Artigo publicado por Zilda Arns na revista Saúde São Paulo

Os voluntários são as pessoas mais importantes do Brasil

sex, 15/01/2010 - 14h39 | Do Portal do Governo

Desde jovem, gostava de brincar e cuidar de crianças enquanto os pais assistiam às missas. Fui catequista e sempre que podia ensinava um pouco do que eu sabia. Posso dizer que forma minhas primeiras ações voluntárias.

Na adolescência, minha vocação para a medicina se fortaleceu e, aos 16 anos, estava decidida a ser médica missionária. Queria ir até os lugares mais distantes na Amazônia ou para as favelas nas grandes cidades. Depois que ingressei na faculdade de medicina, comecei a atuar como voluntária no Hospital de Crianças César Pernetta, em Curitiba (PR), onde trabalhei como médica por muitos anos.

Ser voluntário é um meio de realizar uma missão, reavivar os valores humanitários e agir em comunhão com as pessoas. A responsabilidade pelo bem estar das crianças, famílias, comunidade e pelo desenvolvimento do nosso país é de todos. Precisamos agir de forma articulada e intersetorial para superar os problemas e dificuldades para que todos brasileiros possam ter vida plena. Como consta no artigo 227 da Constituição: “É dever da família, sociedade e Estado assegura à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, ao lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária. Além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Hoje, a Pastoral congrega uma legião de voluntários. São 270 mil pessoas levando mais saúde e vida para 1,9 milhão de crianças e 97 mil gestantes do Brasil. Estamos presentes em 4.082 municípios e 43 mil comunidades.

Essa história começou em 1982, quando meu irmão, o então Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, contou-me sobre a reunião das Organizações das Nações Unidades (ONU), realizada em Genebra, na qual líderes mundiais discutiam sobre a pobreza e paz. Foi nessa ocasião que James Grant, o diretor executivo do UNICEF, convenceu Dom Paulo que a Igreja Católica poderia ajudar a salvar milhões de crianças se ensinasse as mães a prepararem e usarem o soro oral.

Logo em seguida, recebi um telefonema de Dom Paulo contanto sobre o desafio que fora lançado e convidando-me a criar uma proposta e metodologia com o objetivo de diminuir a mortalidade infantil por meio da ação da Igreja Católica. A Pastoral começou a ser estruturada a partir desse momento.

Depois de 24 anos de trabalho e dedicação, acompanhamos hoje 20% das crianças brasileiras pobres, mas gostaríamos que fossem todas. Nosso país ainda é um dos com maior desigualdade social. Milhares de crianças morrem antes de completar um ano de idade, e em várias regiões há dificuldade de acesso aos serviços básicos de saúde e educação de qualidade. A violência doméstica contra crianças e adolescente deixa marcas para toda a vida. Uma Pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) comprova, entre outras coisas, que crianças maltratadas antes de completarem o seu primeiro ano de vida têm significativa tendência à violência e até à criminalidade.

Para conseguir minimizar esses problemas, além de exigir melhores políticas públicas principalmente nas áreas de saúde e educação, temos que sensibilizar mais pessoas a atuarem como voluntárias. Para isso, é muito importante o apoio dos governos estaduais, prefeituras, empresas e organizações sociais. Muitos querem trabalhar voluntariamente naquilo que acreditam, com amor, sabendo onde se quer chegar e como atingir os objetivos.

Os voluntários da Pastoral são motivados pela mística de fé e vida, que impulsiona a organizar as redes de solidariedade nas comunidades pobres, onde são realizadas as ações básicas de educação integral das famílias e promoção da vida. Além disso, todos são capacidades em cursos, e suas atividades e resultados são acompanhadas.

A experiência da Pastoral mostra que a solução dos problemas sociais depende da valorização do tecido social, do potencial de cada pessoa, especialmente dos líderes, agentes da transformação social da comunidade e qualidade das políticas públicas voltadas para os mais pobres. A construção de uma sociedade fraterna, na qual haja justiça, é responsabilidade de cada um de nós, de nossas atitudes. E isso começa na nossa casa.

Dra. Zilda Arns Neumann