Ciência da USP no ensino médio

Jornal da Tarde - Sábado, dia 17 de junho de 2006

sáb, 17/06/2006 - 11h06 | Do Portal do Governo

Universidade escolherá melhores alunos de escolas públicas para freqüentar seus laboratórios

RENATA CAFARDO, renata.cafardo@grupoestado.com.br

A Universidade de São Paulo (USP) quer abrir seus laboratórios a jovens de escolas públicas. Mil melhores alunos do ensino médio seriam selecionados, a cada ano, para ter aulas práticas na USP. Eles terão bolsa de menos um salário mínimo para oito horas semanais.

A idéia – que cria uma espécie de pré-iniciação científica – é de uma das maiores cientistas do País e atual pró-reitora de pesquisa da USP, Mayana Zatz. O Centro de Estudos do Genoma Humano, laboratório que coordena, seria um dos abertos aos estudantes. Segundo ela, o projeto será entregue à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que poderão financiar as bolsas.

O objetivo é que ele comece a funcionar já no segundo semestre. “Além de verem como é a pesquisa na prática, os alunos podem perder a idéia de que o mundo da universidade é algo distante deles. Conhecerão alunos, professores, doutores”, diz Mayana. Estudos mostram que muitos jovens de escolas públicas sequer participam da Fuvest porque não têm esperança de êxito.

O projeto, chamado de Programa de Apoio ao Ensino Médio/Pré-Iniciação Científica, segue a mesma linha do Inclusp, divulgado no mês passado pela instituição. A partir deste ano, estudantes de escolas públicas terão bônus de 3% nas suas notas, na primeira e na segunda fase da Fuvest. A intenção da USP é de aumentar o índice atual de cerca de 20% de jovens da rede estadual que lá ingressam.

Mayana conta que outro objetivo do projeto é ajudar no ensino de ciência nas escolas, hoje precário em vários países do mundo.

Este ano, o maior exame internacional de estudantes, o Pisa, vai focar suas questões em ciência. Mayana lembra que mesmo quem não vai seguir a carreira científica aprende muito fazendo pesquisa. “Ela estimula o raciocínio do aluno e o questionamento de dados, por exemplo”, diz.

“Esse tipo de programa é interessante para a universidade e para o País. Há jovens pobres muito inteligentes que não têm oportunidade”, diz o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz. Segundo ele, a entidade já financiou bolsas de um programa semelhante que existe na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Lá, os estudantes de escolas públicas passam o mês de férias em laboratórios da instituição. O projeto existe há cerca de três anos e ajuda também a identificar vocações.

Segundo a pró-reitora, os melhores alunos poderão ser selecionados, tanto por indicação das escolas como pelo sistema de avaliação seriada, previsto no Inclusp. Por meio dele, estudantes da rede pública farão provas ao fim de cada ano do ensino médio e as notas serão integradas ao vestibular da Fuvest. O sistema, no entanto, ainda não tem data para começar a funcionar.

Os estudantes poderiam passar por mais de um laboratório na USP – inclusive de áreas de humanidades – e haveria sempre um tutor em cada um deles.

Segundo Mayana, já se dispuseram a participar do programa os Institutos de Ciências Biomédicas, de Matemática, de Física, de Química e Bioquímica, além da Faculdades de Veterinária, de Farmácia, de Medicina e de Educação, entre outras.

O projeto ainda pretende oferecer reciclagem a professores das escolas públicas. “Acredito que os alunos, mais tarde, possam concorrer no vestibular da USP ou de outra grande universidade em igualdade de condições”, diz Mayana, que defende alternativas ao sistema de cotas. “O tratamento do problema da inclusão requer muitas ações, mas as mais duradouras serão as que interferem na qualidade do ensino público”, completa Brito Cruz.