O Memorial da América Latina atinge a maioridade

Jornal da Tarde - Quarta-feira, 21 de março de 2007

qua, 21/03/2007 - 11h56 | Do Portal do Governo

Do Jornal da Tarde

O Memorial da América Latina “criou uma memória visual para um lugar que não tinha paisagem”, disse à reportagem, em 1997, o arquiteto catalão Josep María Botey y Gomez. Na Barra Funda, o gigantesco conjunto arquitetônico assinado por Oscar Niemeyer é uma paisagem de concreto de 85 mil metros quadrados, formada por pavilhões e prédios de vidros negros, espelhos d’água, uma imensa passarela e a emblemática escultura de uma grande mão aberta que tem representada, em sua palma, um esboço de mapa da América Latina em vermelho.

Patrimônio histórico e artístico do Estado de São Paulo, o Memorial foi criado, como diz seu atual presidente, Fernando Leça, segundo vertente desenhada por Niemeyer e pelo antropólogo Darcy Ribeiro: ser um espaço de “integração da América Latina, de suas culturas”. Inaugurado em março de 1989, no governo de Orestes Quércia, o Memorial da América Latina completa 18 anos – ao mesmo tempo, 2007 é o ano do centenário de Niemeyer (precisamente, em 15 de dezembro).

“Grandioso, caro e controverso” foram os termos usados para defini-lo na época de sua inauguração – a obra custou US$ 48 milhões, dez vezes mais do que o estimado, como está nos registros.

Grandioso, caro e controverso parecem também ser termos que servem para caracterizá-lo hoje. Segundo Leça, o Memorial é uma fundação pública, com autonomia financeira e administrativa, financiada pelo governo do Estado de São Paulo (em 2007, de R$ 13 milhões) e que tem ainda “receitas próprias resultante das locações de seus espaços” (entre eles, de seu grande estacionamento e restaurante) e captação de recursos na iniciativa privada. Mas, com espaços e recursos, sua programação cultural é, em termos gerais, fraca, quase nada empolgante para o público.

‘Indecentemente feliz’

Fernando Leça não concorda, cita uma frase de Millôr Fernandes para caracterizar o espírito de sua gestão, iniciada em março de 2005: “Eu me sinto indecentemente feliz.” Entretanto, ao mesmo tempo, diz: “Sou permanentemente insatisfeito”. Segundo ele, a visitação ao Memorial só vem crescendo: em 2004 foi de 204 mil pessoas; em 2005, de 465 mil pessoas; em 2006, de 683 mil visitantes.

E cita como um dos maiores feitos de sua programação, em junho de 2005, a quermesse que recebeu 130 mil pessoas – “um arraial” patrocinado em R$ 1 milhão pelas Casas Pernambucanas. Diante disso, quem não concorda que ele poderia ser melhor aproveitado?

Segundo o presidente da Fundação Memorial da América Latina, a programação cultural dirigida por Fernando Calvozo tem como objetivo promover atividades para formação de público.

A música, “talvez a de mais força para a integração das pessoas”, diz Leça, é uma das áreas em que as atenções estão mais centradas nesse sentido. O cinema também, principalmente pelo bem-sucedido Festival Latino-Americano de São Paulo, que teve sua primeira edição no ano passado.

Uma videoteca com mais de 2 mil títulos, biblioteca com 30 mil livros e a realização da Cátedra da América Latina, criada pelo Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, concebido por Darcy Ribeiro, e iniciada dias atrás, são outras atrações.

ISSO É O MEMORIAL

85.000 metros quadrados é a área do Memorial

683.000 pessoas foi o número de visitantes do Memorial em 2006

2,2 milhões de reais foram gastos apenas na última reforma

13 milhões de reais é a verba que o governo do Estado reserva para as atividades do Memorial em 2007

(SERVIÇO)Os gordinhos de Botero

Exposição abre amanhã

Na esteira das festividades para os 18 anos do Memorial acontece a mostra ‘A Dor dos Colombianos, por Botero’, que será inaugurada amanhã para convidados e sexta para o público na Galeria Marta Traba. O “pintor de gordinhas e gordinhos” apresentará 67 obras realizadas entre 1999 e 2004, e doadas ao Museu Nacional da Colômbia, em Bogotá.