Despoluir o Pinheiros, tarefa de gerações

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 20 de março de 2008

qui, 20/03/2008 - 12h18 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

DILMA PENA

O rio Pinheiros vai ressuscitar. A melhora será paulatina, mas, no fim de 2009, já se notará uma boa diferença

O RIO Pinheiros vai ressuscitar. Voltará a ser local de esportes e lazer -terá uma ciclovia ao lado e, com a reurbanização de suas margens, que receberam 400 mil mudas de espécies vegetais, o rio, despoluído, será reincorporado de maneira agradável à paisagem da cidade, recuperando seu papel histórico.

A melhora será paulatina, mas, no fim de 2009, já se notará uma boa diferença. Vai demorar de dez a 12 anos para o Pinheiros ficar limpo -dependerá também de sua capacidade de recuperação.

Despoluir é tarefa de gerações que não pode ser interrompida. E exige a colaboração de todos. Não é apenas esgoto que polui um curso d’água. Todo lixo atirado na rua e não recolhido acaba chegando aos córregos e rios.

Os ingleses levaram um século e meio para sanear o Tâmisa e não jogam lixo na rua nem no rio. As primeiras obras de captação de esgoto datam de meados do século 19, e as de tratamento, do início dos anos 1950 -só duas décadas depois o Tâmisa estava despoluído. E o trabalho não pára.

Além disso, o rio que atravessa Londres tem vazão cinco vezes maior do que o Pinheiros (de apenas 10 m3/s, média anual de longo prazo), quase formado por “lagoas”, o que torna sua despoluição mais complexa, lenta e onerosa. Num corpo d’água corrente, a natureza oxigena o rio, degradando a matéria orgânica.

Quase 3 milhões de pessoas moram em torno da bacia do Pinheiros, onde se concentram dezenas de indústrias, gerando 10,9 mil litros de esgoto por segundo.

O governo do Estado de São Paulo enfrenta o desafio de despoluir o Tietê e o Pinheiros para garantir a disponibilidade de água ao abastecimento da população da região metropolitana da capital, resgatar o uso múltiplo de suas águas e recuperar e melhorar a qualidade ambiental e urbana.

Recuperado, o Pinheiros contribuirá também para a geração de energia, tornando o projeto de despoluição auto-sustentável.

A ciclovia, de 14,5 km, na margem oposta à da linha de trem, ligará a usina de Traição ao autódromo de Interlagos. As obras devem começar ainda neste ano.

Para a despoluição da bacia, foi implantado o Sistema de Interceptação Pinheiros, composto por coletores, estações elevatórias e interceptores de esgotos, além do teste de flotação da água. Em breve, a triste cena que se vê hoje -tubulações despejando esgoto no rio- vai acabar. Todo o esgoto será coletado e bombeado da nova estação elevatória Pomar para tratamento na ETE de Barueri, distante cerca de 20 km. Depois de tratado, será lançado no rio Tietê.

O governo de São Paulo já investiu R$ 470 milhões na despoluição da bacia do Pinheiros, com apoio do BID e do BNDES. As dezenas de indústrias que jogam esgoto no rio terão de usar a rede coletora às suas margens.

O governo do Estado, por meio da Empresa Metropolitana de Águas e Energia, está fazendo o teste no sistema de flotação das águas do rio Pinheiros para comprovar a eficiência do método na remoção da poluição difusa da região metropolitana.

Conforme acordo firmado com o Ministério Público, o teste do sistema de flotação envolve o tratamento das águas dos últimos 5 km do Pinheiros, pelo bombeamento de 10 m3/s para o reservatório Billings, fornecendo subsídios para a elaboração do relatório de impacto ambiental que será submetido ao Conselho Estadual do Meio Ambiente, que autorizará a implantação do projeto final, com a despoluição dos 25 km do rio.

A partir de 2010, a água do Pinheiros poderá ser bombeada para Billings, numa vazão de até 50 m3/s, captando 40 m3/s do Tietê. Essa vazão deixará de ser exportada para os municípios da bacia do Médio Tietê.

A melhoria da água do Pinheiros garantirá a retomada do bombeamento na estação elevatória de Pedreira, essencial à prioritária utilização de Billings para abastecimento urbano e para os demais usos da represa: controle de cheias, lazer e recreação, preservação e desenvolvimento de ecossistemas e geração de energia na usina de Henry Borden, em Cubatão, hoje subaproveitada.

Para a despoluição de rios e córregos paulistanos, o governo estadual executa o programa Córrego Limpo, em parceria com a prefeitura de São Paulo. Criado em 2007, o programa visa despoluir, em dez anos, os 300 córregos da capital. É essencial a colaboração de toda a população. Cidade limpa, cursos d’água limpos, expressão de seu povo.

DILMA SELI PENA, mestre em administração pública pela Fundação Getulio Vargas, é secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo e presidente do Fórum Nacional dos Secretários Estaduais de Saneamento. Foi diretora da ANA (Agência Nacional de Águas).