Mães procuram no Brasil um destino feliz para os seus filhos

Casa de Passagem Terra Nova, mantida pelo Governo do Estado, abriga mulheres de diferentes nacionalidades, algumas com filhos nascidos aqui

sex, 12/05/2017 - 16h03 | Do Portal do Governo

Três realidades diferentes e um país em comum de destino. Elas deixaram pertences, família, cultura e raízes para tentar encontrar uma nova vida e aguardam no Brasil uma oportunidade para reconstituir seus destinos e o de seus filhos.

São três mães que tiveram de fugir por motivos como perseguições políticas ou dificuldades econômicos decorrentes de conflitos armados em seus países de origem. Encontraram refúgio na Casa de Passagem Terra Nova, criada pela Secretaria de Desenvolvimento Social, do Governo do Estado.

Testemunhos
Ruth Mutoto Kamianga está há poucos dias em São Paulo, mas seus laços com o Brasil já estão consolidados. Vinda da República Democrática do Congo, ela deu à luz Jaime, com exatos 24 dias de vida, nascido em São Paulo, no dia 17 de abril passado.

Ruth e o marido Kibanda Lusangu, que adotou o nome de Gerônimo, chegaram a São Paulo em 24 de março, alguns dias antes do nascimento do bebê, em fuga de seu país. Por motivos políticos, o marido, que era advogado no Congo, foi preso e passou quatro dias detido. Foi libertado pela mulher, que pagou o dinheiro exigido pelo agente policial para soltá-lo. Antes disso, o policial os alertou que não deveriam voltar para casa porque seriam presos novamente. Gerônimo estava na lista de procurados dos órgãos de segurança.

Foram para a casa da mãe de Ruth, mas também lá havia agentes que tentavam localizá-los. Não houve opção a não ser fugir. Ruth estava grávida e teve que se esconder com o marido em um reservatório embaixo da cabine do caminhão onde são guardadas as ferramentas do veículo. Nessas precárias condições, conseguiram atravessar a fronteira com a Angola e de lá foram ajudados por Jaime, um amigo angolano.

Gerônimo fala bem o português, mas Ruth ainda não domina o idioma. Ela fala francês, língua dos colonizadores belgas de seu país. Na República Democrática do Congo, era enfermeira. A barreira do idioma dificulta a busca por emprego. “Jaime está bem, com saúde, e estou muito feliz pelo nascimento de meu filho”, afirma. Tudo o que Ruth quer é que Jaime cresça e seja feliz na terra em que nasceu.

Uma nova realidade
Márcia Lemba, de Angola, é mãe da recém-nascida Lívia, de apenas 11 dias. Ela é casada com Claudio Ndofunsu. Ambos são da etnia Bakongo. Foram obrigados a deixar o país após um acidente com um general angolano, que o culpou de ter danificado sua casa.

Claudio estava sendo pressionado a pagar uma indenização de US$ 50 mil, mas ele não tinha o dinheiro. A mando do general, os militares invadiram a residência da família e levaram US$ 2 mil que o casal estava economizando.

O casal continuava sendo pressionado a dar o dinheiro. Os amigos e conhecidos os aconselharam a deixar o país, pois corriam risco de serem assassinados caso ficassem. Foram ajudados pelo pastor da igreja, pela família e por alguns amigos. Juntos, eles fizeram uma coleta para que o casal pudesse sair do país.

Chegaram a São Paulo em 17 de abril passado, com o filho Cláudio, de 6 anos, mas tiveram de deixar em Angola sua filha mais velha, de 15 anos. Poucos dias depois de chegarem, nasceu Lívia. Márcia ainda está se adaptando à nova realidade. Ela era cabeleira em Angola. Já Lívia, que nasceu no Brasil, está bem de saúde.

Um passo a mais
A angolana Luzayamo Dias tem quatro filhos: duas meninas, uma de 15 anos e outra de apenas um ano e sete meses, e dois meninos, um de 11 anos e outro de quatro, todos nascidos em Angola, como a mãe. Ela ainda não conseguiu trabalho e está à espera do visto de permanência no Brasil.

Estudou contabilidade no seu país de origem, mas trabalhava como promotora de vendas, antes de chegar em São Paulo. O marido permaneceu em Angola e prometeu se encontrar com ela e os filhos, assim que pudesse.

Os filhos maiores estão na escola e os menores ficam em creches localizadas próximas da Casa de Passagem Terra Nova. Questionada sobre seus planos, ela responde: “busco um emprego e uma casa para morar”.

Na Casa de Passagem, ela fez um curso de padaria artesanal e de costura básica, pelo Fussesp (Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo). “É um passo a mais na minha vida”, afirma.

Refugiados
Segundo a Agência da ONU para refugiados (ACNUR), o Brasil abriga cerca de 5,2 mil refugiados reconhecidos pelo governo brasileiro (dados de 2013), de mais de 80 nacionalidades diferentes. As mulheres representam 34% desse contingente. A maioria dos refugiados se concentra nos grandes centros urbanos.

São considerados refugiados, de acordo com os critérios da ACNUR, as pessoas que, temendo serem perseguidas por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontram fora de seus países de origem e não podem, em virtude desse temor, valer-se da proteção desses países.

A casa
A Casa de Passagem Terra Nova foi fundada pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, em outubro de 2014, com a missão de receber refugiados estrangeiros, que procuram em São Paulo reconstruir suas vidas. Tem capacidade para atender 50 pessoas e, no momento, abriga 46 refugiados. Na casa, eles recebem apoio social, psicológico e jurídico. Atualmente, recebe famílias vindas do Congo, Nigéria, Serra Leoa e Angola, mas recentemente também recepcionou muitas famílias sírias.

Na Casa de Passagem Terra Nova também são desenvolvidas atividades de convivência, ocupacionais e culturais; orientação profissional e jurídica; oficinas de idioma, auxílio para inclusão produtiva e encaminhamento para toda a rede de políticas públicas de apoio a imigrantes e refugiados.