Alckmin discursa durante o BIOSforum 2011 – Encontro de Governadores

Geraldo Alckmin: Olha, quero cumprimentar ambos os governadores, Doutor Andrea Botinelli, governador do Mato Grande do Sul, e o Marconi Perillo, de Goiás, Estados irmãos, vizinhos e pela belíssima apresentação; […]

qua, 25/05/2011 - 19h30 | Do Portal do Governo

Geraldo Alckmin: Olha, quero cumprimentar ambos os governadores, Doutor Andrea Botinelli, governador do Mato Grande do Sul, e o Marconi Perillo, de Goiás, Estados irmãos, vizinhos e pela belíssima apresentação; saudar o ministro de Minas e Energia, ministro Edson Lobão, que nos alegra aqui com sua presença; cumprimentar o Marco Saltini, vice-presidente da Volkswagen Caminhões; o Gilton Almeida da ADVB do Mato Grosso do Sul; cumprimentar aqui a todos e fazer duas reflexões:

A primeira de otimismo. Acho que o Brasil vive um momento excepcional, e se nós não nos tornarmos um País caro, o Brasil tem tudo para ter uma eficiência muito grande e um grande crescimento, aliás, essa é uma vocação brasileira. Se pegarmos da década de 30 à década de 80, o Brasil foi um dos países que mais cresceu no mundo. Sendo que na década de 70 cresceu 12; 13% do PIB. Então o Brasil é um País vocacionado para o crescimento. Se a gente verificar qual a característica dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China) é escala. País tem tamanho, tem escala, o que é fundamental para você poder ter custos. Se você pegar indústria de caminhões… O Brasil hoje já é a terceira ou quarta indústria de caminhões do mundo. Tem escala, tem tamanho, você precisa produzir em quantidade para poder reduzir custos.

E a outra, é que nós vivemos é o melhor momento sobre o ponto de vista demográfico. Nós estamos vivendo o chamado “bônus demográfico”. É o máximo de mão de obra economicamente ativa. O Brasil deixou de ser um País jovem, de muita criança. A natalidade que era de mais de cinco, hoje é menos de dois e ainda não é um País idoso, é um País maduro. Então o Brasil está no bônus demográfico. É o máximo, não tem mais tanta criança e ainda não tem tanto idoso. Passou de um País jovem, para um País maduro, mas como os demais países vai chegar a um País idoso. E isso tem custos, sob o ponto de vista previdenciário, em especial. Mas, nesse momento, nós temos o bônus demográfico que é um espetáculo, temos escala e temos tudo para crescer. Mas, temos que ficar atentos para o País não ficar um País caro e perder competitividade. E a gente pode ganhar mercado e pode se desenvolver.

E eu vejo que essa questão da sustentabilidade é extremamente relevante. E não vejo nenhuma incompatibilidade com o desenvolvimento. Tem uma experiência aqui em São Paulo muito interessante: na década de 70, vinha aqui o professor José Goldemberg que foi meu secretário de Meio Ambiente, e o governador de São Paulo era o Montoro. E nós tínhamos um grande polo… temos um grande polo petroquímico em Cubatão. E aquele polo petroquímico de Cubatão poluía tanto que a Serra do Mar, em cima de Cubatão, a Mata Atlântica era marrom, porque ela era calcinada por chuva ácida. Quando você subia a Serra do Mar não tinha verde, aquilo parecia um cemitério cinza, tudo queimado pela chuva ácida do polo petroquímico. O polo petroquímico de Cubatão hoje é muito maior, produz muito mais, e a Mata Atlântica inteirinha foi recuperada, inteirinha.

Então, é possível ter um parque industrial extremamente sofisticado e preservar o meio ambiente, e ter sustentabilidade. Aqui se comentou sobre queimada de cana, tanto Goiás, Mato Grosso do Sul quanto São Paulo são importantes produtores. O Brasil é o maior produtor do mundo de açúcar e álcool, São Paulo é o maior produtor mundial. E a cana, para poder colher a cana manualmente, o cortador de cana, – está aqui uma engenheira agrônoma, neta do Miguel Ignácio -, é preciso queimar, e a queimada polui. Então, o que os nossos Estados todos estão fazendo? São Paulo estabeleceu até 2014 também, acabar a queimada de cana, a mecanização. Bom, e o que faz com o cortador de cana? O mundo moderno ele é muito rápido, ele é muito dinâmico, então acaba o cortador de cana, acabou o emprego. Aliás, o emprego é cada vez mais, no mundo moderno, setor terciário da atividade econômica, que a agricultura mecaniza. Eu sou de uma região de café, pode ser papai, mamãe, compadre, vizinha todo mundo para colher café. Hoje, passa uma máquina, chacoalha e tem uma esteira embaixo que colhe o café. A indústria robotiza, faz procedimentos em série. A Volkswagen tinha 42 mil funcionários, hoje tem 12; 13; 14 mil e fabrica muito mais porque você robotiza, você faz em série. O que mais gera emprego é o setor terciário, que são serviços, educação, saúde – vai ser a grande empregadora do mundo moderno -, turismo, todos os tipos de serviço, comércio.

Mas agricultura, acabou o cortador de cana, mas as máquinas para cortar cana tem uma quantidade de tecnologia embarcada impressionante. Então, nós criamos do lado de Marília, em Pompéia, com a Fundação Shunji Nishimura, do grupo Jacto das indústrias de máquinas agrícolas um curso na Fatec chamado tecnólogo em mecânica de agricultura de precisão – isso só tem em Oklahoma, nos Estados Unidos -, ou seja, não tem mais cortador de cana porque é tudo mecanizado, mas quem é que vai trabalhar com essas máquinas com enorme tecnologia embarcada. Então, surge uma profissão nova, tecnólogo em mecânica de agricultura de precisão. Então, nós vivemos um dinamismo muito grande que eu estou cada vez mais confiante dessa possibilidade de crescer, gerar emprego, oportunidade e preservar o maio ambiente. Aliás, o Brasil é um exemplo para o mundo, aqui está o ministro de Minas e Energia, nós somos o campeão da energia renovável. A cana-de-açúcar, através de cogeração, biomassa, ela gere energia.

O álcool brasileiro, energia limpa, verde, e o carro flex fuel, o bicombustível, é um exemplo para o mundo. Quantos veículos flex fuel tem nos Estados Unidos? Vinte mil? Trinta mil? Não tem nem posto de gasolina para poder abastecer. O Brasil é o campeão mundial do carro flex fuel. Carro flex fuel é álcool. Além da nossa gasolina, tem também álcool, ela é mais limpa. E aqui em São Paulo nós tomamos uma medida prática: na gasolina é 25% de ICMS, no álcool é 12%. Na bomba, ninguém põe gasolina. Todo mundo põe álcool. Carro flex fuel virou álcool. E o consumidor não tem medo, porque se amanhã os usineiros aumentarem o preço do álcool, ele põe a gasolina. Ele tem a faca e o queijo na mão. E eu diria que na questão da sustentabilidade o que mais preocupa hoje, é uma preocupação mundial, é a mudança climática, e mudança climática é eminentemente emissão de gás de efeito estufa, é queimada. E por isso a importância da questão de não queimada na cana de açúcar, é queimada, é emissão de monóxidos de carbono, é combustível fóssil e especialmente nas grandes cidades brasileiras, nas metrópoles.

Diesel de caminhão, diesel de ônibus e gasolina de automóvel. Esse é o grande desafio, o que não é barato, mas é possível avançar. Em São Paulo, os grandes investimentos de metrô e trem, transporte de alta capacidade e na questão da carga. Eu estava vendo agora essa semana a Rodovia Rio/São Paulo. Na carga, ela tem 60% de ociosidade, enorme ociosidade. E aqui eu colocaria uma questão que vai ser importante para os Estados, tanto Mato Grosso do Sul quanto Goiás que é a hidrovia. Levamos ao Governo Federal proposta de investimento de R$ 600 milhões do Governo Federal e R$ 400 milhões no Governo de São Paulo na hidrovia Tietê/ Paraná. Nós temos 2.400 km de hidrovia chegando até Mato Grosso do Sul, do Rio Paraná, que beneficiará também Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso. R$ 1 bilhão vai ser investido alargando as pontes para poder passar grandes barcaças fazendo derrocamento do Rio Paraná no Rio Tietê para poder ir prolongando a hidrovia até Piracicaba, para poder ligar Santa Maria da Serra com a ferrovia. Então nós poderemos ligar o Centro-Oeste até o Porto de Santos sem nenhum caminhão. Todo ele por hidrovia e fazendo o entroncamento com a ferrovia, integração de modais em Santa Maria da Serra, Piracicaba e chegando até o Porto de Santos.

Então eu diria que estamos estimulando a hidrovia, o transporte ferroviário de carga, integrando modais metro-ferroviário nas grandes cidades brasileiras. Nós estamos transportando hoje em São Paulo, só de metrô e trem, seis milhões de passageiros por dia. E deveremos em quatro anos ir para nove milhões de passageiros/dia só metro-ferroviário, metrô e trem. Aliás o Estado de São Paulo responde por 73% dos passageiros transportados de trens e metrô do Brasil. Se a gente pegar todas as capitais brasileiras, pegar todas as cidades brasileiras, dá 27% de passageiros. Nós transportamos 73% dos passageiros e a malha nossa ainda não é tão grande, ela é ferroviária, mais ainda não é metroviária.

Mas quero trazer uma palavra de estímulo: eu acho que a questão da sustentabilidade é absolutamente relevante e nós temos um desafio ainda maior porque as descobertas do pré-sal e a bacia de Santos do pré-sal pega Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo são extremamente importantes e vultosas. E nós temos que ter todos os benefícios do petróleo e do gás natural e, de outro lado, mostrar para o mundo que é possível sim ter desenvolvimento com sustentabilidade. Um enorme espaço na área de energia renovável, seja eólica, seja de cogeração de biomassa, o Brasil é campeão de energias de hidrelétricas e agora de pequenas PCHs e, de outro lado, cuidarmos da emissão de gases de efeito estufa.

E, finalmente, eu deixaria aqui uma sugestão prática no seguinte sentido: recuperar os nossos rios, as nossas matas ciliares, as nossas APPs e uma sugestão, eu levantei aqui o caso de São Paulo, mas que deve ser igual ao de todas as empresas de saneamento do Brasil. Não se deve cobrar imposto de água e esgoto. Então, no Estado de São Paulo, não tem nenhum tributo, nada, nada, nada sobre saneamento básico para a gente poder investir mais em água tratada, levar água de qualidade para as pessoas. 70% do corpo humano é água, está aqui um grande médico, que é o Doutor André Puccinelli, um bebê, quase 80% é água. À medida que nós vamos ficando mais velho, Miguel, nós vamos ficando mais enxutos, não e? Mas água é vida, água é saúde, a gente esquece de tomar água, precisa tomar 1/30 de água: uma pessoa de 60 quilos, dois litros de água, oito copos. Eu sou de 90 quilos, três litros de água por dia. E coletar esgoto… A maior causa da poluição dos rios não é indústria, é esgoto sanitário. Eu vi aqui a Sabesp, pagou o ano passado imposto de renda, PIS, contribuição social, PIS e COFINS: R$ 1 bilhão para o Governo Federal. Ela investe R$ 2,1 bilhões, então metade do que ela investe ela está pagando de imposto. As nossas empresas viraram boas arrecadadoras de impostos. A empresa não é para arrecadar imposto, empresa é para fazer serviços de saneamento, água tratada e esgoto sanitário. Mas, enfim, temos o dever de deixar para as gerações vindouras, nossos filhos e netos um mundo ambientalmente melhor e desenvolvido. Não são incompatíveis, aliás, o papa Paulo VI dizia que o desenvolvimento é o novo nome da paz, porque não há paz verdadeira onde não há oportunidade  para as pessoas. Bom trabalho!