A poluição industrial

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 30 de abril de 2008

qua, 30/04/2008 - 11h58 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Um grupo de dez indústrias responde por quase 70% das emissões de gás carbônico (CO2) de todo o setor industrial de São Paulo. Algumas dessas indústrias informam que investiram ou estão investindo em equipamentos para a redução da emissão de CO2, mas um estudo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente deixa claro que os resultados são insatisfatórios. No total, a indústria de São Paulo lança no ar 29 milhões de toneladas de CO2 por ano, e as dez maiores poluidoras no setor industrial lançam 19,8 milhões de toneladas.

Esse é o primeiro inventário de emissões de gás carbônico no Estado de São Paulo – segundo a Secretaria do Meio Ambiente, no Estado foi emitido um total de 138,7 milhões de toneladas de CO2 em 2006 – e servirá de referência para a elaboração de um projeto de lei que obrigará as empresas a reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global.

Para identificar os principais emissores de CO2 no Estado, a Secretaria convidou 379 empresas para participar da pesquisa. Dessas, 329 manifestaram sua disposição de colaborar com as autoridades. Muitas indústrias substituíram combustíveis fósseis, mais poluentes, por combustíveis de fontes renováveis, o que evitou o agravamento da poluição. O secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, observa que, sem essa substituição, teria havido uma emissão adicional de 50 milhões de toneladas de CO2. Mesmo assim, a redução das emissões está sendo muito lenta.

É possível avançar bem mais depressa, como ficou claro no caso de Cubatão. Por décadas, as emissões líquidas, gasosas e de material particulado das indústrias instaladas no município – químicas, petroquímicas, de fertilizantes e uma grande siderúrgica – fizeram da poluição na região um fenômeno visível, quase palpável. Espessas colunas de poluentes cobriam a cidade e as áreas próximas. Em certos períodos, era arriscado trafegar pela rodovia de acesso a Cubatão, porque a poluição tornava a visibilidade quase nula.

Depois de estudos que fez na região, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental elaborou um plano de combate à poluição que obrigou os grandes poluidores, estatais e privados, a instalar equipamentos para reduzir as emissões de partículas e a utilizar óleo combustível com baixo teor de enxofre. O resultado foi uma grande melhora na qualidade do ar da região.

Apesar da melhora, Cubatão ainda tem problemas, como mostra a pesquisa da Secretaria do Meio Ambiente. A Cosipa, que era a principal responsável pelo lançamento de material particulado, é a indústria que mais lança gás carbônico em São Paulo. Sozinha, ela responde por 4,7% das emissões de toda a indústria paulista. Nos últimos 10 anos, segundo a empresa, foram investidos US$ 336 milhões em projetos de controle ambiental, que envolveram a substituição do óleo combustível por gás natural (20% menos poluente) e equipamentos para reaproveitamento de gases gerados na produção.

Também está instalada em Cubatão uma das três refinarias de petróleo da Petrobrás, que vêm logo atrás da Cosipa na lista das indústrias paulistas que mais lançam CO2 (as outras estão em Paulínia e em São José dos Campos). A quinta empresa da lista também é uma petroquímica, a União, instalada no ABC paulista. Depois vêm a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), duas fábricas da Votorantim Cimentos, uma unidade da Rhodia Poliamida e Especialidades. A lista dos dez maiores emissores de CO2 é completada pela fábrica da Companhia de Cimento Ribeirão Grande.

A Secretaria do Meio Ambiente pretende discutir com as empresas uma forma de reduzir mais rapidamente a emissão do gás carbônico, o principal causador do efeito estufa, mas não dispõe de instrumentos para forçá-las a fazer isso. É preciso definir metas de redução de emissão e criar mecanismos legais que obriguem as empresas a cumpri-las. Sem isso, a adesão das empresas será voluntária. E o que a pesquisa mostra é que, se o combate à poluição depender apenas da boa vontade das empresas, o avanço continuará lento.