Na Unicamp, como no Vale do Silício

O Estado de S. Paulo – sábado, 27 de setembro de 2008

sáb, 27/09/2008 - 17h00 | Do Portal do Governo

O Estado de S. Paulo

A Compera nTime, que desenvolve serviços para celulares, é um exemplo de maturidade do mercado brasileiro de tecnologia. A empresa cumpriu, recentemente, um ciclo de investimento: ela surgiu na incubadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atraiu capital de risco da Rio Bravo Investimentos, passou por processos de fusão com outras empresas e conseguiu um novo acionista, o grupo sul-africano Naspers, que permitiu a saída do fundo da Rio Bravo, depois de sete anos.

No Vale do Silício, seria uma história comum de investimento em tecnologia. No Brasil, ainda é um caso raro. “Foi um caso de sucesso”, afirmou Marcelo Romeiro, gestor do Fundo Rio Bravo Investech I, que vendeu a sua participação na Compera nTime para a Naspers. “Recuperamos mais de quatro vezes o que investimos.”

A Rio Bravo era minoritária na Compera nTime. Os valores do negócio não foram divulgados. O fundo tem um patrimônio de R$ 4 milhões, e já investiu em quatro empresas. Somente uma, chamada DirectTalk, que desenvolve sistemas de atendimento a clientes via internet, ainda está na carteira. Com a venda da Compera, a Rio Bravo conseguiu recuperar tudo o que havia investido. O que conseguir com a venda da DirectTalk será o retorno para os investidores do fundo.

Criada em 1999, a Compera nTime tem hoje 130 funcionários, com escritórios em Campinas, Rio de Janeiro, São Paulo e Cidade do México. A empresa espera faturar cerca de R$ 25 milhões este ano. A Naspers, que ficou com 49% da Compera, também é acionista do Grupo Abril. Ela tem investimentos na China, Tailândia, Estados Unidos e Índia. A Compera nTime foi o segundo investimento da Naspers no País. Os outros 51% da Compera estão nas mãos de oito executivos, que incluem os fundadores da empresa.

Quando surgiu, a Compera se chamava Intraweb, e tinha como acionistas Fabricio Bloisi e Fábio Povoa, que haviam se conhecido na Unicamp. No começo, a empresa tinha como objetivo criar intranets para empresas. Posteriormente, se juntou ao portal GoWap, o primeiro investimento da Rio Bravo no setor, e voltou seus esforços para a área de soluções de dados via celular para o mercado corporativo.

“Enfrentamos momentos difíceis pelo meio do caminho”, afirmou Bloisi, presidente da Compera nTime. “Entre 2003 e 2004, tomamos uma decisão de mudar o modelo de negócios, que passou de software para serviços.” O foco passou do mercado corporativo para os clientes finais das operadoras, com serviços como vídeos, jogos e música para o celular. “Nesse período, acabamos não crescendo. Tivemos dois anos com o mesmo faturamento. Mas a mudança nos deu conteúdo para retomar o crescimento em 2005 e 2006, de maneira sustentável.”

No fim do ano passado, a Compera anunciou uma fusão com a nTime, empresa de serviços para celulares do Rio. “O mercado de serviços móveis é novo, e ainda não tem líderes globais consolidados”, apontou Bloisi. Por causa disso, ele vê grande espaço para crescer e buscar contratos internacionais, para brigar pela liderança do setor na América Latina.

O caso da Compera mostra como o mercado de software e serviços móveis continua aquecido no Brasil. Recentemente, a Spring Wireless, especializada no mercado corporativo, recebeu aporte de US$ 56 milhões do Goldman Sachs, New Enterprise Associates (NEA) e Ideiasnet. Com parte desse dinheiro, a Spring Wireless comprou a Okto, outra empresa do setor.

O primeiro investimento da Rio Bravo em serviços para telefonia móvel foi o portal GoWap, em 2000, que acabou sendo incorporado pela Compera. Os investidores do fundo Rio Bravo Investech I são a resseguradora suíça Swiss Re e a própria Rio Bravo. A gestora de recursos tem um segundo fundo de tecnologia, chamado Investech II, com R$ 35 milhões em recursos e investidores institucionais, como fundos de pensão e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ela prepara um terceiro fundo de tecnologia, chamado Investech III, com o qual planeja captar R$ 200 milhões.

“Apesar de a negociação da Compera ter terminado agora, o processo começou no fim do ano passado”, explicou Romeiro. Segundo ele, a crise financeira internacional não atrapalhou. “Um investidor como a Naspers não está olhando para isso como um negócio volátil. Eles sabem que o celular é a próxima mídia de sucesso e não têm necessidade de realizar o investimento.”

Para Bloisi, o mercado evoluiu muito desde a criação da Compera. Mesmo assim, ainda é muito mais difícil ser empreendedor no Brasil do que nos EUA. “O custo de capital é muito grande”, disse. “E as questões tributárias são bem mais complicadas.”