Programa de Atendimento a portadores de deficiência já beneficia 375 cidades paulistas

Com atendimento descentralizado, iniciativa do Governo do Estado já ampliou em 72% as parcerias com municípios e entidades

ter, 06/06/2000 - 18h21 | Do Portal do Governo


A assinatura de um simples contrato com meia dúzia de palavras foi motivo de comemoração para os 15 profissionais que atuam na AAEB (Associação dos Amigos dos Excepcionais do Brooklin) e, por extensão, para os pais das 90 crianças e adolescentes atendidos pela instituição. A entidade, que há 16 anos estimula o desenvolvimento de portadores de deficiência mental, inclusive deficiência múltipla (mental, física, auditiva e visual), já esteve com ‘a corda no pescoço’, em 1997. Só sobreviveu porque passou a receber uma verba mensal do Governo Covas por meio da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Trata-se do Programa de Atendimento à Pessoa Portadora de Deficiência, cujo convênio com a AAEB está sendo firmado pelo quarto ano consecutivo.
‘Com este contrato, a secretaria está nos garantindo o repasse de R$ 8 mil mensais por um ano’, comenta a fundadora e presidente da AAEB, Nancy Jorge Troise. A verba, explica ela, é destinada à folha de pagamento dos empregados e à manutenção da entidade. As demais despesas são supridas pelos poucos sócios-contribuintes, doações esporádicas e na promoção de feiras e bazares beneficentes para arrecadação de fundos.
A instituição funciona no galpão emprestado de um clube e a maioria dos deficientes pertence a famílias de baixa renda. Grande parte dos pais, relata Nancy, estão desempregados e muitas mães trabalham como faxineira. ‘São crianças que vêm de bairros como Capão Redondo, Cidade Ademar e Jardim Ângela. Não fosse a AAEB, estariam sem qualquer forma de tratamento especializado’, conclui.

Franca expansão

A AAEB é uma das 25 entidades da Capital que recebe verba do Governo por meio do Programa de Atendimento à Pessoa Portadora de Deficiência. Desde sua criação, em 1996, a iniciativa já expandiu em 72% as do Governo com parcerias com prefeituras e entidades assistenciais. Até março deste ano, cerca de 71 mil pessoas haviam sido beneficiadas através de 175 mil atendimentos realizados. Somente neste ano, o programa deve atender, no mínimo, a 20.500 portadores de deficiências, tanto física, auditiva, visual e mental, quanto pessoas com deficiência múltipla. Para isso, estão sendo repassados R$ 16,9 milhões, valor que ainda deve se elevar até julho, com o encerramento dos convênios do ano 2000.
O sucesso do crescimento do programa se deve ao modelo descentralizado que foi adotado pelo Governo. Com ele, a secretaria estadual já pode dar apoio técnico e financeiro a 375 dos 645 municípios paulistas que desenvolvem programas assistenciais do gênero, além das entidades conveniadas em São Paulo. O convênio visa garantir acesso da pessoa portadora de deficiência a um atendimento especializado. O objetivo é simples: dar autonomia e proporcionar a inclusão social desses cidadãos.

Aprendiz de Artesão

O convênio com a Secretária de Assistência e Desenvolvimento Social também ajuda a manter instituições maiores, como a Adere (Associação para Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional) estabelecida na Vila Santa Catarina, Zona Sul da Capital. A entidade, criada há 27 anos, dispõe de oficinas terapêuticas ocupacionais para atender 90 portadores de deficiência mental, com idade entre 16 e 64 anos. Há duas semanas recebeu o prêmio Bem Eficiente 2000, concedido pela Kanitz & Associados, como uma das 50 melhores entidades beneficentes e sem fins lucrativos do País.
‘Os sagrados R$ 5 mil mensais que recebemos da secretaria representam 8% da nossa receita. Não é a principal fonte de renda, mas uma verba imprescindível para manter nossas atividades’, afirma a coordenadora da Adere, Soeni Domingos Sandreschi. Para complementar os custos mensais, cerca de R$ 40 mil, a instituição conta com apoio de sócios-contribuintes, efetivos e espontâneos, convênios com outros órgãos públicos, doações eventuais, promoção de eventos, além da venda de artesanatos feitos pelos próprios ‘aprendizes’, como são chamados os alunos da Adere.
É o artesanato, aliás, o principal eixo de sustentação da entidade. Além de representar 20% a 30% da receita, a maioria das oficinas terapêuticas é voltada à produção de peças exclusivas, como cestaria, móveis, tecelagem, cipó, pintura e produtos à base de papel reciclado. ‘A oficina terapêutica produtiva é uma forma de deixar o deficiente mental adulto estimulado o suficiente para manter as funções que ele conseguiu atingir’, explica Soeni.
O artesanato é comercializado na sede da instituição, em feiras e exposições e na lojinha da Adere, cedida pelo Shopping Ibirapuera no piso Jurupis. As peças custam desde R$ 2,00 (pequenas cestas) até R$ 250,00, um móvel tipo aparador para sala de jantar. Vale destacar que os aprendizes recebem um salário mínimo mensal pelos serviços prestados nas oficinas. A atividade vem dando tão certo que a entidade está prestando serviços a terceiros, como montagem de componentes eletro-eletrônicos para um fabricante do setor.
Atualmente todos os esforços estão centrados em duas produções especiais: 850 cestas de piquenique nos moldes dos anos 40, encomendadas pela General Motors para comemoração dos seus 75 anos no Brasil, e cipós para a novela Uga-Uga, encomendados pela Rede Globo. Para descontrair a produção, os aprendizes ainda participam de grupos teatrais, oficinas de dança e pintura e aulas de educação física. Haja fôlego!