Exemplo em segurança e ensino

Jornal da Tarde - Terça-feira, 7 de agosto de 2007

ter, 07/08/2007 - 11h17 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Apesar de localizada no Jardim Vale Verde, região de alta vulnerabilidade social da Zona Sul, a Escola Estadual Capela 4 não tem muros no entorno. Suas paredes não são pichadas, nem os vidros são quebrados. E mais: virou modelo em segurança.

Com 1,1 mil alunos de 1ª série ao 1º ano do ensino médio, a escola foi inaugurada há dois anos. Desde o início, sua direção optou por adotar um modelo de gestão simples, baseado na autonomia dos professores e na participação dos pais nas tomadas de decisão da escola.

A diretora Ana Lúcia Mendonça lembra, porém, que o começo não foi fácil. “A escola foi construída e, logo depois de ser inaugurada, teve os vidros das janelas quebrados por vândalos. Mas não desanimei. Chamei os alunos e membros da comunidade para termos uma séria conversa. A partir daquele momento, os pais e professores passaram a me ajudar e hoje todos respeitam muito o nosso espaço.”

Não foi só o diálogo que garantiu a segurança. A participação dos funcionários e da comunidade na tomada de decisões foi fundamental. “Chamamos os pais para participar do Conselho de Escola, os professores são comprometidos e motivamos a criação do Grêmio Estudantil, o que garantiu a participação ativa de todos na gestão”, explica Ana.

Já professora de língua portuguesa Marisa Silva destaca o engajamento da escola na realização de um projeto pedagógico voltado à valorização do aluno. “Quando cheguei aqui para dar aulas, me espantei com algumas histórias que ouvi. Havia aluno que tinha visto a mãe ser assassinada, outro não conhecia o pai. Foi por isso que resolvemos fazer um trabalho de resgate da auto-estima dos estudantes.” O projeto pedagógico abrange desde ações simples, como tirar fotos dos jovens com seus amigos na escola, até aulas de dança.

Segundo o professor de 4ª série Juvenal Domingues, que leciona há 14 anos na região, não é fácil para as escolas conseguir manter a disciplina e o espaço físico conservado. “Já dei aulas em uma escola onde tiveram de separar a briga dos alunos com pedaço de pau. O que faz diferença aqui é essa liderança que dá liberdade a todos. Na Capela 4, o comprometimento dos pais, professores e dos próprios alunos fazem com que a escola funcione.”

Vagas limitadas

A dona de casa Cícera Maria Pontes fez questão de que seu filho Paulo Henrique, 14 anos, fosse estudar na Escola Estadual Capela 4. “Moro no Jardim Horizonte Azul, a 20 minutos da Capela 4, mas tirei meu filho de uma escola mais próxima de casa e o matriculei aqui, pois o ensino é melhor e, sobretudo, há muita segurança.” A caminhada até a Capela 4, segundo Cícera, que hoje é membro do Conselho de Escola, vale a pena. “O bom é que a direção sempre mantém o contato com os pais. E acredito que é essa presença dos pais que inibe qualquer tipo de violência na escola.”

O profissional autônomo José Ferreira de Lima, pai dos alunos Wilson, 9 anos, e Erika, 8, conta que foi convidado pela escola a participar da tomada de decisões. “Nunca tinha sido membro de Conselho de Escola, mas eles me chamaram e eu aceitei. Tudo aqui é decidido em conjunto.” José está na fila de espera para matricular seu filho mais velho, Felipe, de 10 anos, na EE Capela 4. “Os professores aqui não faltam, diferente da escola onde Felipe estuda.”

Flávio Vieira da Silva, aluno da 7ª série, conta que sua mãe também fez questão de que ele estudasse ali. “Estudei em escolas perigosas, os professores faltavam muito.”