Adolescentes iniciam sua atividade sexual na faixa entre os 13 e os 17 anos de idade. Essa é uma das conclusões de pesquisa realizada pelo Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
O estudo foi feito de 2000 a 2004 e envolveu dois mil alunos de 1,3 mil escolas públicas e 700 particulares da cidade de São Paulo.Coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, o trabalho revela que 97% dos jovens de 15 a17 anos conhecem bem os riscos para a saúde provocados pela atividade sexual e os cuidados que devem ser tomados para evitá-los.
No entanto, outros dados, coletados pelo Ministério da Saúde, revelam que há sete anos, a maioria das internações de meninas de 14 a19 anos no Sistema Único de Saúde (SUS) são para trabalho de parto. “Acredito que a situação não tenha mudado”, opina a médica.
Para explicar a precoce iniciação sexual dos jovens paulistanos, ela lembra que nas décadas de 1950 e 1960 as mulheres perdiam a virgindade aos 22 ou 23 anos. “Podia até existir a penetração com parceiro antes do casamento, mas havia a expectativa de união ou casamento”, informa.
Casamento – Hoje em dia, a maior atividade sexual feminina protela o casamento para a média dos 28 anos. “Nas últimas quatro décadas, a relação sexual desvincula-se do relacionamento amoroso estável e do matrimônio”, explica a pesquisadora. Para ela, o clima quente de São Paulo e do país colaboram para essa precocidade da perda da virgindade. “No Brasil, predomina a facilidade de contatos físicos, toques, beijos, diferentemente de outros países”.
Em seu livro Descobrimento Sexual do Brasil (editora Summus), Carmita lembra que em 2005 as mulheres perdiam a virgindade aos 17 anos e dois meses, enquanto os homens, aos 15 anos e sete meses. “Há 40 anos, a média era de 16 anos e meio para o sexo masculino e 22 anos e três meses para o feminino”.
A vida menos controlada nas metrópoles, onde os jovens ganham autonomia, liberdade e facilidade de relacionamentos são fatores que também favorecem a antecipação sexual.
Pesquisa realizada com 26 mil entrevistados em 26 países chegou a resultados semelhantes. A empresa Durex Network, maior fabricante de preservativos do planeta, patrocinou o trabalho, no qual o Brasil aparece em segundo lugar entre os que as jovens perdem a virgindade mais cedo (17,4 anos). As brasileiras foram superadas apenas pelas austríacas (17,3 anos).
Camisinha – No Brasil foram ouvidas 1.123 pessoas, de 19 a 65, anos entre agosto e setembro de 2006. O estudo traz um mapeamento comportamental sobre vários itens referentes à primeira relação sexual.
Quando o assunto são os preservativos, 49,1% das mulheres entrevistadas afirmaram ter usado camisinha na primeira relação. Já entre os homens, essa taxa foi de 39,1%. O estudo também revela que as camadas mais altas da sociedade utilizam menos preservativos quando se pratica sexo pela primeira vez. Apenas 36,5% das classes A e B usaram camisinha na ocasião. Nas classes mais humildes essa taxa foi de 43,2% e na classe média o percentual foi de 53,4%.
“Quem é de classe alta tem menos cuidados no ato porque acredita que seu parceiro é saudável e que sempre pode comprar a pílula do dia seguinte. Não imagina a possibilidade de a pessoa ser portadora de doença sexualmente transmissível”, explica a pesquisadora.
Quanto ao parceiro com quem perderam a virgindade, 58,4% das mulheres revelaram ter sido dentro de uma relação estável. Entre os homens, esse percentual foi de apenas 18,9%. Já 4,8% dos homens afirmaram que só tiveram a primeira relação quando casados, ao passo que entre as mulheres essa taxa foi de 9,9%.
Os dados levantados pela psiquiatra mostram ainda que na cidade de São Paulo 11% dos meninos iniciam a vida sexual com garotas de programa, 17% com amigas e 72% com namoradas e “ficantes”.
Os mais precoces
Idade da primeira relação (mulheres):
Áustria: 17,3
Brasil: 17,4
Alemanha: 17,6
Austrália: 17,9
Estados Unidos: 18
Malásia: 23
Taxa de utilização de preservativos:
Polônia: 63,2%
Grécia: 59,8%
Espanha: 57,2%
Japão: 55,9%
México: 49,5%
Itália: 47,9%
Brasil: 47,9%
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Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial