Acervo histórico na rede

Valor Econômico - Sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sex, 03/10/2008 - 9h36 | Do Portal do Governo

Valor Econômico

Nas últimas semanas o noticiário econômico ao redor do mundo concentrou-se no desenrolar das medidas de combate à crise do sistema financeiro americano. Sete décadas atrás, passados os piores momentos da crise financeira de 1929 que culminou na quebra da Bolsa de Valores de Nova York e levou à falência inúmeras empresas nos Estados Unidos, também o noticiário econômico se voltava às medidas de combate à Grande Depressão. Em 3 de agosto de 1933, por exemplo, o “Diário Oficial do Estado de São Paulo” noticiava que o plano de controle da indústria do petróleo em elaboração por Franklin Delano Roosevelt daria a primeira demonstração positiva da reconstrução industrial planejada pelo presidente americano.

O registro desse e de outros episódios da história faz parte do acervo dos 117 anos de existência do “Diário Oficial” paulista, que desde quarta-feira está disponível para consulta on-line. Um passeio pelas páginas dos jornais publicados nas décadas de 20 e 30 mostra que a crise financeira não é o único ponto em comum entre o início do século passado e o deste – e que, em muitos momentos, a história se repete. Em 30 de janeiro de 1919, um balanço da associação dos criadores de gado Caracu lamenta os maus resultados do ano anterior diante da ferocidade da “febre aphtosa”, que levou à morte um grande número de animais. A edição de 1º de agosto de 1933 traz a polêmica discussão sobre as negociações em torno do preço do gás no Rio de Janeiro e em São Paulo. E, em 1º de fevereiro de 1964, o governo paulista lança o “talão da fortuna” para incentivar a população a exigir nota fiscal e evitar a sonegação de impostos. Em inúmeras páginas há decretos publicados com o objetivo de abrir crédito extraordinário em favor de órgãos do governo do Estado – e que fazem crer que a prática de aumentar o orçamento por meio de medidas provisórias não é novidade no Brasil.

Pelo site da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo é possível pesquisar registros como esses nas dez milhões de páginas do jornal já publicadas desde 1º de maio de 1891 até hoje. O “Diário Oficial” paulista é o único do país a ter todo o acervo em meio eletrônico – e um dos poucos no mundo, segundo o presidente da Imprensa Oficial, Hubert Alquéres. Na Alemanha apenas as edições posteriores a 1949 estão na internet, e no Reino Unido há apenas documentos selecionados datados de 1837 em diante disponíveis na internet. A tarefa não é fácil. Foram dois anos e meio e investimentos de R$ 9 milhões para transformar cada página microfilmada do acervo em um arquivo individual em formato PDF, que pode ser consultado por data de publicação.

Ainda que a bibliografia da história do Brasil dos últimos dois séculos seja vasta, a obtenção de registros históricos costuma demandar minuciosas pesquisas manuais em empoeirados acervos de jornais antigos, nem sempre bem armazenados e conservados. Nesse sentido, a digitalização dos 117 anos da publicação é um presente aos pesquisadores e permite verdadeiros achados. Em 28 de abril de 1917, o governo paulista publicou um balanço que atestava que, apesar de afastado do “theatro da guerra” que se desdobra no velho continente, São Paulo sofria, como o mundo inteiro, dificuldades de toda ordem. Entre os problemas que abatem as finanças públicas estão uma sensível baixa nas taxas cambiais, a privação completa de grandes mercados consumidores da principal riqueza do Estado, a retração de capitais estrangeiros e a elevação nos juros dos empréstimos e nos preços das mercadorias de consumo. O balanço contabilizava a existência de 7.681 fábricas no Estado. Eram 61 de tecidos, 20 de camisas, 21 de meias e 66 de calçados – mas 269 de chapéus. E ainda 796 engenhos e 309 refinarias de “assucar”, 270 fábricas de cerveja e 383 de carros e carroças, entre outros setores representativos da economia paulista.

Em alguns meses a pesquisa no “Diário Oficial” permitirá a busca também por palavras-chave – a despeito de diferenças ortográficas como as descritas acima.