. “E, coincidentemente, as áreas de vazios culturais batem com os locais mais vulneráveis. A fábrica é um modo de ampliar os projetos da secretaria que já atuavam nesses locais e usar a cultura como ferramenta para diminuir a violência.”

E o programa vai além. Em cada distrito, 15 entidades terão o espaço físico reformado e seus profissionais serão capacitados para fazer a fábrica funcionar a todo vapor. Por isso, todas as etapas do programa são discutidas à exaustão com a comunidade.“ A idéia é que o prédio não seja um elefante branco nos bairros. Precisamos que a comunidade se aproprie e defina a agenda de atividades”, afirma Santos.

Banho

O mapeamento dessas instituições e das necessidades é feito por pesquisadores. Para essa etapa preparatória foram usados US$ 450 mil do Fundo Especial Japonês, angariados pelo BID. Na próxima semana, os relatórios estarão prontos. Cada fábrica terá um conselho distrital e um comitê de jovens assessores para ajudar na gestão do espaço. E os resultados das atividades culturais
serão avaliados em uma iniciativa inédita pela Fundação Seade. Durante seis anos, os técnicos medirão a eficiência do programa na juventude, para saber o impacto do banho cultural nos bairros.

Assim que a secretaria tiver em mãos o banco de dados com a demanda dos moradores, a Fábrica de Cultura começará a sair do papel. E, no ano que vem, Sapopemba e Cidade Tiradentes já verão os primeiros produtos da iniciativa – que ainda poderá ser exportada para outros países, se for bem-sucedida.

As poucas opções estão distantes da comunidade

Participação – As associações de bairro perceberam que precisavam de atividades culturais há muito tempo.O teatro mais próximo é o Arthur Azevedo, na Mooca. Cinema, só há no Shopping Aricanduva. Espaço para artes plástica, não existe. Os dois CEUs inaugurados no ano passado são as únicas opções, mas ainda assim a condução para quem mora no bairro é difícil – não há, por exemplo, ônibus no fim da noite.

No início de 2002, alguns moradores enviaram à CDHU um projeto para um espaço cultural com teatro, salas de projeção e biblioteca. “Mas como era muito caro, não foi aceito”, explica Osmar Silva Borges, presidente da Associação de Moradores 26 de Julho. “Não desistimos e continuamos cutucando a Secretaria de Cultura.” Depois, os moradores souberam que existia o projeto das Fábricas. “Nas reuniões com a CDHU, nos disseram que a Secretaria de Cultura estava procurando áreas para a instalação. Então oferecemos o que tínhamos para o projeto”, conta Maria Conceição Catanhede, integrante da associação.