Desmonte do PCC começou na região de Campinas

Correio Popular - 30/11/2002

sáb, 30/11/2002 - 12h25 | Do Portal do Governo

Regime especial de disciplina desvendou, em Campinas e
Hortolândia, estratégias adotadas pelo grupo criminoso

O desmantelamento do Primeiro Comando da Capital (PCC) se deve em grande parte ao trabalho de disciplina desenvolvido dentro do Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia e Ataliba Nogueira, de onde eram comandadas muitas ações criminosas de membros da facção em liberdade. As medidas disciplinares implementadas a partir de setembro pela Vara e Promotoria de Execuções Criminais, além da Regional da Coordenadoria Estadual dos Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo (Coespe), sufocou o braço do PCC na região, que deixou de ser abastecido de informações e dinheiro obtido com os
crimes planejados dentro do complexo, que abriga cerca de 6 mil presos.

Os resultados foram a localização, neste ano, de 10 centrais telefônicas que operavam em Campinas a mando do PCC, redução do número de fugas de presos, identificação do bairro que levaram para a cadeira diversos integrantes da facção. Algumas ações não podem ser reveladas para não atrapalhar as investigações. Entre as medidas implementadas, de acordo com o promotor público Hebert Teixeira Mendes, foi a implantação do Regime Disciplinar Especial (RDE). Nele, o preso fica isolado por 23 horas, visitantes e funcionários que estão trabalhando nas portarias nos dias de visita passam por cadastramento e blitze são realizadas duas vezes por mês para localizar armas e celulares nos presídios, que passam a contar com detetores de metais. Até ser
adotado na região de Campinas, o RDE só era aplicado às lideranças máximas da facção, isoladas em presídios de segurança máxima como o Centro de Reabilitação Prisional (CRP) de Presidente Bernardes.

No entanto, a base da facção se movimentava livremente nas outras unidades, obedecendo ordens das liderenças de escalões mais baixos, que também agiam sem limitações. As vítimas, muitas alvo de extorsão por parte dos membros do PCC, acabavam sendo punidas, indo para o “seguro” (isolamento). “Hoje, esta situação se inverteu. Agora quem vai para o seguro e é isolado são os membros do PCC. Há mais tranqüilidade”, disse Teixeira Mendes.

As ordens diziam respeito tanto ao comportamento dos presos dentro das unidades prisionais como às ações
criminosas praticadas pelos membros da organização em liberdade, que dividiam os rendimentos com a facção.

A inauguração do Centro de Detenção Provisória 2 (CDP-2) em Hortolândia, transformado em uma unidade de regime especial, foi um dos primeiros passos para o combate às ações internas e externas do PCC. No RDE, o preso passa 23 horas na cela e recebe visita semanal de uma hora, apenas de parentes. Estas medidas dificultam a comunicação entre integrantes da facção.

Segundo Teixeira Mendes, até a entrada do regime em operação, os presos declaravam nas paredes das celas a sua simpatia pelo PCC. “Escreviam nas paredes as iniciais, falavam abertamente, chegando a intimidar agentes e outros presos. Isso só parou com o RDE. Atualmente, todo preso encontrado em uma cela com inscrição da facção é submetido a esse regime, além de responder imediatamente a inquérito por formação de quadrilha”, detalhou o promotor.

As medidas foram instituídas em setembro, mês que também entrou em operação a obrigatoriedade de se passar pelos detetores de metais nos presídios. “A portaria abrange todos, até juízes e promotores. Ninguém entra sem passar pelo equipamento eletrônico. O funcionário do Complexo, se está lá dentro e por qualquer motivo põe o pé para fora, tem que passar pelo detetor novamente”, explicou Teixeira Mendes.

Rose Guglielminetti,
da Agência Anhangüera