Coletiva de José Serra no Instituto Butantan

A entrevista aconteceu na quinta-feira, 26, na inauguração da fábrica de vacina contra gripe, no Instituto Butantan, em São Paulo

sex, 27/04/2007 - 16h13 | Do Portal do Governo

A entrevista aconteceu na quinta-feira, 26, na inauguração da fábrica de vacina contra gripe, no Instituto Butantan, em São Paulo.

José Serra – Bem, eu vim aqui hoje para participar da inauguração da fábrica de vacina contra a gripe do Instituto Butantan. Com isto, dá-se um passo muito importante na saúde pública no Brasil. O Brasil ganha auto-suficiência na produção da vacina da gripe por um lado e, por outro lado, faz também economia com a produção aqui no Instituto. Todos conhecem a seriedade e a competência científica do Instituto Butantan, que é inseparável hoje da figura do professor Isaias Raw. E essa fábrica é fruto de um acordo que nós fizemos ainda em 1999, quando eu era Ministro da Saúde, no sentido de internalizar no Brasil a tecnologia da produção da vacina da gripe. Nós introduzimos a vacina em 99 no Brasil, uma vacina importada. Começou com 65 anos, no ano seguinte nós diminuímos para 60 e no segundo semestre de 1999, fizemos um acordo com um laboratório francês que havia vendido à vacina no sentido de que fizesse uma sociedade com o Butantan e ao longo desses anos repassasse a tecnologia e, portanto, contribuísse para que o Butantan pudesse ganhar autonomia na produção. Não apenas se produzia a vacina como também foram produzidos equipamentos, a tecnologia aqui no Brasil. Trata-se de um passo muito importante e quando a gente olha para frente, nós vemos que o Butantan está se preparando para muitas novas vacinas. É o caso, por exemplo, da vacina contra a dengue, uma vacina tetravalente, produzida em colaboração com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, que nós esperamos para o final da década. A gente sabe que se não tiver até o final da década de quem é a responsabilidade.

A vacina referente ao amarelão, o necator, a vacina da maternidade para proteger recém nascidos, da hepatite B, do rotavírus tetravalente, da influenza reduzida para idosos e para crianças, da raiva leishmaniosa e canina, da hepatite B destinada a profissionais de risco maior de 50 anos, a pacientes de diálise, e, a mais curto prazo, a vacina contra a gripe aviária. O Butantan vai ser uns dos cinco Institutos do mundo a fazer esta produção. E, portanto, a proteger não só a nossa população como também de outros paises dessa nova forma de gripe.

Enfim, essa solenidade, o (José Gomes) Temporão (Ministro da Saúde) está atrasado, nós mandamos o helicóptero buscá-lo, agora vem a chuva, mas vencendo a chuva e os atrasos, estamos aqui para esse dia que é muito importante na história da saúde no nosso país.

Aqui é uma coletiva não é uma solenidade, mas eu não podia deixar de saudar o Otávio Mercadante, que é presidente aqui do Instituto, o Isaias Raw que é da Fundação, o professor e sempre ministro, Adib Jatene, o nosso secretário ( Estadual da Saúde Luiz Roberto)Barradas, os deputados aqui presentes, o nosso vice-governador (Alberto Goldman). Enfim, eu queria apenas transmitir aqui o meu abraço, em nome do Governo de São Paulo.

Qual o valor do investimento nesta fábrica governador?

Serra: O investimento foi perto de R$ 70 milhões, metade o governo de São Paulo, metade o governo federal. Esse foi o acordo que nós fizemos naquela época e que foi cumprido de lado a lado.

Quanto foi investido para produzir a vacina?

Serra: O dinheiro para a nova vacina, eu não tenho aqui a estimativa orçamentária, mas certamente não se trata de despesas dessa ordem. Se bem que no caso da dengue, nem que for cinco vezes mais, dez vezes mais do que está se investindo aqui, vale a pena porque nós gastamos uma fortuna no Brasil a cada ano no combate a dengue, um combate muito difícil.

É um sonho antigo…

Serra: Sem dúvida.

Gostaria que o senhor falasse sobre a vacina. Qual a expectativa do governo em relação a ela?

Serra: Bom, a vacina contra a gripe é livre, quer dizer, é necessária, ela é gratuita para quem tem mais de 60 anos. E, na verdade, quando se vacina contra a gripe, se vacina também contra a pneumonia, tudo no mesmo dia, gratuitamente. Todas as campanhas de vacinação são gratuitas. Agora outra coisa e dar a vacina de graça para toda a população. Aí, realmente, é uma coisa que só Ministro da Saúde pode falar, porque o dinheiro é do Ministério da Saúde para compra das vacinas.

São Paulo vai vender para todo Brasil?

Serra: Todo país, quer dizer, fornece para o Ministério a vacina gratuita e o Ministério faz a distribuição. Agora, eu não sei, o Isaias ( pode dizer), se vende também para a área privada.

Isaias: Não.

Serra: Não vai vender para a área privada, vai ser só para a distribuição gratuita.

O governo paga?

Serra: O governo paga, é evidente, mas vai pagar menos. Nós já conseguimos no 1º ano, eu me lembro, a vacina na 1ª vacinação custou mais de US$ 4 dólares. A partir do acordo que nós fizemos, nós reduzimos para menos US$ 2 dólares no segundo ano. Não dá hoje para medir em dólares, porque o franco se valorizou em relação ao dólar e o real também. Então, o termo de comparação ficou mais difícil, mas, de todo modo, nós já barateamos muito, no início, com essa negociação com o laboratório francês, e agora vai haver uma economia maior. A estimativa é de R$ 100 milhões de reais de economia, a partir da produção integral pelo Butantan. O Butantan não tem finalidade lucrativa. Na verdade, os recursos de venda de vacinas são reinvestidos no próprio Instituto. Aliás, é um Instituto modelar, inclusive na sua fundação, que funciona de maneira impecável. É um exemplo para a administração pública, independentemente do cumprimento das suas funções. Tomara toda administração pública de São Paulo fosse assim.

E quanto à gripe aviária?

Serra: Da gripe aviária são 6 e tantos milhões de reais, né? Quando vai estar disponível?

Isaias: Quando começar a estocar.

Serra: Está aí a resposta. Vamos dar mais ainda. Pesquisa básica é uma contribuição, aliás, que São Paulo, faz para o Brasil. Sem qualquer bairrismo, São Paulo é o Estado que mais investe em questões nacionais, na área científica e tecnológica. Inclusive, nosso aparato universitário, e todo aparato científico é muito bom, em comparação com o resto do País. Ta bom. Agora, eu não sei como a gente vai fazer com a chuva lá.

Governador, o senhor gostou da proposta aprovada em Brasília?

Serra: … é em função da outra proposta que nós apresentamos. Que permite você manter o adolescente que cometeu um crime mais anos sobre reclusão, não é? Nós achamos que essa é mais efetiva e não demanda nenhuma alteração constitucional e nem o desenvolvimento de toda polêmica que existe em torno do assunto.

Essa, especificamente, o senhor vê melhorias na qualidade dela?

Serra: Não, não. Aí é uma coisa que tem que ser melhor analisada, se é ou não constitucional. Mas eu sei que é muito controvertida e contribuiria menos para resolver o problema do que uma proposta semelhante a nossa. Agora, com essa chuva, nem sei se o Temporão, com temporal, vai conseguir vencer o temporal e vir de helicóptero.

Por que o ministro está atrasado?

Serra: Olha, eu falei agora porque o Temporão está atrasado, porque tinha problema com a televisão. Com a imprensa, não tem problema, a gente pode falar depois.

O senhor poderia falar sobre a declaração do Fernando Henrique Cardoso com relação a essa aproximação com o presidente Lula…

 Serra: Não vou comentar a declaração do Fernando Henrique, mas a gente tem conversado muito, até jantamos outro dia. Com relação ao ponto de vista sobre o partido temos coincidência. Mas realmente eu não vou comentar, porque eu não li. Eu estou aqui preocupado com o governo do estado. Nós temos com o governo federal as relações administrativas que são essenciais para governar São Paulo.

Como fica essa aproximação?

Serra: Eu tenho certeza absoluta que não tem nada a ver comigo.

Governador, o prefeito Kassab retirou da Câmara aquele projeto que concedia ao Estado colocar pedágios nas Marginais. Como é que vai ser agora…

Serra: O negócio das Marginais é o seguinte: quando se levantou o projeto, eu pedi um projeto que acrescente pistas, sem diminuir nem um metro das pistas já existentes. Quando foi se verificar, na verdade, os projetos existentes diminuíam as pistas. Não se conseguiu chegar a uma fórmula econômica, porque a cotação iria para o alto, para as nuvens. Então o que nós fizemos, nós vamos fazer uma parte do projeto, que é a parte que intercepta com a Anhanguera, a Bandeirantes e logo em seguida a Castelo Branco e, depois, com o sistema Dutra, com a Ayrton Senna. Isso já fará uma grande parte do trabalho, embora… públicas, gratuitas. Embora, em um segundo momento a gente possa re-examinar, porque não perdemos tempo, o projeto já está a pleno caminho, as obras vão começar, inclusive.

Com relação àquela primeira proposta do governo de criar o pedágio…

Serra: Pedagiadas? Por enquanto está adiada porque não se chegou à uma fórmula de engenharia. Tinham me dito que já havia sido resolvido, mas quando eu fui ver na hora, não estava. Então, a condição é que se chegue a um projeto que permita isso. Mas nós não vamos perder tempo. Esse era um projeto longo, nós já vamos começar as partes que têm a ver com as concessionárias, que nós vamos ampliar. Por exemplo, a Marginal, quando nós fizermos a concessão da Ayrton Senna, que será feita, a concessionária, a partir da Via Dutra em diante, cuidará da Marginal e de todo o entorno da Anhanguera, da Bandeirantes e da Castelo Branco. Isto já é um avanço considerável.

Isso não acontece ainda? Vai passar a acontecer…

Serra: Não, não. Já está acertado. No caso da Ayrton Senna nós ainda vamos fazer a concessão e isto já entra na concessão. Com as outras já está acertado.

Quando isso acontece?

Serra: Eu tenho esperança que saia ainda no começo do segundo semestre. É uma expectativa, não vá me cobrar depois.

E entra naquela discussão…

Serra: Isso será uma coisa que a gente vai ter que examinar. Não vai tirar o lead dessa história, que é o da vacina, porque os jornais gostam de dar a notícia do dia anterior.

(inaudível)

Serra: Eu não vou comentar até porque eu não li. Tenho tido sempre conversas freqüentes com o presidente, em absoluto há qualquer reparo em relação aquilo que eu anunciei. O que eu estou fazendo é cuidar da administração de São Paulo. Governador é eleito para cuidar do estado, então tem que ter relações administrativas normais com as outras esferas de governo, com as prefeituras e com o governo federal.

O senhor vai conversar com o Alckmin sobre isso?

Serra: Sobre isso, certamente não.