“Defendo a regionalização do Porto”

Em entrevista exclusiva à A Tribuna, o governador Alberto Goldman defendeu a regionalização ou estadualização do Porto de Santos

sex, 29/10/2010 - 12h49 | Do Portal do Governo

Os motoristas que vêm pela Anchieta, na altura do acesso para o Distrito Industrial da Alemoa, têm enfrentado graves problemas. Naquele local, formam-se filas de caminhões que interrompem o tráfego de veículos. Os casos de assaltos são constantes. O que o Estado pode fazer para solucionar o problema de forma definitiva?

O que o Governo de São Paulo pode fazer ele está fazendo – e muito bem. Neste ano concluímos o Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, que deu muito mais fluidez no tráfego de veículos para a Baixada, a maior obra viária realizada no Brasil nos últimos quatro anos. O Sistema Anchieta-Imigrantes recebeu investimento de R$ 1,7 bilhão da concessionária Ecovias, que duplicou 21,3 quilômetros de vias, implantou mais de 8 quilômetros de faixas adicionais, 2 quilômetros de vias marginais, 21 passarelas, uma ponte, 11 viadutos e 8 dispositivos de acesso ou retorno. Mas essa pergunta deveria ser feita ao Governo Federal, porque a grande causa dos gargalos está no Porto de Santos, na lentidão com que são feitas as operações de carga e descarga das mercadorias que movimentam uma parcela muito importante da nossa economia. Há 20 anos defendo a estadualização ou regionalização do porto para agilizar essas obras e melhorar o escoamento de cargas. O PAC prometeu fazer intervenções no Porto e até agora fez quase nada. Os gargalos enfrentados pelos motoristas no Sistema Anchieta-Imigrantes são causados pela falta de investimentos e modernização do Porto, que é de responsabilidade do Governo Federal. Se o Porto operasse com mais eficiência e rapidez, se fosse melhor organizado internamente, se de fato houvesse um projeto de logística, os caminhões não ficariam parados, entupindo as vias de acesso, à espera de autorizações para carregar ou descarregar. A nossa economia andaria mais rápido, seriam gerados mais empregos e os turistas também iriam agradecer por não terem de ficar parados em congestionamentos que roubam horas preciosas de lazer e merecido descanso. E vou provar o que estou dizendo com números. Neste ano, de janeiro a setembro, o Porto movimentou mais de 71 milhões de toneladas de cargas. Em 2009, no mesmo período, foram movimentadas mais de 61 milhões de toneladas. A diferença de um ano para outro é de mais de 10 milhões de toneladas, um volume enorme, e nada, absolutamente nada, nenhum investimento foi feito para que o Porto ficasse mais eficiente. Estamos falando do maior porto da América Latina, do 39º principal porto do mundo em movimentação de cargas, de um porto que está ficando cada vez mais ultrapassado. Quanto à questão dos assaltos, ela também está ligada à lentidão do trânsito, que facilita a ação dos bandidos. Os índices de criminalidade têm caído em todo o Estado desde 1999. Os homicídios dolosos foram reduzidos em 70%. O número de homicídios na Baixada teve em junho deste ano o seu menor índice, um recorde histórico. Também tivemos reduções importantes nos roubos e furtos de cargas e veículos. E não podemos esquecer que estive na Baixada na última quarta-feira (27/10), para entregar 23 viaturas à Polícia Civil da região. É mais um reforço importante para a segurança da população. São Paulo faz, mas o Governo Federal infelizmente rema contra a maré…

Em que estágio está o planejamento do Governo do Estado, em conjunto com o Governo Federal, para a construção do Ferroanel?

Se dependesse do Governo de São Paulo, o Ferroanel estaria em operação. Quando construímos o Rodoanel Mário Covas, já deixamos preparada, ao lado da rodovia, a faixa por onde irão passar os trens. Mas o projeto continua parado porque o Governo Federal não está fazendo a sua parte. O Brasil precisa cada vez mais de ferrovias. A demanda por transporte de cargas é crescente, e somente as rodovias não vão conseguir dar conta. No ano passado houve um aumento de mais de 10% no transporte de contêineres por ferrovias. A infraestrutura do País está cada vez mais precária, mas neste momento o Governo Federal está interessado em investir num projeto caríssimo e desnecessário – o trem-bala -, que vai custar mais de R$ 35 bi. Esse dinheiro poderia ser melhor aproveitado na conclusão da ferrovia Norte-Sul, ou então na construção de mais de 300 quilômetros de metrô nas principais capitais brasileiras. Não existe a certeza de que o trem-bala justificará todo esse investimento, de que trará retorno aos investidores. A população seria mais beneficiada se fossem feitos investimentos em ampliações e reformas dos aeroportos. Uma única passagem no trem-bala, de São Paulo para o Rio de Janeiro, vai custar mais de R$ 200 – e hoje as empresa aéreas já oferecem preços mais em conta para os mesmos destinos.

Há uma antiga reivindicação das indústrias de Cubatão para que se duplique o viaduto Rubens Paiva, tendo em vista que seu acesso representa um verdadeiro gargalo nos horários de pico. O Estado tem planos para atender ao pedido das indústrias do polo?

Aqui voltamos novamente à questão da falta de agilidade nas operações do Porto de Santos, que é a principal causa do problema. É o que provoca o gargalo e faz tudo ficar parado, prejudicando a economia e a tranquilidade da Baixada. O Governo Federal precisa fazer a sua parte, porque São Paulo está agindo, está buscando soluções. É evidente que temos projetos para minimizar o problema. Um deles é a construção de um sistema binário na via Anchieta, incluindo uma nova marginal. Também estamos planejando um viaduto na rodovia Cônego Domênico Rangoni, com uma pista paralela no trecho da Vila Aurea, no Guarujá. Nesse local, inclusive, estamos construindo um viaduto e uma obra para adequar o trevo de acesso ao bairro.

O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) vai resolver ou pelo menos amenizar os problemas de transporte urbano na Baixada Santista?

O VLT vai trazer benefícios, bem-estar e qualidade de vida. Ele será muito mais do que apenas um toque de avanço e modernidade no transporte urbano da região. Com capacidade para transportar 230 mil passageiros por dia, e plenamente integrado a todo o sistema de transporte da Baixada, o VLT vai fazer com que muita gente deixe de se locomover de automóvel no dia-a-dia. Isso vai ser bom para todo mundo. Vão melhorar os índices de qualidade do ar, haverá redução dos ruídos causados pelos automóveis e as viagens ficarão mais rápidas e confortáveis. Por falar em vida mais ágil, eu gostaria de falar do Poupatempo de Santos. Ele atende cerca de 4.200 pessoas por dia – e já realizou mais de um milhão de atendimentos desde 2008, quando foi inaugurado. São coisas assim que melhoram, trazem mais conforto e tranquilidade para as nossas vidas.

O sr. disse, em recente visita à região, que a questão da ponte Santos-Guarujá seria um assunto para o próximo governador resolver. O sr. acredita que essa seja, de fato, uma obra imprescindível e viável economicamente falando?

Nem se discute a importância e os benefícios econômicos que a ponte trará para a Baixada Santista. Ela vai desafogar, organizar e tornar mais rápida e segura a ligação de todas as cidades da região com o Guarujá. Vai acabar aquele transtorno das filas para pegar a balsa. Como a Prefeitura do Guarujá solicitou algumas mudanças no projeto original, só estamos dependendo de um estudo mais amplo de impacto ambiental para que a obra seja iniciada. E o governador eleito, Geraldo Alckmin, já assumiu o compromisso de executá-la.

Que planos o Governo do Estado tem para ampliar a oferta de vagas SUS e em hospitais regionais (como o Guilherme Álvaro) na Baixada Santista?

A Baixada é uma das regiões mais beneficiadas pelos grandes investimentos na saúde que o Governo de São Paulo está fazendo nesta gestão. Em 2010 eles giram em torno de R$ 14 bilhões, e a previsão é de que sejam R$ 15,9 bilhões em 2011. Santos, Praia Grande e Peruíbe já contam com os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs), uma inovação do ex-governador José Serra que está facilitando a vida de todo mundo, acabando com as filas nos hospitais. Ao mesmo tempo, estamos investindo na ampliação e melhora dos serviços prestados pelos hospitais. No Irmã Dulce, da Praia Grande, entre outros investimentos dobramos o número de UTIs adultas, de 10 para 20; de UTIs pediátricas, de 4 para 10; e de UTIs neo-natais, de 6 para 10. Também melhoramos os serviços e o atendimento nos hospitais São José, de São Vicente, o Regional, de Itanhaém, e o Santo Amaro, do Guarujá. Fizemos um acordo com a Prefeitura de Santos, que comprou o Hospital dos Estivadores, que o Estado está tocando. Estamos aguardando a desapropriação de uma área, que está sendo feita pela Prefeitura de Itanhaém, para dobrar o número de leitos do Hospital Regional. Lá também já fizemos grandes investimentos em UTIs e um centro de parto humanizado, além de também atender as áreas administrativas. Ao mesmo tempo, melhoramos o hospital de Mongaguá e estamos colaborando com R$ 8 milhões na construção do Hospital Municipal da Praia Grande. Quanto ao Hospital Guilherme Álvaro, a partir da próxima semana ele fará o atendimento dos exames de ressonância magnética pelo SUS. São 40 exames diários que poderão ser marcados online. E não podemos esquecer do maior projeto de recuperação ambiental do litoral brasileiro, que é o Onda Limpa, do Governo de São Paulo, que apenas na Baixada recebe um investimento de mais de R$ 1,5 bilhão. O Onda Limpa aumenta a coleta e o tratamento de esgotos. Isso é saúde, ajuda no turismo e também atrai novos negócios.

A Baixada enfrentou este ano uma de suas piores epidemias de dengue. Dois terços dos casos com morte registrados em 2010 são da região. O que o Estado pode fazer para minimizar esse quadro?

Todos sabem que os recursos para o combate à dengue são repassados aos Municípios pelo Governo Federal. Sempre que o combate deixa de ser feito num ano, devido à falta de recursos, a epidemia volta no ano seguinte com muito mais força. Por isso, o Governo de São Paulo faz questão de colaborar com as prefeituras. Nos últimos três anos destinamos R$120 milhões para ações de controle da dengue em todo o Estado. Criamos o Esquadrão Contra a Dengue, uma equipe de profissionais que se desloca entre as cidades para eliminar focos de resistência do mosquito adulto. Promovemos a Semana de Combate à Dengue, na qual atuam mais de 10 mil agentes. Nosso Governo age ininterruptamente, promovendo panfletagens, distribuição de adesivos e ímãs de geladeiras com informações importantes. Fazemos palestras, apresentações teatrais e várias outras atividades para disseminar os meios para se combater a dengue. Na Baixada, nossas polícias Civil e Militar têm colaborado para facilitar o acesso dos agentes nas residências, garantindo segurança aos moradores.

O Governo Federal, desde a época de Fernando Henrique Cardoso, vem universalizando o ensino médio, permitindo que um número maior de jovens concluam esse estágio da educação básica. Mas os resultados das escolas públicas de Ensino Médio continuam os piores no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Estado tem planos específicos para melhorar a qualidade desse ensino?

São Paulo não só tem planos, como está fazendo. Temos uma rede pública gigantesca, com mais de 5 mil escolas e 5 milhões de alunos. Os resultados do último Enem mostram que 64% das escolas públicas do Estado estão acima da média. Nosso Estado teve o melhor resultado do Índice de Educação Básica (Ideb) do Ministério da Educação em 2009: 95% das 645 cidades paulistas tiveram notas maiores que a média nacional. Cajuru registrou o maior índice de todo o País – e também nos destacamos pelas três melhores escolas públicas no Ensino Fundamental. É evidente que precisamos melhorar sempre mais – e é nessa direção que estamos seguindo. Nunca se investiu tanto na qualificação e valorização dos professores. Criamos em nosso Governo uma bonificação para os profissionais da Educação que cumprem as suas metas, e a política de Valorização pelo Mérito, que beneficia os professores que se interessam e se dedicam pelo que fazem, que estudam, pesquisam e se esforçam para ensinar mais e melhor. Também aprovamos a gratificação de atividade do Magistério. Além disso, introduzimos programas de ensino que trazem cada vez melhores resultados de aprendizado. E não podemos esquecer o Ensino Técnico e Tecnológico profissionalizante gratuito, que aqui na Baixada também vai preparar a juventude para as oportunidades de emprego que serão oferecidas pelo pré-sal. Neste Governo inauguramos Escolas Técnicas (ETECs), de nível médio, em Itanhaem, Cubatão, São Vicente e Peruibe. Todos os investimentos que o Governo de São Paulo está fazendo na Baixada levam em conta o Pré-Sal, seja em transportes, saúde ou educação. Estamos preparando a região para o seu grande momento de desenvolvimento econômico.

Como o Estado pretende contornar os problemas que vêm surgindo com a Prefeitura de Cubatão quanto à transferência das famílias que ocupam os bairros-cota para outros municípios?

Acredito que vamos chegar a um bom termo com a Prefeitura de Cubatão. Tirar as pessoas das áreas de risco, e levá-las para moradias seguras, é uma questão que se impõe acima de todas as outras, especialmente das partidárias. Vamos garantir qualidade de vida para as 5.350 famílias que hoje moram nos bairros-cota ou em áreas de preservação ambiental da Serra do Mar. O Governo de São Paulo está construindo três bairros em Cubatão, com mais de 3.500 moradias, para abrigar uma boa parte dessa gente: o residencial Rubens Lara, o Parque dos Sonhos e a Vila Harmonia. Também serão oferecidas moradias em outros municípios. Em nosso Governo não há privilégios para aliados, muito menos retaliações quando se trata de adversários políticos. Nós governamos para todos os paulistas.

O que o sr. fará a partir de 2011? Ministro de um eventual Governo Serra ou secretário de Estado do Governo Alckmin?

Não tenho ideia e nem estou preocupado com o que farei no próximo ano. Meu objetivo, neste momento, é cumprir minha passagem como governador de São Paulo. Tenho orgulho de ter uma participação bastante ativa num dos melhores governos que São Paulo já teve. É evidente que vou colaborar com o presidente Serra e com o governador Alckmin, porque afinidades é o que não nos faltam. Pertencemos ao mesmo partido e a uma mesma linhagem de políticos preocupados com a ética, a transparência e a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.