IB vê perda da eficiência de fungicida usado na mancha marrom de Alternaria

Estudo confirmou resistência da doença ao fungicida no Sudoeste Paulista, nova região produtora de citros em São Paulo

sex, 20/07/2018 - 12h37 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto Biológico (IB-APTA) e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) constataram que as estrobilurinas, fungicidas mais eficazes e utilizados no país para o controle de mancha marrom de Alternaria, não vêm sendo mais eficientes no controle da doença em vários pomares comerciais de tangerinas e tangores (tangor ‘Murcott’) localizados no Sudoeste paulista.

Estudos realizados com o fungo responsável pela doença nesses pomares confirmaram a sua resistência ao fungicida. O Sudoeste do Estado de São Paulo é a nova região produtora de citros paulista, respondendo por 18,6% da área total dos pomares adultos de São Paulo e Minas Gerais e 29% da produção, segundo dados da Fundecitrus.

A constatação da resistência do fungo às estrobilurinas deverá provocar alterações nas recomendações oficiais feitas para o manejo da mancha marrom de Alternaria. Pesquisadores estudam se resistência também ocorre em outras regiões produtoras.

De acordo com Eduardo Feichtenberger, pesquisador do IB, a mancha marrom de Alternaria é provocada pelo fungo Alternaria alternata, que afeta tangerinas, tangores e tangelos, causando queda das folhas, seca de ramos, lesões e queda dos frutos.

“A doença afeta também a cosmética dos frutos, reduzindo seu valor comercial quando eles são destinados ao mercado de fruta fresca. Quando a infecção ocorre em frutos na fase final de desenvolvimento, uma única lesão pode ocasionar sua queda prematura. O produtor pode ter uma safra praticamente pronta, com alta expectativa de comercialização, mas se a doença ocorrer, pode ter boa parte da safra perdida em questão de dias”, explica. As variedades comerciais de citros mais afetadas pela doença no Brasil são ‘Tangor ‘Murcott’, Tangerina ‘Ponkan’ e Tangerina ‘Dancy’,

A melhor alternativa seria, segundo Feichtenberger, a utilização de variedades ou cultivares de tangerinas e híbridos de citros resistentes ou tolerantes à doença, como a cultivar IAC 2019Maria, desenvolvida pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA). Lançada em 2018, a IAC 2019Maria é a primeira tangerina desenvolvida no Brasil, tem resistência à mancha marrom de Alternaria, o que reduz os custos de produção e os impactos ambientais da cultura por reduzir ou até mesmo eliminar a necessidade de pulverizações para controle da doença, e é altamente produtiva.

“Contudo, a substituição de variedades em pomares está sujeita a restrições de ordem comercial, pois tangerinas como a ‘ponkan’ e o tangor ‘murcott’, que são muito suscetíveis à doença, são também as variedades mais comercializadas no País e as preferidas dos consumidores brasileiros”, afirma Feichtenberger. Outra boa alternativa seria a melhor utilização dos fungicidas à base de cobre no manejo químico da doença.

Manejo químico

O manejo químico da doença pode ser realizado com fungicidas de vários grupos químicos, como as estrobilurinas, os cúpricos, as dicarboximidas, os triazóis e os ditiocarbamatos. Para driblar a resistência às estrobilurinas, Feichtenberger recomenda que os citricultores otimizem em seus pomares a utilização de fungicidas à base de cobre no controle da doença.

De acordo com o pesquisador, esses fungicidas já vêm sendo muito usados, porém será essencial otimizar a sua utilização, compatibilizando as doses dos produtos com as melhores épocas e intervalos de aplicação, além de melhorar a metodologia de aplicação, fazendo as pulverizações com baixo volume de calda fungicida, que deve ser estabelecido com base no volume tomado pela copa das plantas.

“Doses menores de cobre podem ser usadas nas aplicações desde que os intervalos entre as pulverizações também sejam reduzidos. Como os fungicidas cúpricos somente apresentam ação preventiva e de contato, a redução no intervalo entre as aplicações contribuirá para também reduzir o período em que os órgãos suscetíveis da planta ficam desprotegidos da ação dos produtos, principalmente no caso dos frutos novos em desenvolvimento, pois os novos tecidos formados após uma pulverização e até a aplicação seguinte estarão desprotegidos e, portanto, sujeitos a infecções pelo fungo”, explica o pesquisador do IB.

Esta recomendação é viável atualmente, pois os produtores já realizam pulverizações nos pomares para o controle do HLB, do cancro cítrico, da pinta preta e de outras doenças e pragas da cultura. “Quando essas doenças ainda não afetavam a citricultura brasileira, esse tipo de recomendação apresentava restrições de ordem econômica, por encarecer demais os custos de produção. Hoje, isso não mais ocorre, pois as pulverizações frequentes nos pomares para o controle conjunto de várias doenças e pragas já são realizadas e os seus custos já foram absorvidos pelos citricultores”, afirma.

As pulverizações feitas com baixo volume de calda cúprica também irão evitar o escorrimento do excesso de calda e, consequentemente, o seu acúmulo no solo, como já vem ocorrendo em muitos casos nas pulverizações cúpricas feitas com altos volumes de calda. “Como o cobre não é facilmente degradado no solo, as concentrações de cobre acumulado em sucessivas aplicações podem atingir níveis elevados, que são tóxicos às raízes das plantas cítricas”, explica.

O pesquisador do IB ressalta que dentre as principais medidas de controle da doença, as mais importantes são a utilização de mudas sadias em novos plantios e replantios; seleção de áreas para o plantio, evitando aquelas com má circulação de ar, como as baixadas, e reservando as áreas mais altas e arejadas para o cultivo de cultivares suscetíveis; realização de podas de limpeza na parte interna da copa das plantas para melhorar as condições de aeração das plantas e a remoção de ramos secos, que se constituem em importantes fontes de inóculo (focos da doença); a manutenção das plantas em boas condições de nutrição e sanidade; e a pulverização das plantas com fungicidas que apresentam eficácia no controle da doença.

Em regiões onde o fungo ainda não adquiriu resistência às estrobilurinas várias estratégias antirresistência devem ser tomadas, como reduzir ao mínimo o número de pulverizações com esses fungicidas; respeitar sempre nas aplicações as épocas, doses e intervalos recomendados; misturar ou alternar fungicidas de diferentes grupos químicos, ou seja, fungicidas que apresentem diferentes mecanismos de ação contra o fungo.