Etanol estimula investimentos no porto de São Sebastião

Valor Econômico - Quarta-feira, 15 de outubro de 2008

qua, 15/10/2008 - 14h27 | Do Portal do Governo

Valor Econômico

O porto de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, deverá receber investimentos da ordem de R$ 5 bilhões nos próximos quatro anos, a maior parte destinados à infra-estrutura logística para o etanol. Parte desses aportes será para a construção de um terminal de álcool interligado a um alcooduto, afirmou ao Valor Frederico Bussinger, presidente da Companhia Docas do Porto de São Sebastião.

“Temos uma área reservada no porto de cerca de 80 mil metros quadrados para os investimentos em etanol”, afirmou Bussinger. O pedido de licença ambiental foi feito em julho e as licitações deverão ocorrer a partir do segundo semestre de 2009.

O porto de São Sebastião hoje não escoa nenhuma gota de álcool, mas muitas empresas do setor sucroalcooleiro consideram o local estratégico para exportação, uma vez que o porto de Santos, o maior da América Latina, está com capacidade instalada praticamente no seu limite.

Três projetos para construção de alcoodutos foram anunciados no país, mas nenhum ainda saiu do papel. Contudo, os três grupos, Petrobras, Uniduto (formado por um pool de usinas, entre elas, Cosan, Copersucar e Crystalsev) e Brenco, analisam os portos de São Sebastião e Santos para possíveis investimentos. Cada projeto de alcooduto está estimado em cerca de US$ 1 bilhão. A Transpetro, subsidiária da Petrobras, já tem um terminal próprio em São Sebastião. “Há interesse de empresas do setor em investir em São Sebastião”, disse Bussinger.

Sem “vocação agrícola”, o porto de São Sebastião tenta aos poucos diversificar seus negócios. “Há alguns meses começamos a fazer embarques de animais vivos (gado, cavalos e suínos) e de mudas de árvores frutíferas para África, sobretudo para Angola, que está em reconstrução após a guerra civil”, disse Bussinger. “Exportávamos café pelo porto nos primórdios, mas hoje não mais”, afirmou.

Tradicionalmente, o porto de São Sebastião exporta granéis sólidos, sobretudo barrilhas (matéria-prima para detergentes) e sulfato, além de automóveis. “Cerca de 70% dos embarques no porto referem-se a granéis sólidos”, disse o executivo.

Segundo Bussinger, São Sebastião tem um diferencial em relação a Santos. “Temos um calado maior, com capacidade para recepcionar navios de grande porte”, disse. O porto também está bem localizado geograficamente, com acesso pelas rodovias Tamoios, Dom Pedro II e também por hidrovias, como a Tietê.

No curto prazo, parte dos investimentos começará a ser feita, com aporte entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,7 bilhão dos R$ 5 bilhões totais projetados, destinados para dragagem, aterros e tancagens. Nesse quesito, São Sebastião está em desvantagem em relação a Santos, que tem maior capacidade de tancagem. Outros R$ 880 milhões serão aplicados no projeto de construção de um duto, ligando Paulínia a São Sebastião, com extensão de 253 quilômetros. Esse duto será responsável pelo escoamento do álcool que chega a Paulínia até o porto.

Já os investimentos no terminal e na infra-estrutura para etanol deverão ser feitos a partir do segundo semestre de 2009, quando as licitações poderão ser realizadas. “Estamos ainda aguardando as licenças ambientais”, explicou o presidente da companhia docas do porto.

Desde o ano passado, a administração do porto de São Sebastião saiu da esfera do governo federal para a estadual. Bussinger acredita que essa mudança vai dinamizar os investimentos. Aportes pesados também deverão ser aplicados na construção de uma rodovia com 25 quilômetros de extensão entre Caraguatatuba e São Sebastião, o que facilitará o acesso de caminhões ao porto.

Além dos investimentos em etanol, o porto de São Sebastião deverá receber aportes para atender as atividades da área de “off shore” e contêineres. A idéia é que São Sebastião se torne também plataforma logística na exploração das novas descobertas do campo de Tupi e do gás no campo do Mexilhão e ainda sirva como alternativa no Estado, sobretudo, para cargas do Vale do Paraíba e interior paulista, desafogando o gargalo do sistema portuário brasileiro.