Custo do frete pode dobrar em rodovia ruim

Qualidade de uma rodovia é uma das variáveis com maior impacto sobre o custo

sex, 12/02/2010 - 21h00 | Do Portal do Governo

O custo operacional do transporte de carga feito em rodovias com infraestrutura inadequada pode até dobrar o valor final de um frete. Para empresários e especialistas do setor, o prejuízo das transportadoras com estas viagens em estradas pavimentadas consideradas ruins reflete diretamente no bolso dos consumidores com o aumento dos preços dos produtos e serviços comercializados.

De acordo com o Coordenador Técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Neuto dos Reis, a qualidade de uma rodovia é uma das variáveis com maior impacto sobre o custo. Segundo ele, além do aumento de gastos com combustível, pneus e manutenção, a viagem demora mais e o caminhão realiza menos viagens por mês. “Os gastos no transportes dobram quando se passa de uma rodovia ótima para uma em estado péssimo”, afirmou.

Ainda segundo o coordenador da NTC, o custo dos transportes nas rodovias em boas condições, como as encontradas no Estado de São Paulo, é bem menor do que nos trechos federais, que estão em situação regular ou deficiente. “O custo operacional do transporte nas rodovias federais é cerca de 41% mais caro que nas rodovias estaduais”, informou Reis.

Para o presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC) e vice-Presidente da Confederação Nacional de Transportes (CNT), Newton Gibson, a rodovia que apresenta melhores condições de tráfego, mesmo com a cobrança de tarifas para sua manutenção, é mais vantajosa para as transportadoras e para os consumidores. “Nas rodovias com boa infraestrutura, o custo com a manutenção dos veículos diminui, o número de acidentes é reduzido e a segurança nas estradas aumenta”, afirmou.

Outro ponto positivo analisado pelas transportadoras é a qualidade nos serviços de atendimento ao usuário das estradas. As rodovias concedidas, a exemplo do corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto, do sistema Anchieta/Imigrante e da rodovia dos Bandeirantes, dispõem de avançados sistemas de monitoração e equipamentos como guinchos e ambulâncias. O proprietário da transportadora Expresso Barretos, especializada em transporte de gado, Eduardo Queiroz, acredita que o atendimento eficaz quando há um eventual problema é fundamental para redução dos custos dos fretes. “Quando sai a escala de viagens dos nossos motoristas, eles até brigam para pegar o trecho dentro de São Paulo onde ficam as melhores estradas”, contou.

Queiroz também mencionou dois trajetos feitos pela empresa para exemplificar a variação do custo do frete conforme a qualidade da rodovia. Segundo ele, uma viagem, de cerca de 600 quilômetros, de Barretos a Caraguatatuba por rodovias estaduais, já somando tarifas de pedágio, custa 30% menos do que uma viagem de mesma distância para a cidade de Rio Verde, em Goiás, por estradas federais.

O administrador de logística da transportadora Mudanças TransCapital, Márcio Vegas, também não tem dúvidas sobre as vantagens de utilizar rodovias em condições favoráveis de tráfego. Ele explicou que a empresa utiliza o tempo de viagem como principal determinante no valor do frete. “Nós fazemos o cálculo principalmente com base no tempo de viagem e quanto melhor o estado de uma rodovia, menos tempo a gente leva. Uma hora a mais que perdemos faz uma diferença muito grande no preço final”, afirmou. Segundo Vegas, em trechos ruins o transporte de uma mudança pode demorar até três horas a mais que o previsto e, assim, a viagem pode ser adiada para o dia seguinte, o que gera custos maiores para a transportadora e para o cliente.

Alguns caminhoneiros autônomos, apesar de terem que arcar com os custos do pedágio, preferem as rodovias em boas condições, principalmente, por causa da segurança. É o caso do autônomo Bento Ariovaldo Triveli, que faz o transporte de madeira. “Os buracos e a situação precária prejudicam o caminhão, além da questão da segurança que é muito importante”. O presidente da Cooperativa de Caminhoneiros Autônomos de Botucatu, Rubens Pereira, também acredita que as rodovias boas, mesmo com cobrança de tarifas, são preferíveis porque diminuem o número de acidentes, oferecem socorro imediato e reduzem os roubos de carga.

O autônomo Carlos Roberto Mendes, que transporta principalmente produtos eletrônicos, concorda que a rodovia com melhor condição de tráfego gera uma despesa bem menor. No caso dele, os valores dos fretes cobrados das empresas são os mesmos, independente da rodovia utilizada. Assim, o prejuízo com a manutenção do caminhão quando a estrada é ruim é apenas do autônomo. “Viajo o Brasil todo. As rodovias do Nordeste, por exemplo, não têm boas condições para o transporte de carga. Já as de São Paulo, como a Bandeirantes, Castelo Branco e Imigrantes são as melhores”, disse.

O aumento do custo do transporte não é o único fator negativo ocasionado pelas rodovias de baixa qualidade. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), sob o ponto de vista ambiental, as rodovias deterioradas geram impacto ao fazerem com que os veículos consumam mais combustíveis com acelerações e frenagens não eficientes, o que provoca uma maior emissão de poluentes. Isto se dá pelo fato do consumo de combustíveis ter uma relação potencial inversa com a velocidade de circulação do veículo, ou seja, ele aumenta muito quando a velocidade se reduz.

Este aumento no consumo de combustível gerado na rodovia deteriorada, além de prejudicar o meio ambiente, causa impacto na economia. Conforme um estudo feito na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP), citado pela CNT, o tráfego de um caminhão em uma rodovia com excelente pavimento pode implicar em uma economia de até 5% no consumo de combustível. Em 2008, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o consumo de óleo diesel no país foi de 44,8 bilhões de litros. Caso houvesse uma redução de 1% de todo o óleo diesel consumido, isto equivaleria a 447,6 milhões de litros, que, ao preço médio de R$ 1,993 por litro (08/08 a 15/08/09) implicaria uma economia de R$ 865,3 milhões. No caso de uma redução de 5% no consumo, a economia total seria de R$ 4,3 bilhões.

Cargas perigosas dependem de rodovia apropriada

Se para a carga comum já é necessário uma rodovia de boa qualidade, para o carregamento de produtos químicos condições adequadas de tráfego são ainda mais imprescindíveis para que o transporte seja feito com segurança.

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias Químicas e Petroquímicas do Estado de São Paulo e diretor do departamento de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Nelson dos Reis, o transporte de produtos químicos exigem uma atenção dobrada e, para isso, dependem da boa condição do pavimento e da qualidade dos serviços prestados ao longo da rodovia para garantir a segurança. “É fundamental evitar ao máximo a possibilidade de ocorrência de acidentes e danos ambientais. A carga química oferece muito mais riscos”, disse.

Segundo Reis, o socorro apropriado às vítimas e o atendimento eficaz contra a propagação dos vazamentos quando ocorre um acidente são oferecidos, geralmente, em rodovias com infraestrutura apropriada. “O atendimento e o acionamento do corpo de bombeiros são mais ágeis nas boas rodovias, além dos acessos para os locais de acidentes serem mais fáceis”, afirmou.

Para o presidente do Sindicato, as rodovias do estado de São Paulo estão totalmente preparadas para o transporte de carga perigosa. Já nas federais, as transportadoras encontram limitações. “É complicado transportar carga perigosa em rodovias inadequadas”, disse.

Pesquisa revela condições das rodovias brasileiras

Realizada desde 1995, a Pesquisa CNT de Rodovias chegou a sua 13ª edição, em 2009, como uma referência no setor de transportes. Além de identificar os corredores com maior importância para o país, a pesquisa contribui para a definição de políticas públicas adequadas para o setor.

De acordo com os resultados de 2009, a região sudeste é detentora dos maiores percentuais de trechos classificados como ótimo ou bom. São Paulo é o Estado que mantém as dez melhores rodovias brasileiras, segundo a pesquisa. Os três primeiros lugares correspondem ao Corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto, seguido da ligação São Paulo – Limeira (Rodovias dos Bandeirantes e Washington Luis) e do Sistema Anchieta – Imigrantes. Todas fazem parte do Programa de Concessões Rodoviárias do Governo do Estado de São Paulo, que investe R$ 20, 4 bilhões nas rodovias paulistas.

A pesquisa da CNT também mostrou que, das únicas 16 rodovias classificadas como “ótimas”, 15 são paulistas e também fazem parte do Programa. Para efeito de comparação, o trecho São Paulo – Belo Horizonte é feito pela BR 381 – rodovia não concedida. A estrada aparece em 22º lugar no ranking da CNT, avaliada como “Boa”. Já o trecho entre São Paulo e Campinas – feito pela Rodovia dos Bandeirantes (SP 348) – está na 2ª posição do ranking, avaliado como “ótimo”.

Da Secretaria de Comunicação