Bancos de leite do Estado coletam em média 1,5 mil litros por mês

Porém, a quantidade é insuficiente para atender à demanda

ter, 05/04/2011 - 18h00 | Do Portal do Governo

Há quatro anos, todas as quintas feiras, a soldado Luciana Julieti Rosa, do 4º Grupamento Sul, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, dedica-se a uma tarefa um pouco diferente daquela normalmente atribuída a um bombeiro. Acompanhada da enfermeira Conceição Miranda Barbosa, do Hospital Regional Sul, ela assume o volante de uma viatura e ambas partem em busca de doação de leite materno na região de Santo Amaro, zona sul paulistana.

Roteiro na mão, geladeira portátil e kits de coleta no carro, as duas recolhem, de casa em casa, a contribuição das doadoras. “Todo leite é bem vindo. A partir do momento em que a mãe apresenta as condições de saúde exigidas e domina as técnicas adequadas de retirada com higiene, ela pode doar”, esclarece Conceição. No outro extremo, na zona leste da capital, o soldado Ronaldo Fava, do 3º Grupamento Leste, faz a coleta, em companhia de uma enfermeira, para abastecer o banco do Leonor Mendes de Barros.

O leite humano não pode ser comprado. Sua doação é voluntária, o que torna fundamental a divulgação e o esclarecimento da população, para que mais mães optem por doar o excedente de seu leite. Os bancos paulistas coletam, em média, 1,5 mil litros por mês, quantidade insuficiente para atender à demanda. O ideal seria pelo menos o dobro dessa quantidade.

“Temos uma média mensal de estoques de 70, 80 litros, mas ainda é insuficiente para as nossas necessidades. Fazemos malabarismos”, declara a pediatra Rosângela Gomes dos Santos, responsável pelo banco de leite do Hospital Regional Sul. “Contamos com a colaboração e solidariedade das mães que estão amamentando e que podem doar. É um gesto simples que ajuda muitas crianças,” apela Maria José Guardia Mattar, coordenadora do banco de leite do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros.

A parceria com o Corpo de Bombeiros favorece os dois bancos de leite, ao disponibilizar viatura e motorista, permitindo que o produto coletado chegue mais rapidamente aos hospitais. “Esse nosso trabalho não é muito conhecido, mesmo por colegas dentro do Corpo de Bombeiros, mas é de extrema importância. Fazemos a coleta na Capital, mas acredito que se o serviço fosse expandido para todo o Estado, o resultado seria excelente”, afirma Fava.

O leite mantido nos bancos de leite são utilizados por bebês prematuros de alto risco, recém-nascidos com peso muito baixo ou portadores de imunodeficiências ou de doenças crônicas. Também recebem o leite doado os bebês cujas mães não podem amamentar por serem soropositivas, por estarem em tratamento medicamentoso, ou por terem sofrido alguma complicação durante o parto, como por exemplo a eclâmpsia e que por esse motivo, estejam na UTI.

Informação e boa vontade

O leite materno atende a todas as necessidades de nutrientes e sais minerais do bebê até os seis meses de idade. É um alimento completo, rico em anticorpos, substâncias que tornam a criança resistente a infecções, e em ferro, que a protege contra anemias. Disso Lucimara Rossini, Christiane Tomé Bergamo e Flávia Valéria da Silva sabem muito bem. Conscientes dos benefícios do aleitamento materno, elas integram o cadastro de mães doadoras do banco de leite humano do Hospital Regional Sul. Além de alimentar os seus bebês, elas doam o excedente para crianças que por algum motivo não podem ser amamentadas.

O cadastro de doadoras do hospital é composto tanto por mães que deram à luz no local e já receberam alta, quanto por mulheres que tiveram seus bebês em outros hospitais, mas que moram ou trabalham na região. Moradora da Chácara Santo Antônio, Lucimara buscou na internet informações sobre como fazer sua doação. Mãe de uma menina de cinco anos e de um bebê de 40 dias, ela afirma: “Sinto-me realizada pela possibilidade de poder ajudar outras crianças”.

Dra. Rosângela explica que, como num círculo virtuoso, o simples ato de amamentar estimula a produção de mais leite. “Se a mãe para de amamentar, o leite seca, porque do contrário não haveria espaço físico no corpo da mãe para acumular o excedente.” Ela adverte: comer mingau, fubá ou tomar cerveja preta,não estimula a produção de leite. E ressalta a importância do esclarecimento e do incentivo, já que muitas mulheres encontram dificuldades para amamentar por apresentam rachaduras no seio, o que torna doloroso o ato do aleitamento. “Elas saem daqui com todas as informações necessárias e técnicas para fazer a ordenha e passam a ter o banco como referência e para esclarecimento de dúvidas”.

Doadora pela segunda vez, Flávia, mãe três filhas, já se considera uma veterana. “O aleitamento materno é algo imprescindível, tenho outras duas filhas que são muito saudáveis e não pegam nem resfriado. Todas as crianças têm o direito a esse benefício”, declara a mãe da pequena Sara, de um mês.

Testes de qualidade 

No banco de leite do Hospital Regional Sul trabalham, além da pediatra Rosângela e Conceição, uma enfermeira, três auxiliares de enfermagem e uma auxiliar de serviços gerais. Ao receber o leite, a equipe realiza testes de acidez, de detecção de bactérias e de quantidade calórica. De acordo com a enfermeira Conceição, os testes são importantes para detectar se o leite doado é apropriado para o uso. E lembra que certa vez, o banco recebeu um leite com elevado grau de acidez, o que indicou que havia mistura com leite de vaca. “Muitas mães – bem intencionadas, mas mal informadas – acreditam que não haverá problemas em misturar um “pouquinho” de leite de vaca para aumentar a quantidade doada”, explica Conceição.

O leite recebido é pasteurizado, aquecido à temperatura de 62,5 º C por trinta minutos e depois resfriado por dez minutos. Cru, o alimento tem validade de até 24 horas, se conservado na geladeira, e de 15 dias no congelador. Pasteurizado, pode durar até seis meses em congelador.

Rosangela comemora o fato de atualmente as mães estarem amamentando mais do que no passado, mas lamenta a falta de divulgação sobre os bancos de leite e a coleta domiciliar. “Por amamentarem mais, elas têm mais leite excedente, mas muitas não sabem o que fazer com o que sobra. A divulgação sobre doação de leite deveria ser como propaganda de coca-cola. Poderia, inclusive, ser feita juntamente com a campanha contra o câncer de mama, já que a amamentação reduz os riscos de desenvolver esse mal”, sugere.

Serviço

Para doar, as mães devem acessar o site www.fiocruz.br/redeblh e localizar o banco de leite mais próximo. Se morar nas regiões Sul e Leste, basta ligar para o Hospital Regional Sul (5694-8207) e o Hospital Leonor Mendes de Barros (2692-4068).

Da Agência Imprensa Oficial