Agora vale a pena voltar ao Carandiru

Jornal Metro

qui, 04/02/2010 - 7h03 | Do Portal do Governo

Biblioteca de São Paulo, que será inaugurada na segunda-feira, vai trazer uma nova cara ao parque da Juventude, localizado onde antes ficava o presídio do Carandiru. Um uso bastante útil para essa área

Eu lembro de ter ido ao Carandiru, em 1991, um ano antes do fatal massacre. Foi durante a 21ª Bienal, cujo curador era João Candido Galvão, de muito saudosa memória. Ele criou um núcleo de artes cênicas que tinha um júri em separado. Naqueles tempos a Bienal ainda dava prêmios, e eu fazia parte deste júri. Uma de nossas incumbências foi ir ver o projeto de Maureen Bisilliat, uma montagem teatral com os detentos daquele imenso centro prisional encravado ali na zona norte. O espetáculo era competente e tinha até um preso/ator que teria feito boa carreira se seu destino tivesse sido outro.

Estávamos sentados na primeira fila de um grande auditório e, atrás de nós, havia cerca de mil detentos, que se divertiram a valer, aplaudiram, vaiaram, participaram de tudo. Conto isso para testemunhar que, apesar daquela animação toda, o astral do lugar era incrivelmente pesado. Dava para cortar a faca. Me senti mal por vários dias depois da experiência.

Pois é neste lugar, que poderia carregar para sempre uma soturna memória, que, na segunda feira, o governo do Estado inaugura uma obra muito bonita: a Biblioteca de São Paulo. Desde o governo de Geraldo Alckmin, aquele espaço todo mudou de cara. Agora chama-se parque da Juventude. Metade do conjunto de prédios foi implodida, dois pavilhões foram conservados e restaurados e hoje são usados por uma Fatec. O resto foi transformado em jardim. O projeto de toda a reestruturação do Carandiru é do escritório Aflalo & Gasperini, que idealizou um terceiro prédio, para exposições, pronto há cerca de dois anos. Pois é exatamente neste prédio que surgirá a nova biblioteca.

Conta Roberto Aflalo que a Secretaria de Estado da Cultura não chegou a aproveitar o prédio para mostras. E foi a própria Secretaria que resolveu mudar sua atribuição, para torná-lo mais útil. Marcelo Aflalo e Dante Della Manna fizeram o projeto de adaptação para o novo uso. Roberto conta que o prédio já se prestava a ser uma biblioteca por seu espaço amplo e sua iluminação zenital. Foram apenas agregados alguns elementos internos e externos, um pátio foi coberto por uma lona para ter uso contínuo. E foi recheado com mobiliário, os vidros das janelas ganharam serigrafias, para dar mais intimidade a quem lê ou pesquisa. A ideia do secretário João Sayad é que esta obra seja um piloto que possa ser replicado em outras cidades do Estado.

A nova biblioteca tem 4.257 m² de área total (interna e externa), com um acervo de 30 mil itens, entre livros, revistas, quadrinhos, CDs e DVDs, acesso à internet, recursos multimídia, setores separados para crianças, adultos e pessoas com deficiências, que terão ajuda de todo tipo, seja de assistentes, seja de maquinário especial. Além disso tudo, um auditório e uma área externa para apresentações cênicas.

Com certeza, agora vale a pena voltar ao Carandiru.