Bibliotecas Vivas: conhecimento e diversidade ao alcance de todos

Equipamentos do governo do Estado de SP se tornam, cada vez mais, espaços de integração da comunidade, de crianças a adultos

seg, 29/10/2018 - 16h38 | Do Portal do Governo

Nas últimas décadas, as bibliotecas estão assumindo um papel transformador nas sociedades do mundo todo. Uma das principais mudanças é o papel do público, e isso acontece também no Brasil. Antes vistas apenas como usuárias passivas, as pessoas agora assumem a postura de partícipes nesse processo.

Essa é a opinião de Pierre André Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras, organização social de natureza cultural sem fins lucrativos, engajada em ações para difundir o gosto pela leitura em todos os segmentos da população.

A instituição também é responsável pela gestão de uma parte das ações da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, vinculadas à Unidade de Difusão Cultural, Bibliotecas e Leitura (UDBL).

Entre suas principais funções está o gerenciamento e a produção das atividades do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo (SisEB), formado por mais de 800 bibliotecas públicas e comunitárias dos municípios paulistas. O sistema tem como missão estimular e apoiar as bibliotecas de acesso público do Estado na democratização da informação, do livro e da leitura.

Nesse universo de bibliotecas geridas pelo SisEB, duas se destacam por apresentarem um conceito inovador na área, a Biblioteca de São Paulo (BSP) e a Biblioteca Parque Villa-Lobos (BVL), ambas na capital, que funcionam como laboratórios do conceito Biblioteca Viva.

“Esse é o ovo de Colombo, um conceito que é referência no mundo. Nossa missão é definir qual deve ser o papel das bibliotecas públicas. É um serviço que provoca um grande impacto social com investimento relativamente baixo. Esses equipamentos devem ser centrados na comunidade, servir às pessoas como mediadores culturais, utilizando seu acervo para isso”, diz Ruprecht.

Uma das principais ações da SP Leituras nesse sentido é o Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias (Seminário Biblioteca Viva), que busca inspirar, fortalecer e transformar em centros de referência cultural as mais de 800 bibliotecas existentes nos municípios paulistas.

Há dez anos, o evento reúne profissionais de biblioteca para discutir os desafios do setor, apresentando experiências nacionais e internacionais das melhores práticas da área para ampliar o conhecimento e a visão dos gestores públicos e dos profissionais que atuam nas bibliotecas de São Paulo e do país.

Na última edição do Seminário, em 2017, durante um debate sobre como unir e potencializar bibliotecas populares, comunitárias e públicas, a educadora Bel Santos disse que um dos maiores desafios é a criação de leitores sustentáveis. Na visão dela, as crianças gostam de ler, o hábito é incentivado na escola, mas na vida adulta esse prazer muitas vezes é perdido.

“As pessoas têm que compartilhar a leitura, pertencer a uma família literária. Temos que multiplicar as rodas de leitura e trocar raízes com a comunidade para formar leitores por toda a vida. E sem política pública não teremos um país de leitores”, afirmou a educadora, que atua na área desde os anos 90.

Marca de 1 milhão de visitantes

A boa notícia é que esse movimento de incentivo à leitura parece estar surtindo efeito. Recentemente, a BVL atingiu a marca de 1 milhão de visitantes desde que foi criada, em 2015. De acordo com Ruprecht, tanto ela como a BSP, que surgiu em 2010, recebem em média 27 mil visitantes por mês, número muito superior ao esperado quando o equipamento foi concebido.

“Ambas as bibliotecas têm crescido de público sistematicamente. Em 2010, quando criamos a BSP, a expectativa era de receber cerca de 5 mil pessoas por mês, mas desde o começo a média gira em torno de 25 mil pessoas. Isso deixou claro que quando oferecemos um serviço de qualidade, a resposta aparece. Hoje registramos um perfil de público que não frequentava bibliotecas, uma prova que está havendo difusão da leitura”, comenta o diretor executivo da SP Leituras.

Outro aspecto curioso é a diferença do perfil notado entre as pessoas que frequentam as bibliotecas durante a semana e aos fins de semana. Segundo o dirigente, nos dias de semana o público é menor (embora crescente), formado principalmente pelos moradores das comunidades do entorno do parque. Já no fim de semana, o Villa Lobos atrai gente de outras regiões, principalmente famílias de renda baixa/média em busca de opções de entretenimento.

Nesse aspecto, as Bibliotecas Vivas se consolidam cada vez mais como espaços de integração de pessoas e de acesso à informação e leitura, possibilitando a construção de conhecimento autônomo, avalia Ruprecht: “São pontos de contato entre as comunidades e a produção literária. Um local seguro para a diversidade, onde se conhece pessoas e experimenta-se a ótica de diferentes culturas.”

O secretário de Estado da Cultura de SP, Romildo Campello, reforça a importância dessa iniciativa: “A BSP e BVL são finalistas de prêmios mundiais da categoria, porque colocam em pratica o conceito de Biblioteca Viva. O papel do profissional mudou, é um espaço de construção de conhecimento, de acesso à informação. E esse conceito chega aos municípios através do SisEB. Em algumas cidades, o único equipamento cultural é a biblioteca.”

Transformações da era digital

Uma das questões envolvendo o papel das bibliotecas na sociedade é como será o impacto provocado pelas mudanças constantes da era digital. No início de outubro, o SisEB promoveu uma palestra com a especialista francesa Agathe Kalfala que lotou o auditório da Biblioteca de São Paulo. O intuito foi compreender melhor a relação entre adolescentes e esses espaços de leitura, aprendizado e cultura.

Para a especialista, conhecer os anseios desse público é fundamental para esse objetivo. “Quando digo que os adolescentes já leem, digo porque temos, muito rapidamente, a impressão que eles não leem nada. Oras, eles leem! Eles só não leem aquilo que para nós, adultos, é referência”, afirmou a coordenadora da associação Lecture Jeunesse, sediada em Paris.

Ruprecht acrescenta ainda que a biblioteca deixa de ser uma prateleira com livros para se tornar um espaço de informação e conhecimento, um mediador cultural, com destaque para o profissional dessa área, que deve ganhar ainda mais importância nos próximos anos.

“Nosso papel é principalmente ajudar as pessoas a tirarem o melhor proveito do espaço e tudo o que ele oferece. Em uma pesquisa recente sobre as 30 profissões mais importantes do futuro, o profissional da biblioteca está lá”, completou.